António Tajani foi eleito presidente do Parlamento Europeu. E com essa eleição baralhou muitos dos equilíbrios em que assenta a política europeia. É com Tajani a liderar os 750 eurodeputados há dois pesos que ficam a valer mais nesta balança que se chama União: Itália torna-se o país de origem dos líderes de três das principais instituições que compõem a Europa e o Partido Popular Europeu reforça a sua supremacia nos altos cargos.
Ora vejamos: com a eleição de Tajani, Itália – um dos membros fundadores da UE – vê-se representada na presidência do Parlamento Europeu, no Banco Central Europeu, liderado por Mário Draghi, e por Frederica Mogherini, a Alta Representante para a Política Externa da UE.
O equilíbrio entre grandes famílias políticas – o PPE e os Social-democratas (S&D) – também fica desequilibrado. Se até aqui os socialistas lideravam o Parlamento Europeu, com Martin Schulz, e tinham em Mogherini outra apoiante, agora veem o PPE somar à presidência do Conselho Europeu, de Donald Tusk, e à liderança da Comissão Europeia, de Jean-Claude Juncker, a presidência do Parlamento Europeu por Antonio Tajani.
Com esta eleição os riscos adensaram-se para quem lidera outros cargos na União. O lugar de Donald Tusk fica mais em risco do que nunca, ele que tem o mandato a terminar já no próximo mês de maio. O mais certo, como a VISÃO já vinha escrevendo, é que seja escolhido para o seu lugar alguém ligado aos socialistas. Embora com a força de Itália a aumentar, o nome de Matteo Renzi, o antigo primeiro-ministro italiano, deixe de fazer sentido para as contas. Também Frederica Mogherini pode ver o seu lugar posto em causa, mas quando se fala da hipótese da alta representante concorrer em futuras eleições internas no seu país, o problema pode resolver-se por si mesmo.
Que força terão os liberais no futuro?
Certo é que neste jogo de equilíbrios, a aliança que o PPE teve que fazer ontem com os liberais da Aliança dos Liberais e Democratas Europeus (ALDE), de Guy Verhofstadt, pode também baralhar as contas e dificultar as decisões.
A ser verdade a frase de Gianni Pittella, o líder dos S&D no Parlamento Europeu – derrotado ontem por Tajani –, “nunca mais teremos uma grande coligação” em Estrasburgo, garantiu. “Precisamos de transparência. A Europa e as nossas democracias precisam de divisões claras entre ideias”, sublinhou Pittella.
Ora, com os ânimos tão divididos entre PPE e S&D, como serão feitas as negociações para os altos cargos da União? Haverá possibilidade de o acordo entre PPE e os liberais se estender?
Para já, o que o documento assinado entre os dois promete um “plano aberto a todos os grupos pró-europeus. É uma coligação de ideias. Para mudar a direção da União Europeia vem tomando”. A tentativa de deixar de fora os vários grupos anti-europeus que têm vindo a ganhar força no Parlamento Europeu foi, aliás, uma das justificações para que os liberais decidissem apoiar Tajani, na certeza de que a “Europa está em crise”.
Mas há já outras conquistas para o grupo de Verhofstadt. Entre elas, a liderança da Conferência dos Presidentes das Comissões. Um cargo de bastidores, é verdade. Mas que como qualquer cargo de bastidores e sobretudo numa UE onde a burocracia impera, o poder de quem o ocupa pode ser imenso. Desde logo será aqui que se jogará um importante papel nas negociações do Brexit, desde logo pela coordenação de todo o trabalho parlamentar que será necessário. Um notícia pouco animadora para os britânicos, já que Verhofstadt, que lidera a equipa de negociação do Parlamento Europeu com o Reino Unido para o “Brexit”, não tem perdido qualquer oportunidade para lembrar o Reino Unido de que não haverá facilidades por parte da UE. Há alguns meses, o líder do UKIP Nigel Farage acusou a Europa de estar a “declarar guerra” ao Reino Unido ao apontar um “fanático” federalista como Guy Verhofstadt para as negociações.
Adivinham-se tempos quentes pelos lados de Estrasburgo.