O ex-ministro francês da Educação Benoit Hamon foi este domingo escolhido para ser o candidato socialista às eleições presidenciais, de abril, ao derrotar o antigo primeiro-ministro Manuel Valls.
Hamon obteve 58,65% dos votos nas primárias dos socialistas, contra 41,35% de Valls, de acordo com os primeiros resultados provisórios, e depois de terem sido contados 60% das mesas, nas quais votaram cerca de 1,1 milhões de eleitores.
Um total de perto de dois milhões de pessoas participou na segunda volta das primárias socialista, contra 1,6 milhões de eleitores, na primeira volta, e de quatro milhões de pessoas que participaram, em dezembro passado, nas primárias da direita.
Hamon representa a alta mais à esquerda do Partido Socialista francês e a fação mais crítica do atual Presidente, François Hollande, do qual Manuel Valls foi ministro do Interior e, depois, chefe do executivo. Venha conhecê-lo melhor:
O expatriado
Benoît Hamon nasceu há 49 anos em Sain-Renan, na Finisterra, ali no finzinho da Bretanha, mas foi em Dakar, no calor do Senegal, que diz ter crescido verdadeiramente. O pai era engenheiro naval, a mãe professora, e ele havia de estudar nos maristas, um colégio de padres onde aprendeu a defender os mais fracos. Mais velho de quatro irmãos, habituou-se cedo a abrir caminho, a reparar nos contrastes. E, quando regressou a França, não sofreu apenas com o céu tantas vezes cinzento. “No liceu, éramos apenas quatro alunos de esquerda. Mas o que me incomodava mais era ser tudo demasiado branco, demasiado loiro, demasiado uniformizado.”
O ‘petit nom’
Foi Martine Aubry, no seu gabinete de ministra do Emprego, em 1997, que começou a chamar-lhe “petit Ben” ou “petit Benoît”. O petit nom não tinha caráter depreciativo – aos 30 anos, Benoît já levava quatro à frente dos Jovens Socialistas, e Aubry havia de gostar tanto da sua prestação que o nomearia porta-voz do PS, em 2008. Agora, a atual autarca de Lille apoia naturalmente a sua eventual eleição para Presidente.
O esquerdista total
Afirma-se socialista da “esquerda total”, defendendo a semana das 32 horas, a legalização da cannabis ou o rendimento básico universal. Bate-se pela integração dos imigrantes e pelo reconhecimento da Palestina. Os avós eram mecânicos e agricultores, e o pai começou como aprendiz, subindo todos degraus até conseguir licenciar-se, lembrou ele quando chegou a ministro da Educação, em 2014.
O político profissional
Os seus detratores – que os há, claro – gostam de lembrar que nunca trabalhou numa empresa. É verdade. Entrou na política como muitos, pela porta do ativismo. Para quem vinha de uma sociedade multicultural, o racismo sentido em Brest no início dos anos 80 chocava. Foi, por isso, ainda no liceu, onde havia vários jovens da Frente Nacional, que aderiu ao SOS Racismo. Pouco depois entrava no Partido Socialista e começava a somar cargos políticos. Mesmo, assim, os analistas escreveram agora que os seus correligionários não o viram chegar (ao topo). Chamam-lhe mesmo “o inesperado” por ter ultrapassado Manuel Valls num ai.