Tem, o mínimo, um formato muito singular. A forma como Andorra, esse país sem litoral entre Espanha e França, está a preparar-se para levantar as restrições impostas pelo bloqueio não prevê para já medidas diferentes para os mais velhos ou para os mais novos. Nem para estudantes ou funções que não possam ser feitas por teletrabalho. Para evitar que todos saiam à rua ao mesmo tempo, optou-se por dividir o país em par ou ímpar – consoante o número da porta em que cada um vive. E, os que não se incluem neste tipo de métrica, vão fazê-lo pelo abecedário. Nuns dias, saem aqueles cujos nomes começam por A até ao M, noutros serão os outros, até ao Z. Surpreendente? Há mais.
O alívio do confinamento decretado naquele principado independente encravado nos Pirenéus começou há uma semana, permitindo às pessoas deixarem as suas casas durante uma hora para se exercitarem. “Não foi propriamente um momento sem restrições, mas de exceção”, apressou-se a esclarecer a ministra da Saúde Joan Martínez Benazet, citada pela Euronews. A ideia era preparar a população para o que aí vem. É que, além de terem de seguir um sistema ordenado para sair de casa, os habitantes vão também precisar de respeitar horários rígidos para as suas várias atividades.
A cada atividade, um horário
Por exemplo, podem correr ou fazer caminhadas entre as 6 e as 9 da manhã ou então ao fim do dia, entre as 18h e as 21h. Para ir às compras, ou simplesmente passear, devem fazê-lo entre as 9h e as 11h ou entre 14h e as 19 horas. O horário entre 11h e 14h, esse, fica reservado para os mais vulneráveis e idosos.
Além de ter de usar obrigatoriamente máscara, a população deve ainda manter uma distância social de quatro metros. É também aconselhada a caminhar na mesma direção dos veículos – ao contrário do normalmente recomendado – para assim garantir que as pessoas ficam longe uns das outras e não seguem lado a lado em situação alguma.
Parece exagerado, olhando para os números por alto. Afinal, Andorra tem apenas 717 casos confirmados de Covid-19 e só registou 37 mortes. Mas a questão é que, como a sua população não ultrapassa as 77 mil pessoas, acaba por estar no topo da lista dos países com mais mortes por milhão de habitantes.
À moda da América Latina…
Outros há que também estão a inovar no sistema de dividir a população para não ter toda a gente na rua ao mesmo tempo. Veja-se o caso do Panamá. O que decidiram as autoridades locais? Impor uma quarentena por sexos. Ou seja, homens e mulheres não podem andar na rua ao mesmo tempo.
Invulgar para uns, discriminatória para outros – mas necessária, segundo os responsáveis panamianos – a medida está em vigor desde o início de abril. E justificada por Laurentino Cortizo, o presidente do Panamá.
“Não tivemos alternativa. A grande quantidade de pessoas que continuava a circular, apesar da quarentena obrigatória a nível nacional, obrigou-nos a medidas mais severas. Foi a maneira mais eficaz de limitar o número de pessoas na rua e também uma maneira de impedir que famílias inteiras abandonassem as suas casas.”
Assim, desde então que as mulheres estão a autorizadas a sair de casa para comprar bens essenciais às segundas, quartas e sextas-feiras. Já os homens podem sair à rua para realizar tarefas às terças, quintas e sábados. Ao domingo, todos são obrigados a permanecer em casa.
…tanto no Panamá como no Perú
O mesmo modelo foi também adotado no Peru. Desde o início de abril que homens e mulheres também não saem à rua nos mesmos dias, depois de um confinamento imposto logo a meio de março sem os resultados pretendidos.
Martin Vizcarra, o presidente do país, justificou a opção mais ou menos pelas mesmas razões: as restrições então em vigor não estavam a dar os resultados esperados. A exceção para esta alternância entre homens e mulheres só não se aplica aos funcionários de serviços essenciais – supermercados, bancos, farmácias ou hospitais.
E foi ainda pedido às forças que patrulham as ruas para, nestas circunstâncias particulares, respeitarem os transexuais. “Foram todos, policias e soldados, instruídos para não terem atitudes homofóbicas.”