Todos os anos, desde 1924, o jantar de correspondentes da Casa Branca é assim uma espécie de jantar de palermas mas sem que o protagonista tenha de ser escolhido por um dos convivas. Com maior ou menor sentido de humor, é o próprio presidente norte-americano que voluntariamente se presta ao papel de bombo da festa. George W. Bush até ensaiou um número a meias com o ator Steve Bridges em que este, exemplarmente caracterizado, fazia apartes cómicos de cada vez que Bush falava supostamente a sério: “Em vez de estar na cama tenho que fingir que gosto de estar aqui. A imprensa passa a vida a ridicularizar-me, sobretudo quando reproduz as coisas tal e qual eu as digo”.
Mas este ano, tal como sucedeu já por quatro vezes, o presidente não vai alinhar na brincadeira. A diferença é que nas ocasiões anteriores as ausências se deveram a razões de força maior. Em 1930 pelo falecimento de William H. Taft, em 1942 pela entrada dos EUA na II Guerra Mundial, em 1951 pelo momento de tensão crescente com a URSS e em 1981 porque Ronald Reagan estava em convalescença depois de uma tentativa de assassinato. Agora, e numa curta mensagem deixada no twitter, Donald Trump avisa, com dois meses de antecedência que não marquem lugar para ele (o jantar está marcado para dia 29 de abril).
O curioso é que muitos acreditam que, se hoje Trump ocupa a Sala Oval, muito o deve a um destes jantares de correspondentes. Para isso é necessário recuar a abril de 2011, quando, imagine-se!, a convite do The Washington Post, Donald Trump – então célebre como apresentador do programa televisivo Celebrity Apprentice – também esteve presente.
Apesar de tudo, Trump já era mais do que isso, destacando-se como uma das vozes que mais se opunha à presidência de Barack Obama e que contestava mesmo a certidão de nascimento do presidente americano. Também por isso, ou talvez por isso, Barack dedicou-lhe mais de cinco minutos de piadas. “Ninguém fica mais feliz nem mais orgulhoso por ver este certificado do que o Donald”, disse por entre gargalhada geral, exceto, claro a de Trump. “Isto porque agora ele pode focar-se em coisas realmente importantes como: Será que encenámos a ida à Lua? O que é que realmente sucedeu em Roswell?”. Apesar de uns ligeiros acenos com a mão direita, Trump não achou piada nenhuma a ser gozado daquela forma. Se ao menos se tivesse lembrado de usar o twitter para responder.
Mas o pior ainda estava guardado para a sobremesa, quando o comediante Seth Meyers desfiou mais uma séria de piadas que deixaram Trump com os cabelos em pé. Entre as várias tiradas houve uma que o terá feito despertar. Foi quando Seth disse: “Donald Trump tem andado a dizer que vai ser candidato a presidente pelo partido Republicano. Isso é surpreendente porque eu já tinha assumido que ele ia candidatar-se como uma anedota”.
Seis anos depois, ainda haverá por certo muita gente com dificuldades em digerir aquele jantar. Mas não Trump, que esse já fez a digestão dos sapos que teve de engolir então. Ainda assim, desta vez prefere não ser o bobo da corte. E, quem sabe, talvez acompanhe o repasto pelo Twitter.