Desde o início da pandemia já foram realizadas inúmeras experiências com diferentes animais, de modo a entender como os seus anticorpos respondem ao novo coronavírus.
Um estudo publicado este mês na revista Cell, por investigadores da Universidade do Texas, em Austin, e da Universidade de Ghent, na Bélgica, um estudo que explica como os anticorpos presentes no sangue de um lama fêmea foram eficazes no combate e na neutralização da Covid-19, permitindo assim utilizar, antes de administrar uma vacina, os anticorpos para a prevenção.
A pesquisa e a investigação aos anticorpos dos lamas não é recente. Segundo o The New York Times, os anticorpos dos lamas já foram utilizados e testados para encontrar soluções para o vírus HIV e influenza, e ajudaram a descobrir terapias promissoras para o tratamento destas doenças. Mas estas não são as únicas que os anticorpos dos lamas conseguem combater.
Winter é um lama fêmea de quatro anos, que foi escolhido, em 2016, quando esta tinha apenas nove meses, pelos investigadores belgas, para participar numa serie de estudos realizados ao SARS-CoV-1 e ao MERS-CoV. Na altura, os cientistas descobriram que os seus anticorpos conseguiam neutralizar estes vírus num período de seis semanas.
Quando o novo coronavírus surgiu e se espalhou pelo mundo, os autores do estudo entenderam que assim como os anticorpos dos lamas conseguiram, no passado, neutralizar outros vírus, provavelmente também conseguiriam combater o SARS-CoV-2.
Os anticorpos produzidos pelo corpo humano são representados por um Y e são compostos por dois tipos de cadeias: as pesadas (representadas por um H, do inglês heavy), que percorrem todo o Y e as leves (representadas por um L, do inglês light), que apenas estão presentes nos ‘braços’ do Y. Quando um vírus se instala na corrente sanguínea, produz um tipo de proteínas, ou antigéneo, que vai desencadear a resposta imunitária ou de defesa do organismo.
A particularidade encontrada nos lamas é que estes produzem dois tipos de anticorpos. Um destes é semelhante ao dos humanos em tamanho e em composição. O outro, apesar de também ser representado por um Y é muito menor que o primeiro, tendo apenas 25% do tamanho. Este anticorpo mais pequeno é fundamental pois consegue penetrar-se em partes menores da proteína Spike, algo que os anticorpos humanos não conseguem fazer. Este anticorpo é mais eficaz na neutralização do vírus.
Os anticorpos dos lamas, segundo o Dr. Xavier Saelens, da Universidade de Ghent e autor do estudo, são manipulados mais facilmente, podendo ser fundidos com outros anticorpos, como o dos os humanos, e permanecerem estáveis.
Além desta particularidade, existe em todos os camelídeos – que inclui alpacas, guanacos e dromedários – e nos tubarões, mas estes “não são um ótimo modelo experimental e são muito menos fofos que os lamas”, confessa Daniel Wrapp, da Universidade do Texas e também autor da nova pesquisa.
Apesar de ainda estarem a decorrer testes apenas em animais e de ainda serem necessários mais estudos que possam comprovar a segurança destes anticorpos em pacientes humanos, os investigadores esperam que estes possam ser utilizados como tratamento profilático, ou seja, um tratamento preventivo, contra a Covid-19, numa pessoa que não foi infetada. Embora o tratamento tenha um efeito imediato, os efeitos não serão permanentes, durando apenas um ou dois meses. “Ainda há muito trabalho a ser feito para tentar trazer isto para as clínicas”, disse Saelens. “Se funcionar, a lama Winter merece uma estátua.”