Os alarmes soaram e as populações foram avisadas para se manterem em casa durante a maior parte do dia na província de Sofala, a mesma onde há cerca de dois anos o ciclone Idai deixou um rasto de destruição que ainda hoje o país tenta apagar: temia-se que a tempestade Chalane fosse um “novo Idai” mas felizmente o medo foi maior que a realidade.
“Está tudo relativamente tranquilo. Houve alguns telhados que voaram e algumas casas estão danificadas. As notícias da Beira dão conta de 4 mortes”, mas ainda não há confirmação oficial deste número, referia ao início da tarde Ana Pinto de Oliveira, em declarações à VISÃO. A médica de saúde pública e coordenadora de projeto da Médicos do Mundo em Moçambique está no terreno há várias semanas, e garantiu ainda que amanhã, dia 31, vão ser avaliados os estragos feitos no campo de reassentamento que aquela ONG lidera desde que o Idai deixou sem teto quase 100 mil pessoas, em março de 2019.
“Penso que foi mais o medo de um novo Idai”, que se fez sentir do que a própria tempestade, referiu ainda aquela responsável, que continua a liderar uma equipa que apoia centenas de pessoas.
Recorde-se que há cerca de dois anos o ciclone Idai – considerado o pior da história de Moçambique – atingiu a zona central do país deixando cerca de mil mortos e dezenas de milhares de desalojados. A destruição dos campos num país onde a maior parte das famílias faz uma agricultura de subsistência agravou ainda mais as carências alimentares da população, com a ONU a fazer sucessivos apelos para as dificuldades das crianças moçambicanas. Milhares estão subnutridas e milhões de cidadãos correm risco de carência alimentar.
Numa altura em que a violência em Cabo Delgado também não dá sinais de abrandamento, a maior preocupação é com o abrigo e a alimentação de um povo que do nada tenta fazer pouco para continuar a sobreviver.
No seu relatório diário, o Gabinete para a Coordenação dos Assuntos Humanitários da ONU alertava ainda para o facto de as alterações climáticas estarem a colocar em risco uma grande fatia da população daquele país, um agravamento de que muitas vezes os países mais desenvolvidos se esquecem, e que tem efeitos gravíssimos nas economias mais pobres do planeta.