O lançamento em italiano da autobiografia de Marisa Borini Bruni-Tedeschi foi este fim de semana, em Turim, e lá estavam as suas duas filhas, Valeria, atriz e realizadora, de 52 anos, e Carla, ex-modelo e cantora, de 49, para apoiá-la. Tinha de ser. Afinal, foram elas as primeiras a incitá-la a escrever e a publicar as memórias.
“Um dia mostrei-lhes umas páginas e ambas disseram-me logo que devia continuar o meu relato e contar toda a minha vida. Aceitei, com uma condição: a de escrever a verdade acerca de tudo e de todos”, disse a pianista ao La Repubblica. “Claro que há certas passagens que podem chocar, mas é o que há. Na minha idade, creio que posso dizer o que quiser! Fui uma romântica, sempre fui até ao fim com os meus sentimentos e gostaria de descobrir novas paixões, mas na minha idade…”
Marisa tem quase 87 anos. Em maio do ano passado, lançou Mes chères filles, je vais vous raconter… em Paris, cidade para onde se mudou com a família no início da década de 70, numa época em que os ricos vivam com medo dos constantes sequestros das Brigadas Vermelhas, em Itália. Agora como há um ano, Carla saiu em sua defesa. “A minha mãe é uma mulher magnífica, e sempre o foi”, disse ao mesmo diário italiano. “Quem teria a coragem, na sua idade, de publicar um livro como este?”
Apesar das revelações feitas no livro que a envolvem diretamente, a ex-primeira dama francesa garantiu que não foi traumático ficar a conhecer a vida sentimental dos pais. “Eles eram pessoas muito livres, que viveram umas vidas intensas com a discrição que caracteriza a sua classe social. Viajavam e pertenciam à elite intelectual da sua época, sem serem escravos dos meios de comunicação da atualidade.”
A verdade aos 28 anos
Marisa e o compositor Alberto Bruni-Tedeschi, filho de uma das famílias mais ricas de Itália, tinham um casamento muito aberto e perdoavam-se as infidelidades mutuamente. Mais: se calhava um deles sofrer de amores, ofereciam o ombro. “Estávamos profundamente apaixonados um pelo outro”, contou Marisa à revista Gala. “Quando admiti a minha relação com Arturo [Benedetti Michelangeli, um pianista], o meu marido compreendeu logo que devia deixar-me livre. E quando ele me deixou e sofri muitíssimo, foi extraordinário. Curou as minhas feridas.”
Carla e os irmãos (Virginio, o mais velho, morreu com sida em 2006) não davam por nada. “Víamos poucos os nossos pais porque eles viajavam muito e tinham uma vida social intensa”, contou à edição italiana da revista Vanity Fair. “Nessa época não se estava muito com os filhos, tínhamos amas inglesas, alemãs, suíças. E a nossa avó, materna, que eu adorava.”
Foi só em 1996, quando ela tinha 28 anos, que a mãe lhe disse que Alberto não era o seu pai biológico. O compositor estava a morrer e sentia o dever de lho contar. Carla ficou naturalmente zangada por lhe terem escondido a verdade tanto tempo, recorda agora Marisa. “Censurou-me por isso, mas eu disse-lhe: ‘Não te queixes, tens dois pais, ambos foram bons e além disso milionários’.”
Marisa tinha 35 anos e Maurizio Remmert 19 anos quando se apaixonaram. Quando soube que estava grávida, não sentiu remorsos “porque a alegria de ter um terceiro filho era muito grande”.
Maurizio era filho de uns amigos da pianista. Mais complicado do que ser mais novo 16 anos era o facto de Marisa ter sido também amante do seu pai, Giorgio Remmert. Namoraram seis anos, até ele trocar os estudos de guitarra clássica por uma vida de empresário, mudando-se para o Brasil. Não fez parte do crescimento de Carla, mas foi ao seu casamento com Nicolas Sarkozy, e uma das filhas que teve com Marcia de Luca, uma professora de ioga, estagiou no Eliseu durante o mandato de Sarcozy.