O deputado brasileiro Alessandro Molon, do partido Rede, formalizou na quarta-feira um pedido de destituição contra o Presidente do Brasil, Michel Temer, na Secretaria-Geral da Câmara Baixa do parlamento.
O pedido aconteceu pouco depois de o jornal brasileiro O Globo ter revelado que o empresário Joesley Batista, acionista da empresa JBS, gravou uma conversa na qual o Presidente Michel Temer o autoriza a pagar um suborno pelo silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha, condenado por participação no esquema de corrupção na Petrobras.
“Já protocolei um pedido de impeachment [destituição] de Michel Temer com base nesta denúncia, nessa delação [da JBS], que trata do pedido de manutenção do pagamento de suborno para Eduardo Cunha para que ele manter o seu silêncio”, disse o deputado, num vídeo divulgado na rede social Facebook.
Alessandro Molon continua a afirmar que “[a gravação mostra que o Presidente] fere direta e claramente a lei de responsabilidade [usada para iniciar pedidos de destituição no Brasil], que diz que ter um comportamento incompatível com o decoro do cargo é causa para cassação do mandato”.
É o primeiro pedido de destituição contra o chefe de Estado brasileiro com base na denúncia divulgada quarta-feira pelo jornal O Globo.
Segundo o diário brasileiro, a gravação foi feita no dia 7 de março, num encontro no Palácio do Jaburu, residência oficial do Presidente brasileiro.
Segundo o Globo, o empresário Joesley Batista disse alegadamente a Michel Temer que estava a dar ao ex-deputado Eduardo Cunha e ao operador financeiro Lúcio Funaro uma mesada na prisão, para eles ficarem calados.
Após ouvir esta informação Michel Temer terá respondido: “Tem que manter isso, viu”.
A gravação foi apresentada por Joesley Batista e Wesley Batista, irmãos e acionistas da JBS, aos procuradores do Ministério Público Federal (MPF) e o juiz Edson Fachin, que julga os casos da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), para negociar um acordo de delação premiada (colaboração em troca da redução da pena).
Demissão pedida nas ruas
Centenas de pessoas concentraram-se na quarta-feira à noite no centro de São Paulo, no primeiro protesto organizado na sequência das denúncias de que o Presidente brasileiro autorizou o pagamento de um suborno a um deputado.
Os manifestantes empunharam cartazes e bandeiras a exigir a realização de eleições diretas, ao mesmo tempo que gritaram: “Fora [Michel] Temer”, constatou a agência Lusa no local.
A polícia fechou parte da avenida Paulista ao trânsito, na sequência da manifestação, convocada ao início da noite de quarta-feira através da rede social Facebook.
Pouco antes da meia-noite, os manifestantes começaram a abandonar a avenida, que foi reaberta ao trânsito.
Temer nega
Michel Temer disse que “jamais solicitou pagamentos para obter o silêncio de ex-deputado Eduardo Cunha”, num comunicado divulgado pelo Palácio do Planalto poucas horas depois da notícia de O Globo.
No comunicado, o chefe de Estado brasileiro afirmou que “não participou e nem autorizou qualquer movimento com o objetivo de evitar delação ou colaboração com a Justiça pelo ex-parlamentar”.
Uma manifestante, Karina Bernardino, de 25 anos, disse à Lusa que decidiu protestar na avenida Paulista assim que soube das denúncias.
“Cheguei a casa e logo soube da denúncia. O Michel Temer tem que cair e devemos convocar novas eleições. O povo tem o direito de votar de novo”, afirmou.
Sobre o instável cenário político do país, que no ano passado assistiu à destituição da Presidente Dilma Rousseff e tem acompanhado as denúncias de corrupção contra centenas de políticos, Karina considerou que os brasileiros têm de ser mais ativos.
“É frustrante ver que nem todo o mundo está na rua. As pessoas acostumaram-se com a corrupção e isto é muito negativo. Temos que mudar”, declarou.
Para o economista Everton Carneiro, que também participou no protesto, o Governo de Michel Temer já acabou.
“O Presidente não tem outra opção senão a de renunciar. Quando soube das denúncias contra o Temer, a primeira coisa que pensei foi que o Governo tinha acabado”, declarou.
O economista, de 30 anos, sublinhou que o suposto pagamento de suborno ao ex-deputado Eduardo Cunha, alegadamente autorizado por Temer, é mais um exemplo de que “a velha política” ainda domina o Brasil.
“A população brasileira é muito ingénua e agarra-se a um discurso moralista contra a corrupção. Devemos discutir mais as causas da corrupção porque acordos como este que o Temer fez para comprar o silêncio do Eduardo Cunha são corriqueiros”, concluiu.