O momento é de regozijo absoluto entre a extrema-direita populista na Alemanha. “Vamos caçá-los!” foi o grito de vitória repetido na sede da AfD e que fez estremecer Berlim. A designada Alternativa para a Alemanha venceu triplamente: não só teve mais de 5% e ganhou assento no Bundestag alemão – algo que não acontecia desde o fim da Segunda Guerra Mundial, como conseguiu ter um resultado com dois dígitos e chegar mesmo ao lugar da terceira força política no país. Três horas depois do fecho das urnas, os resultados apontavam para um resultado nacional de 13,2%, com uma derrota estrondosa da CDU/CSU, a união católica e conservadora liderada por Angela Merkel (32,8%) e da SPD centro-esquerda de Martin Schultz (20,8%, o pior resultado de sempre).
(Resultados finais: CDU/CSU – 33%; SPD – 20,51%; AfD – 12,64%; FDP – 10,75%; Linke – 9,24%; Verdes – 8,94%)
Um partido que fez uma campanha apelando ao nacionalismo e ao medo, atirando contra a imigração, o Islão e os refugiados, e que viu um dos seus candidatos líderes Alexander Gauland anunciar o “orgulho nos soldados alemães da segunda guerra mundial”, ocupará quase uma centena de lugares no Parlamento alemão.
A entrada de cerca de um milhão de refugiados na Alemanha em 2015 fez disparar a base de suporte desta direita radical. Se no início a AfD se apresentou essencialmente como um partido eurocético, hoje é acima de tudo um partido nacionalista que catapultou o extremismo racial e religioso. O perfil do eleitor AfD alinha com os outros partidos nacionalistas internacionais: cidadãos mais velhos, de fracos rendimentos e baixa escolaridade, que discordam do rumo do país.
Algo que está longe da sua ambição anunciada: muito maior do que um partido da oposição, a AfD quer ser um “Volkspartei”, ou um partido do povo, recolhendo apoios de alemães desiludidos de todas as principais forças políticas, sobretudo da CDU da senhora Merkel, que personifica para eles toda a ineficiência do sistema. A percepção destes eleitores é que os partidos tradicionais, do centro e da esquerda, não oferecem resposta às angústias do povo. E o povo germânico foi agora bem claro: quis dar voz à extrema-direita num país onde as cicatrizes desta memória política ainda são bem evidentes.
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Materiais de campanha da AfD distribuídos em Berlim
A ideia base é de que é hora de enterrar o peso de um passado “nazi”, epíteto que recusam fortemente, e dar a Alemanha de volta aos alemães. “Coragem para a Alemanha” foi a principal palavra de ordem, à qual se juntaram o “Fora o Euro” ou o “Islão não pertence à Alemanha”.
Por decidir fica por agora a solução de governo, que passará por uma certa coligação, resta saber com quem vai casar a CDU. Uma coisa é certa, a AfD não vai dar tréguas. No debate com os líderes partidários que começou pouco depois das 20h, a AFD anunciou ao que vem: “fazer uma oposição muito clara na politica de emigração e da Europa”. E também, claro está, provcar ao máximo o “establishment“. “Um parlamento sem provocação não funciona”, declarou vitorioso o representante da AfD no canal público.
Fazer os trabalhos de casa e ouvir as pessoas foi imediatamentea mensagem que os derrotados partidos da “Mitte” ou do centro anunciaram ter de fazer adiante. “Até agora enterrámos a cabeça na areia e fingimos que o problema não existia. Agora vamos ter mesmo de lidar com eles”, disse à VISÃO um dirigente num importante cargo de nomeação política. Uma coisa é certa: a turbulência adiante é garantida. E não se sabe onde podem chegar as ondas de choque deste momento tristemente histórico.