Com perto de 2,5 milhões de casos confirmados em todo o mundo, a falta de ventiladores é um problema generalizado. Mas há países onde a situação é mais dramática, como se pode ver olhando para África: o Sudão do Sul, por exemplo, tem quatro ventiladores e 24 camas de cuidados intensivos para uma população total de 12 milhões. As contas não são difíceis de fazer: um ventilador para cada 3 milhões de pessoas.
Segundo o Comité Internacional de Resgate, o panorama no Burkina Faso não é muito melhor, com 11 ventiladores, ou na Serra Leoa, com 13.
Mas se África é, neste momento de pandemia, um desastre à espera de acontecer, há mais países a merecer a preocupação do comité, como é o caso da Venezuela, que tem 84 camas em cuidados intensivos para uma população de 32 milhões e 90% dos hospitais já normalmente com falta de medicamentos e equipamentos.
“Já vimos como a pandemia sobrecarregou rapidamente os sistemas de saúde em países onde são relativamente avançados”, lembra Elinor Raikes, vice-presidente da organização não governamental, antes de verbalizar, em declarações à CNN, o que o leitor, provavelmente, já está a pensar agora: com que rapidez não esmagará os países com sistemas de saúde mais precários?
Só nos EUA, o Johns Hopkins Center for Health Security calcula que estejam em falta meio milhão de ventiladores. No Reino Unido, faltam pelo menos 18 mil, França está a fabricar 10 mil. Em 41 países africanos juntos, segundo a Organização Mundial de Saúde, há menos de 2 mil ventiladores no total. E em 43 países, há um conjunto de menos de 5 mil camas em cuidados intensivos. Dá menos de cinco camas por milhão de habitantes, um rácio que na Europa sobre para 4 mil por milhão.
Num relatório divulgado na semana passada, a OMS alertava que embora o coronavírus tenha chegado ao continente africano mais tarde, o número de infeções cresceu exponencialmente nas últimas semanas, apesar de ainda ninguém se atrever a fazer previsões sobre a possibilidade de o vírus atingir África da mesma forma que atingiu a Europa.
A juntar à preocupação com o continente (agravada pela prevalência de outras doenças como a tuberculose, a sida, a malária e a diabetes), os especialistas estão também preocupados com a vulnerabilidade de outras populações, sobretudo em zonas de conflito, como a Síria, o Afeganistão ou o Iémen.
Kate White, dos Médicos Sem Fronteiras, pega no exemplo sírio: “sabemos que a Síria tem capacidade de diagnóstico, mas só em Damasco e é um país a meio de um conflito massivo, portanto outras zonas não têm acesso a testes de diganóstico.” Já no Bangladesh, uma das preocupações é o campo de refugiados de Cox’s Bazar, que abriga atualmente mais de 85 mil refugiados da minoria rohingya.
“Estamos a falar desta crise da Covid-19 a cair em cima das crises já existentes”, resume.