“Nós não temos voluntários que são pagos na Cruz Vermelha. O que se fez foi o seguinte: disciplinou-se o funcionamento de diversos serviços e algumas regalias que existiam. Contrariamente àquilo que querem insinuar, mobilizámos incentivos e vamos continuar a mobilizar incentivos para os voluntários”, garantiu Arlindo Soares de Carvalho.
O presidente da Cruz Vermelha de Cabo Verde falava em conferência de imprensa, na cidade da Praia, um dia após três ex-presidentes da instituição – Dariu Dantas dos Reis, Eloisa Borges e Mário Moreira — terem sido recebidos pelo Presidente da República, Jorge Carlos Fonseca, para, entre outros assuntos, denunciar pagamentos a cerca de 10 voluntários.
Para sustentar a sua posição, Dariu Dantas dos Reis, porta-voz dos ex-presidentes, deu conta de uma carta anónima publicada nos jornais cabo-verdianos, para dizer que isso fere os princípios do voluntariado e dá um rumo não desejável à sociedade nacional.
O atual líder da instituição filantrópica, descreveu a carta como um “panfleto”, ao qual não reagiu por entender que foi escrita por “pessoas covardes” que foram expulsas dos órgãos sociais da Cruz Vermelha durante a última assembleia-geral, realizada recentemente.
Quanto aos ex-presidentes, disse que a motivação para as denúncias tem a ver com a descoberta de ilegalidades praticadas na gestão durante a presidência da organização humanitária, existente no país há 45 anos.
“Nós não temos dúvidas, aliás a fonte é o panfleto, que não fala a verdade. E quem está por detrás do panfleto são pessoas que foram corridas da Cruz Vermelha”, notou Arlindo Carvalho, considerando que, em vez de irem à Presidência da República, os ex-dirigentes deviam ir falar primeiro com a atual direção.
“Até porque íamos ceder o acesso aos dossiês para conheceram e todas as decisões tomadas aqui são colegiais”, afirmou o presidente da Cruz Vermelha de Cabo Verde, sublinhando que muitas coisas não andavam bem na instituição, e a atual direção, eleita em 2017, tomou decisões.
O responsável deu como exemplo a questão das dívidas, que ascendem a 300 milhões de escudos (2,7 milhões de euros), apenas desde 2012, no mandato de Mário Moreira, que exerceu funções até 2017.
E na presidênncia de Eloisa Borges, disse, em 2009 foi contratada uma empresa estrangeira para desenvolver uma plataforma de informática dos jogos, que foi paga a 100% e que até hoje essa plataforma não existe, com prejuízos de mais de 520 milhões de escudos (4,7 milhões de euros).
“Esta direção elegeu esse dossiê como prioritário e conseguimos levar o processo avante e já há uma sentença no Tribunal de Lisboa que deu razão à Cruz Vermelha de Cabo Verde e estamos na fase seguinte”, disse Carvalho.
Quanto a Dariu Dantas dos Reis, disse que fazia parte do Comité de Ética da Federação Internacional, mas estranhou o facto de não ter seguido o funcionamento da sociedade nacional e de não ter chamado atenção a essas pessoas.
Relativamente aos novos estatutos da Cruz Vermelha, o presidente disse que devem ser revistos de 10 em 10 anos, e que foram amplamente discutidos na última assembleia geral, seguindo agora para o Governo para tomarem corpo em forma de lei.
Nos últimos três anos de mandato, Arlindo de Carvalho afirmou que a atual direção tem vindo a resolver “heranças pouco simpáticas” de vários anos, mas também tem procurado montar uma visão nova para a instituição, congregando voluntários, funcionamento dos conselhos locais, separação dos órgãos.
Por todo o exposto, Arlindo Carvalho disse estranhar as posições dos antecessores, o contexto em que foi feito, com o país a enfrentar uma crise humanitária por causa da pandemia da covid-19, entendendo que esses assuntos devem ser tratados nos órgãos próprios da instituição.
Arlindo Carvalho referiu que os resultados das auditorias à gestão de anteriores presidentes foram enviados à Federação Internacional da Cruz Vermelha, na Suíça, e que processos movimentados contra ex-dirigentes por ilegalidades encontradas na gestão do património financeiro da Cruz Vermelha já estão em tribunal e que outros vão seguir.
“Na Cruz Vermelha não há espaço para política. Não vamos aceitar que alguém venha fazer política em termos de princípios ideias, filosóficos e ideológicos ou mesmo práticas religiosas ou sindicais”, afirmou.
O primeiro presidente da Cruz Vermelha de Cabo Verde foi Aníbal Lopes da Silva (1975 a 1977) seguindo-se depois Dariu Dantas dos Reis (1982 e 1990), Eloisa Borges (1990 a 2011) e Mário Moreira (2011 a 2017).
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