Desde o momento em que soube da pressão do presidente Donald Trump sobre o ex-vice Joe Biden para obter informações confidenciais sobre o recém-eleito líder da Ucrânia, o oficial da CIA por trás do relatório de denúncias não perdeu tempo e mexeu-se rapidamente nos bastidores para reunir material de pelo menos metade- e falamos de dezenas de pessoas – dos funcionários dos EUA em posições elevadas.
O tal denunciante desconhecido juntou tudo a outro material meticulosamente recolhido sobre uma série de outros casos, desde a intervenção do advogado pessoal de Trump, Rudolph W. Giuliani (esse mesmo, o antigo mayor de Nova Iorque) no relacionamento EUA-Ucrânia, até supostos esforços de diplomatas americanos enviados a Kiev, tal como de advogados do da Casa Branca, de forma a conter ou suprimir o dano acumulado. Resumindo, e citando a TIME, se as acusações se confirmaram, o comportamento de Trump é um abuso de poder que não era visto desde a era Nixon.
Foi a 12 de agosto que o enigmático delator entregou o seu documento, uma versão de nove páginas tornada pública esta quinta-feira, ao inspetor geral da CIA, desencadeando um choque quase imediato entre o poder executivo e o Congresso. Seis semanas depois, o misterioso denunciante conseguiu exceder o que o advogado Robert S. Mueller, antigo diretor do FBI, fez em dois anos a investigar Trump: a produção de um acervo tão preocupante que acionou o processo de destituição praticamente sozinho.
“No decurso das minhas funções oficiais”, escreve o denunciante na primeira frase da sua denúncia, “comprovei que o Presidente dos Estados Unidos está a usar o poder do seu cargo para solicitar interferência de um país estrangeiro nas eleições de 2020 nos EUA”, citado pelo Washington Post – sendo o mais explosivo a afirmação de que funcionários da Casa Branca usaram um sistema de computador classificado para ocultar documentos que podem ser politicamente prejudiciais ao presidente.
Entre eles, diz a queixa, estava a transcrição da ligação com o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, na qual Trump exortou o seu colega estrangeiro a realizar investigações que potencialmente resultariam em informações prejudiciais sobre o democrata Biden, seu adversário, e a família dele.
As notas dessa ligação foram divulgadas ao detalhe esta semana e mostram que as descrições do denunciante são assustadoramente precisas. “De acordo com vários funcionários da Casa Branca com quem conversei”, lê-se no documento, houve outras ocasiões em que os advogados da Casa Branca usaram “o sistema num nível codificado só para proteger informações politicamente sensíveis apenas em vez de sensíveis em termos de segurança nacional”.
Já Trump, que aflorou o assunto na Assembleia das Nações Unidas, em Nova Iorque, esta semana, ripostou que o autor das denúncias era, na verdade “uma espécie de espião” e por isso “potencialmente culpado de traição”.
“Para já, podemos dizer que será lembrado como um investigador da verdade”, nota Douglas Brinkley, historiador da Rice University, no Texas. “Se e quando a sua identidade for revelada, será um desses nomes a constar nos livros de história, e para sempre – tal como Daniel Ellsberg, o responsável pela publicação dos Documentos do Pentágono.