A insegurança alimentar continua a aumentar na região, com as alterações climáticas a provocar eventos extremos que penalizam as colheitas, provocam um aumento generalizado dos preços pela falta de oferta e deixam milhares de famílias sem ter o que comer durante os próximos meses. O alerta está a ser feito pelo Programa Alimentar Mundial (WFP, na sigla em inglês). “Esta crise de fome é a uma escala nunca antes vista, e tudo aponta para que vá agravar-se ainda mais”, referiu em comunicado Lola Castro, o diretor da WFP para a região da África Austral. “A época anual de ciclones começou e, muito basicamente, nós não temos capacidade de suportar uma devastação igual à que foi provocada pelas inigualáveis tempestades do ano passado”, acrescentou.
O ciclone Idai, que atingiu a costa de Moçambique em março de 2019, provocou estragos também no Malaui e no Zimbabué. Seis semanas depois, o ciclone Kenneth deixava um rasto de destruição em Cabo Delgado, no norte de Moçambique.
Já no final do ano passado e no início de 2020, fortes chuvas voltaram a deixar desalojados e a inundar regiões, tanto no norte como no centro do País. Neste último, o isolamento provocado pelo alagamento e destruição de alguns acessos, fez os preços dos alimentos disparar em poucos dias. A agência Lusa dava, recentemente, conta de que um saco de arroz de 25 quilos que custava normalmente 1 300 meticais (18 euros), agora é vendido por 1 600 meticais (22 euros). Uma garrafa de cinco litros de óleo de cozinha passou de 350 meticais (5 euros) para 500 meticais (7 euros).
Dados recentes da Rede dos Sistemas de Aviso Prévio contra a Fome (FEWS NET, na sigla em inglês), e já publicados pela VISÃO, revelam que o preço das sementes de milho, em Moçambique, disparou entre 6% e 31% de outubro para novembro, e que estão agora 40% a 75% acima da média dos últimos cinco anos.
Num dos países mais pobres do mundo, a escalada dos preços dos alimentos – e recorde-se que a farinha de milho é a base da alimentação moçambicana – significa fome.
Oito países em risco
As secas severas que se fizeram sentir na região no terceiro trimestre do ano passado, sobretudo, não ajudaram à recuperação dos solos, elemento fundamental em países onde a agricultura de subsistência é a realidade de grande parte dos agregados familiares. O Programa Alimentar Mundial prevê dar assistência a cerca de 8,3 milhões de pessoas em alguns dos países mais afetados pela fome – Zimbabué, Zâmbia, Moçambique, Madagáscar, Namíbia, Lesotho, Suazilândia e Malauí. Os relatórios das organizações internacionais dão conta de as famílias da região estão a comer menos, a saltar refeições, a retirar as crianças da escola, a vender o que ainda lhes pode dar algum dinheiro e, algumas, a endividar-se.
Também o Programa Alimentar Mundial está a atravessar algumas dificuldades no que toca a financiamento, numa altura em que só dispõe de 205 milhões dos 489 milhões de dólares de que precisa para conseguir chegar aos casos mais urgentes.
“Se não conseguirmos angariar o financiamento necessário, não teremos outra alternativa a não ser prestar menor assistência e a menos pessoas. Nem teremos condições para continuar com as nossas atividades de longo prazo, que são vitais para combater o cenário de emergência causado pelas alterações climáticas”, remata o responsável do Programa.