Os gatos selvagens estão por todo o lado na Austrália. Um estudo recente, pedido pelo Governo australiano a um grupo de 40 especialistas, estimou que possam existir até 6,3 milhões desses felinos na ilha-continente, que facilmente se adaptam a ambientes de deserto ou de floresta tropical. À sua voracidade, só escapam espécies locais que se encontram em zonas protegidas por cercas antigato.
Nada têm a ver com o tranquilo gato de companhia, como é óbvio. E tornaram-se num problema de tal forma grave que o Governo australiano declarou abertamente “guerra” aos gatos selvagens, fixando o objetivo de matar dois milhões, por envenenamento, até 2020. O estudo produzido por aqueles cientistas conclui, sem margem para dúvidas, que os gatos selvagens estão a devastar a fauna única da Austrália. “É uma das espécies invasivas mais destrutivas”, lê-se no documento.
Os especialistas responsabilizam estes gatos pelo desaparecimento de uma trintena de espécies endémicas australianas, sobretudo mamíferos. Neste momento, dizem, a taxa de extinção de mamíferos na ilha-continente é a mais alta desde há 200 anos. Além de que estes felinos também ameaçam a existência de pássaros e répteis.
De par com a Antártida, a Austrália é um continente onde os animais evoluíram sem que houvesse gatos entre eles, o que explica a extrema vulnerabilidade da fauna local face a esses felinos. Os gatos seriam introduzidos na ilha-continente pelos primeiros colonos, no fim do séc. XVIII, para ataque a roedores. Eram originalmente animais domésticos, mas acabaram por ser largados na Natureza, adaptando-se ao modo de vida selvagem. E revelaram-se caçadores implacáveis.
Na sociedade australiana, a matança anunciada pelo Governo é um assunto pacífico. Nenhuma controvérsia foi suscitada. Mas Brigitte Bardot, estrela icónica do cinema francês e defensora acérrima dos direitos dos animais, já iniciou uma campanha que denuncia “um genocídio desumano e ridículo”. Em resposta, através do diário francês Le Monde, Sarah Legge, professora na Universidade australiana de Queensland, e especialista que participou no estudo em que o Governo de Camberra se baseou para tomar a drástica decisão, lançou um desafio a Brigitte Bardot. “Se cá vier, ela poderá ver a diferença quando retiramos gatos da floresta australiana. Encontrará espécies que só aqui existem. Hei de explicar-lhe que ou temos esses animais extraordinários ou temos os gatos. Nunca os dois.”