A boa poesia abre sempre espaço ao debate e à subjetividade. Esta semana, nos Estados Unidos, democratas e republicanos estão divididos na interpretação de um poema histórico relacionado com a imigração.
Tudo começou quando a administração do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, publicou um um novo regulamento que basicamente torna mais difícil o processo de extensão dos vistos dos imigrantes legais e a própria obtenção do estatuto de residente permanente, também conhecido como green card.
Esta terça-feira, numa entrevista à NPR, Ken Cuccinelli, diretor interino dos Serviços de Cidadania e Imigração, falou sobre o tema, e foi questionado sobre a aplicação das palavras da poetisa Emma Lazarus escritas no século XIX, ao problema da imigração atual.
Isto porque nos décimo e décimo primeiro versos do texto, o sujeito poético afirma que a mulher representada na estátua diz “Dai-me os teus cansados, os teus pobres, / As suas massas encurraladas ansiosas por respirar liberdade”. Ou seja, uma referência às milhares pessoas que ao longo da História chegaram de outros países para vir habitar a cidade de Nova Iorque.
Cuccinelli, contudo, tem uma interpretação dos versos que restringe as “boas-vindas” aos imigrantes apenas aos que se podem inserir na cultura americana. “‘Dai-me os teus cansados, os teus pobres’, os que conseguem apoiar-se nos seus pés e que não vão tornar-se um fardo público” explicou. O político foi imediatamente criticado por várias personalidades americanas, principalmente do partido democrático.
Mais tarde, em declarações à CNN, Cuccinelli negou a ideia de que estava a tentar reescrever o poema, esclareceu que estava a responder a uma pergunta e acusou os críticos de “torcer” os seus comentários. Ainda assim, deixou claro que “aquele poema se referia a pessoas vindas da Europa – onde tinham sociedades baseadas em classes e as pessoas eram consideradas miseráveis se não estivessem na classe certa”.
Este é o poema completo de Emma Lazarus:
Não como o gigante bronzeado de grega fama,
Com pernas abertas e conquistadoras a abarcar a terra
Aqui nos nossos portões banhados pelo mar e dourados pelo sol, se erguerá
Uma mulher poderosa, com uma tocha cuja chama
É o relâmpago aprisionado e seu nome
Mãe dos Exílios. Do farol de sua mão
Brilha um acolhedor abraço universal; Os seus suaves olhos
Comandam o porto unido por pontes que enquadram cidades gémeas.
“Mantenham antigas terras sua pompa histórica!” grita ela
Com lábios silenciosos “Dai-me os seus cansados, os seus pobres,
As suas massas encurraladas ansiosas por respirar liberdade
O miserável refugo das suas costas apinhadas.
Mandai-me os sem abrigo, os arremessados pelas tempestades,
Pois eu ergo o meu farol junto ao portal dourado.
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