Cansaço ou stress podem ser explicações para as diferenças encontradas na forma de falar de Donald Trump há umas décadas e atualmente. Mas os especialistas ouvidos pelo STAT News não descartam a possibilidade de estar em causa um declínio cognitivo fruto da idade (Trump fará em breve 71 anos) ou mesmo uma doença neurodegenerativa.
Esta nova análise concluiu que a síntaxe “tortuosa” agora comum nas suas respostas espontâneas (por oposição a um discurso escrito) nem sempre foi assim: Trump articulava frases bem construídas e até “vocabulário sofisticado”. É o caso de várias entrevistas concedidas nos anos 80 e 90 a David Letterman e Oprah Winfrey, por exemplo, em que falava articuladamente, sem perder o fio condutor do pensamento, mesmo quando lhe eram digiridas perguntas sobre temas mais complexos.
Atualmente, é consensual que o vocabulário do Presidente é mais simplista e que se repete frequentemente, muitas vezes com “saltos” entre um tema e outro, não relacionado.
Para perceber esta diferença, o STAT News pediu a especialistas em neurolinguística e avaliação cognitiva e psiquiatras para comparar discursos do Presidente ao longo de vários anos e vários admitiram que as alterações podem refletir mudanças na saúde cerebral de Trump.
“As suas dificuldades podem dever-se à imensa pressão que sofre ou a um aborrecimento porque as coisas não estão a correr bem e há estes escândalos todos”, explica o neuropsicólogo Sterling Johnson, da Universidade do Wisconsin. Mas admite outra hipótese: “Também pode ser devido a uma doença neurodegenerativa ou ao declínio cognitivo normal da idade .”
Ben Michaelis, psicólogo de Nova Iorque, é chamado frequentemente a fazer avaliações cognitivas para o Supremo Tribunal da cidade e ensina a sua técnica em hospitais e universidades. O especialista também nota “algumas mudanças claras em Trump, como orador”, desde os anos 80, incluindo “uma clara redução da sofisticação linguística ao longo do tempo”. “Para sermos justos, Trump tem 70 anos, portanto é de esperar um certo declínio no seu funcionamento cognitivo”, acrescenta.
Alguns exemplos levariam um professor do primeiro ciclo ao desespero: “Vamos a algumas perguntas, a não ser que tenham perguntas suficientes”, disse, numa conferência de imprensa, em fevereiro. “Desde que tomei posse até agora, sabem, é uma coisa muito exata. Não são coisas genéricas” (“From the time I took office til now, you know, it’s a very exact thing. It’s not like generalities”)
Mas Michaelis também admite que esta nova forma de falar possa fazer parte de uma estratégia. O perito acredita que Trump pode achar que os seus apoiantes gostam de o ouvir falar de uma forma simples, como mais “paixão” do que correção gramatical.
No entanto, apesar de nenhum dos especialistas consultados terem considerado a aparente perda de fluência como uma prova inequívoca de declínio mental, a maioria acredita que alguma coisa se passa. “É difícil dizer com certezas sem testes rigorosos” aos padrões de discursos de Trump, diz John Montgomery, também psicólogo. “Mas acho bastante seguro dizer que Trump teve um declínio mental significativo ao longo dos anos”, conclui.
Mesmo o psiquiatra Robert Pyles, apoiante do Presidente, que garante não ver “qualquer prova clara de disfunção neurológica ou cognitiva”, admite a existência de diferenças substanciais nas entrevistas de há 30 anos e as de agora, tanto em termos de tom como de ritmo.