Tal como a VISÃO já tinha noticiado, o Instituto Camões lançou, em agosto do ano passado, um concurso destinado a financiar projetos de Organizações Não Governamentais para o Desenvolvimento (ONGD) nas áreas nos domínios da saúde, educação e segurança alimentar como contributo para a reconstrução pós-ciclones em Moçambique. Dotado, inicialmente, de uma verba de €1,2 milhões, este fundo foi entretanto reforçado em €700 mil, “face à boa qualidade das propostas apresentadas, e de modo a poder apoiar um maior número de projetos”, explicou à VISÃO fonte oficial do Ministério dos Negócios Estrangeiros.
A VISÃO questionou o Instituto Camões sobre o atraso na divulgação do resultado do concurso, prevista para até dia 31 de dezembro de 2019. No entanto, fonte da tutela garantiu, numa declaração por email, que “o concurso lançado pelo Camões I.P. para a criação de um Fundo, destinado a financiar projetos de ONGD nacionais para a recuperação das zonas afetadas pelo ciclones Idai e Kenneth em Moçambique, foi concluído dentro do prazo previsto”. E aproveitou para anunciar que “o anúncio oficial dos resultados será feito pelo Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros no dia 8 de janeiro, durante o Seminário anual do Camões I.P., sobre Cooperação, Língua e Cultura, que decorrerá na Fundação Calouste Gulbenkian”.
Recorde-se que todos os projetos que “vierem a ser apoiados contribuirão para a recuperação, reconstrução e apoio às populações mais afetadas e promoção da resiliência dessas comunidades”.
A zona central de Moçambique foi severamente afetada pelo ciclone Idai, que tocou a costa do país a 14 de março de 2019, tendo deixado mais de mil mortos – os números oficiais nunca foram fechados – e milhares de desalojados, colheitas destruídas e comunidades completamente dizimadas.
Cerca de um mês depois, o ciclone Kenneth provocou graves problemas na zona norte de Moçambique, que já se debatia, desde 2017 com uma onda de violência que já destruiu várias cidades, provocou milhares de desalojados internos e tem agravado as necessidades básicas da população.
Segundo os mais recentes relatórios da ONU, estarão cerca de 120 ONG em Moçambique, que para além do trabalho que já desenvolviam junto das comunidades mais desfavorecidas, se prontificaram rapidamente a conseguir ajudar no período de urgência pós-ciclones. No entanto, os números têm mostrado que as necessidades continuam a aumentar.
Dez meses depois de o maior desastre natural da história de Moçambique ter emocionado o mundo, continua a faltar dinheiro e recursos humanos para recuperar infra-estruturas e para recuperar a vida de todos os que perderam tudo em pouco mais de 72 horas. O concurso aberto pelo Instituto Camões e patrocinado pelo Estado português poderá permitir a algumas ONGS nacionais continuar no terreno, tal como a VISÃO já deu conta, o que poderá ter um impacto direto na vida de milhares de pessoas.