O presidente da China Xi Jinping propôs, no passado sábado, durante a conferência virtual do G20, a criação de um sistema global de código QR que permita monitorizar o movimento de pessoas entre países.
“Precisamos de harmonizar ainda mais as políticas e estabelecer ‘caminhos rápidos’ para facilitar o fluxo ordenado de pessoas”, disse Jinping na esperança de sensibilizar as potências reunidas no evento.
De acordo com o presidente chinês, os códigos QR – uma tecnologia com a aparência de códigos de barras bidimensionais que permite digitalizar informações a partir de smartphones – podem ser usados para reconhecer “certificados médicos que tenham como base os resultados do teste [de amplificação] de ácido nucleico”.
Jinping não avançou quaisquer detalhes sobre o funcionamento deste “mecanismo global” ou o seu nível de semelhança face às aplicações chinesas em voga, que utilizam códigos QR para registar possíveis contágios no país.
A reabertura de corredores de viagem continua a ser um desafio para a maioria dos governos, com picos no número de infetados a impossibilitarem o levantamento de restrições de viagem.
Contudo, a sugestão de Ji Jinping gerou ondas de indignação no plano internacional. O diretor do Human Rights Watch Kennet Rotg acredita que a tecnologia chinesa pode esconder outros fins, além da monitorização de cadeias de transmissão.
“Um foco inicial na saúde pode facilmente tornar-se num cavalo de Troia para controlo político e exclusão mais amplos”, defendeu Rotg, à BBC.
Múltiplas apps de rastreio de cadeias de SARS-CoV-2 têm sido deixadas de parte devido a preocupações com a privacidade dos cidadãos, especialmente nas democracias de Este. Allison Gardner, professora de ciências informáticas na Universidade de Keele, na Inglaterra, afirma que as populações do Reino Unido e de França se mostraram relutantes em utilizar aplicações anti-coronavírus quando descobriram que as suas informações pessoais eram armazenadas externamente, em vez de no seu telefone.
Adicionando a estes fatores o crescente receio da comunidade internacional em relação à tecnologia de monitorização chinesa, é provável que se levantem algumas questões em relação ao funcionamento de um eventual sistema – de utilização global – criado e coordenado pelo governo de Pequim.
Durante a conferência G20, o presidente apelou ainda à reabertura da economia global, fazendo referência direta à restauração das “cadeias de abastecimento globais e industriais” e à “liberalização do comércio de produtos médicos essenciais”.