George Pell sempre se apresentou como fervoroso apoiante dos valores católicos tradicionais, defendendo o celibato dos padres e nunca escondendo as fortes reservas ao casamento gay ou à contraceção, por exemplo. A par disso, nunca foi muito contido nas palavras.
Quando foi chamado para o Conselho de Cardeais em 2014, deixava para trás uma onda de indignação, que o acusava de esconder abusos, de ser arrogante e distante.
Era, por exemplo, acusado de ter transferido sistematicamente para outras paróquias um padre apontado como pedófilo, em vez de o denunciar – ao mesmo tempo que tentava comprar o silêncio de uma das vítimas. Pell sempre negou as acusações, mas admitiu que poderia ter feito mais para investigar o caso.
Quando em 2016, a rede de televisão ABC colocou no ar as denúncias de dois homens que diziam ter sido tocados inapropriadamente pelo cardeal nos anos 1970, George Pell simplesmente descreveu-as como uma “campanha escandalosa” para manchar sua reputação.
“É um assassínio implacável da minha pessoa. Estou ansioso para ir ao tribunal defender-me, sou completamente inocente destas acusações. Toda a ideia de abuso sexual é aberrante para mim”, disse.
Geroge Pell, é preciso que se diga, foi também um dos cardeais que chegou ao Vaticano apresentado como alguém da ala mais moderna da Igreja. Mesmo que, segundo as afirmações que lhe são atribuídas, essa imagem nunca tenha efetivamente transparecido nas suas palavras.
O que ele disse sobre abuso sexual:
“A Igreja Católica é tão responsável pelo abuso de crianças como uma empresa de camiões o é quando um motorista molesta uma mulher durante o trabalho”, disse, em 2014, segundo o The Independent.
Sobre o casamento:
“Fora circunstâncias excecionais, como os relacionamentos em que há abuso físico, é sempre melhor para os indivíduos e para a sociedade se os casais não se divorciarem, particularmente quando há crianças envolvidas”
Sobre a homossexualidade:
“É uma atividade errada e, para o bem da sociedade, não deve ser encorajada”, disse, em 1990, acrescentando ainda que “a atividade homossexual é um perigo muito maior para a saúde do que o tabagismo”.
Pouco depois disso, em 1998, recusou mesmo a comunhão a membros do Rainbow Sash, movimento de católicos gays que participavam na missa em Melbourne, na Austrália. Em 2006, também se opôs publicamente à legislação australiana que permite a adoção de crianças por casais gay.
Sobre a sida e os preservativos:
“A sida é uma grande crise espiritual e de saúde, e um enorme desafio, mas o uso de preservativos não é a solução – estão mais a estimular a promiscuidade e a irresponsabilidade”, disse também, segundo o The Sydney Morning Herald.