O feitiço está a virar-se contra o feiticeiro. Entre novas denúncias de assédio sexual e histórias enterradas no passado que voltam à superfície, são já mais de dez as mulheres com queixas sobre os avanços sexuais de Donald Trump contra a vontade delas – do beijo na boca e apalpões à violação consumada ou tentativas falhadas.
O candidato republicano à Casa Branca nega “categoricamente” todas as acusações e sobre a mais recente, da ex-jornalista da revista People Natasha Stoynoff – “em segundos estava a empurrar-me contra a parede e a forçar a sua língua na minha garganta” -, reagiu assim, ontem à noite, perante 15 mil apoiantes: “Vejam bem, olhem para ela, olhem para as palavras, e digam-me o que pensam. Não creio, não creio.”
Num artigo publicado esta quarta-feira na People, Natasha Stoynoff conta que, em 2005, num intervalo de uma entrevista a Donald e Melania Trump a pretexto do primeiro aniversário do casamento, foi salva pelo mordomo depois de Trump a ter conduzido a um quarto sem ninguém, na mansão dele na Florida. Stoynoff escreve que estava a lutar para se livrar da investida de Trump quando o funcionário bateu à porta para avisar que Melania já havia trocado de roupa para as fotografias e que estava pronta para retomar a entrevista. Segundo a jornalista, o anfitrião não parou por ali e, quando ficaram de novo a sós, insistiu: “Sabes que vamos ter um caso, não sabes?”.
Natasha Stoynoff, que abandonou a revista em 2009, acrescenta que, a seu pedido, deixou de escrever sobre Trump desde aquele dia, mas nunca o denunciou “por medo” que ele a desacreditasse.
Mais de dez anos depois, a agora escritora decidiu seguir o exemplo de outras mulheres e partilhar a sua história, na sequência dos últimos acontecimentos que colocam em causa a conduta do candidato republicano à presidência dos Estados Unidos em relação ao sexo oposto. Ontem, a primeira dama Michelle Obama disse de sua justiça: “Não consigo parar de pensar nisto, na ideia de que podes fazer tudo o que quiseres a uma mulher. É cruel, assustador. E a verdade é que magoa. Isto não é normal.”
Donald Trump defendeu-se das primeiras acusações de assédio sexual, emergidas a partir de um vídeo divulgado há uma semana pelo Washington Post, com um ataque feroz a Bill e Hillary Clinton, acusando o ex-presidente americano de abusar de mulheres e a agora candidata à Casa Branca de encobrir as ações do marido. Durante o segundo debate televisivo com a rival democrata, sábado passado, deixou também a garantia de nunca ter tocado em mulheres contra a vontade delas, declaração que acabou por fazer uma espécie de efeito de ricochete. Desde então, não param de surgir novas denúncias de cariz sexual sobre o suposto comportamento inapropriado de Trump, ao mesmo tempo que outras já conhecidas, mas que permaneciam esquecidas nos arquivos, voltam a ganhar atualidade.
“É pura ficção”, reage o acusado, responsabilizando a comunicação social e “a máquina dos Clinton” por aquilo a que apelida de “ataque concertado” para destruir a sua campanha. “Os Clintons são criminosos, lembrem-se disso. Eles são criminosos”, atirou no comício de ontem na Florida. “E pessoas que são capazes de crimes contra a nação são capazes de qualquer coisa.”
VEJA OS DISCURSOS DE DONALD TRUMP E MICHELLE OBAMA:
As outras mulheres que acusam Trump de agressão sexual:
Jessica Leeds – Contou esta semana ao The New York Times que Trump a apalpou como “um polvo” durante uma viagem de avião no início dos anos 80.
Ivana Trump – No processo de divórcio, em 1993, a primeira mulher de Trump acusou-o de a ter violado, mas após chegar a acordo com o ex-marido alegou tratar-se de “linguagem de advogados” e recuou para uma versão mais suave, ao dizer antes que se sentira “violentada”
Jill Harth – Em julho, veio a público garantir que Trump investiu sobre ela durante uma festa que ofereceu na sua mansão da Florida, em 1997. “Empurrou-me contra a parede, as mãos dele sobre mim, e tentou subir-me o vestido”, afirmou ao The Guardian, explicando que só decidiu falar agora porque os jornais descobriram a ação que interpôs na altura (e depois retirou) porque Trump lhe chamou mentirosa quando o confrontaram com o caso.
Temple Taggart – Disse ao The New York Times, em maio, que Donald Trump a beijou na boca quando a conheceu no concurso de beleza para eleger a Miss Utah, em 1997. Mais tarde, repetiu o abuso, segundo ela.
Mariah Billardo – Teve de se vestir à pressa para que Trump não a visse despida no balneário do evento Miss América Adolescente, em 1997, revelou esta semana ao site Buzzfeed. O então detentor dos direitos do concurso de beleza é acusado de ter afirmado na ocasião: “Não se preocupem, senhoras, não é nada que não tenha visto antes.”
Tasha Dixon – Em declarações esta semana à CBS, a concorrente a Miss América em 2001 contou que Trump entrou no balneário sem dar tempo “sequer para vestir um robe”. Algumas candidatas “estavam nuas e outras em topless”, assumiu.
Bridget Sullivan – O mesmo tipo de acusação, mas no concurso de Miss América de 2000. “Estávamos todas nuas”, descreveu esta semana ao Buzzfeed, referindo-se ao momento em que Trump entrou pelo balneário.
Mindy McGillivray – Ao jornal Palm Beach Post, acusou esta semana o candidato republicano à Casa Branca de lhe ter “apalpado o rabo”, durante uma sessão fotográfica em 2003.
Rachel Crooks – Ex-rececionista na Trump Tower, garantiu esta semana ao The New York Times que, em 2005, quando tinha 22 anos, Trump a beijou “na boca” junto a um dos elevadores: “Senti-me insignificante.”
Cassandra Searles – Em junho deste ano, o Yahoo citou o que a Miss Washington 2013 escreveu no Facebook, como legenda de uma foto em que aparece ao lado de Trump: “Provavelmente ele não me quer a contar a história daquela vez em que apalpou continuadamente o meu rabo e me convidou para o seu quarto de hotel.”
“Jane Doe” – É o nome falso de uma mulher que acusa Trump de a ter violado aos 13 anos. Um juiz de Nova Iorque considerou haver indícios suficientes para levar o caso a julgamento. Está previsto começar em dezembro.