Especialistas ouvidos pelos meios de comunicação internacional descrevem as possíveis consequências para a saúde física e mental de estar preso numa gruta, como acontece neste momento com a equipa de futebol tailandesa que foi encontrada no norte do país, na passada segunda-feira.
O grupo estava a explorar uma rede de grutas no passado dia 23 de junho quando a chuva intensa inundou a entrada, encurralando-os no interior. O seu desaparecimento súbito desencadeou uma operação de busca que se prolongou durante nove dias e envolveu centenas de voluntários e equipas de especialistas internacionais, numa luta contra o tempo e contra as monções.
Avaliados num primeiro momento, os rapazes, com idades entre os 11 e os 16 anos, e o seu treinador, não parecem ter mais do que leves ferimentos. Mas a sua permanência forçada na gruta está longe de terminar, já que tirá-los de lá está a revelar-se um verdadeiro quebra-cabeças: o local onde se encontram só é acessível através de um canal estreito, inundado e com correntes (e nenhum deles sabe nadar). As tentativas de bombear a água para fora revelaram-se, até agora, infrutíferas, assim como as de encontrar outra saída.
A espera, portanto, ameaça ser prolongada, podendo mesmo durar meses.
Estar confinado a um espaço pequeno e na escuridão pode levar a medo, confusão, ansiedade, desânimo e desespero, explica Sandy Capaldi, psicóloga e diretora do Centro para o Tratamento e Estudo da Ansiedade da Universidade da Pensilvânia. E no caso das crianças, ainda pior, uma vez que adultos podem racionalizar a situação, dizendo a si próprios que alguém anda à sua procura e que vão ser resgatados, um processo mental que é menos provável nos mais jovens.
Os especialistas ouvidos pela CNN são unânimes quanto ao impacto psicológico que pode ter o facto de ao pensar que tinham sido salvos se suceder a informação de que podem ter de esperar dias, semanas ou meses até serem realmente resgatados. E mesmo quando estiverem em liberdade, o impacto pode prolongar-se, na forma de pesadelos, problemas de sono, um estado de alerta exagerado ou dificuldades de concentração.
“Para alguns, estas reações, diminuem com o tempo, mas, para outros, ficam e resultam num distúrbio de stress pós-traumático”, refere Capaldi.
Outro especialista, Mike Tipton, do Laboratório de Ambientes Extremos da Universidade de Portsmouth, ouvido pelo The Telegraph, acrescenta que podem começar a comportar-se como crianças mais pequenas, necessitadas de maior atenção e cuidado.
Mas não é só a saúde mental destes jovens que está ameaçada: há também o risco de lesões, doenças provocadas pela falta de alimentos ou água, infecções fúngicas ou bacterianas e ainda a exposição a animais como cobras ou morcegos, como lembra Paul Auerbach, especialista da Universidade de Stanford. Já Neil Greenberg, professor na área da Saúde Mental no King’s College London, recorda-se de ter visto aranhas quando visitou a rede de grutas em causa.
Além disto, há que ter em conta a temperatura, que afeta a forma como o organismo funciona.
Quando sairem, vão ter de receber uma grande assistência médica, garante Auerbach. “Vão estar provavelmente desidratados e sofrer de destrunição aguda. Perderam massa muscular e podem ter anomalidades na química do corpo”, avança.
Mike Tipton sublinha também esta questão da falta de espaço para se movimentarem, o que, por levar a atrofia, pode difcultar o resgate.
“A falta de higiene também pode provocar problemas e experiências mostraram que quando as pessoas estão em ambientes em que não há dia e noite, o seu relógio interno altera-se”, diz.