Ralph Rayner arriscou um julgamento em tribunal militar por roubo. Mas cometeu o crime perfeito quando, em maio de 1945, como oficial às ordens do marechal britânico Bernard Montgomery, entrou no bunker onde Hitler se tinha suicidado a 30 de abril, juntamente com a mulher, Eva Braun.
Rayner fora enviado a Berlim para estabelecer contacto com as forças soviéticas, as primeiras dos Aliados a entrarem e a tomarem a capital do derrotado III Reich. O bunker do Führer era de visita obrigatória, e Ralph entrou ali acompanhado de soldados soviéticos.
Os seus acompanhantes queriam oferecer-lhe para recordação o telefone preto de Eva Braun. Mas o militar britânico já tinha fixado os olhos num telefone vermelho, que topara num compartimento contíguo. “É este que quero”, disse à sua escolta.
Quiseram saber porquê, os soviéticos. “A minha cor favorita é o vermelho”, inventou Ralph Rayner, para grande risota dos seus acompanhantes, que o deixaram levar o aparelho. Distraídos, os soviéticos, ao contrário da argúcia de Ralph, não repararam que aquele telefone vermelho tinha gravados o nome de Hitler e uma suástica.
É este aparelho que, no próximo dia 19, vai a leilão na cidade americana de Chesapeake, no Estado de Maryland. A leiloeira, Alexander Historical Auctions, especifica que o telefone foi disponibilizado a Hitler pelo Estado-Maior nazi. Era um Bakelite preto, da Siemens, que o ditador mandou pintar inteiramente de vermelho e que fosse personalizado com o seu nome e a suástica.
A Alexander Historical Auctions informa ainda que o telefone vermelho foi usado por Hitler, nos dois últimos anos da II Guerra Mundial, para transmitir uma avalancha de ordens, até à derrocada do Reich nazi. A leiloeira espera arrecadar com a venda do aparelho entre 185 mil e 278 mil euros.
O vendedor é Ranulf Rayner, de 82 anos, que herdou o telefone após a morte do seu pai, Ralph, em 1977. Ranulf conta que o pai nunca considerou o aparelho como uma relíquia, mas antes enquanto símbolo da derrota do ditador nazi e um troféu de guerra. E jamais lhe passou pela cabeça que fosse tão importante e valesse tanto.
Ralph conseguiu esconder o telefone vermelho, dissimulando-o no seu equipamento. Tinha perfeita noção de que, se fosse apanhado, seria julgado por roubo em tribunal militar. Mas ainda trouxe um segundo souvenir do bunker: um pequeno cão em porcelana que o sinistro Himmler oferecera a Hitler.