Diane Kincaid e Hillary Rodham já tinham ouvido falar uma da outra quando se encontraram em Fayetteville, no Arkansas, em 1974. Diane dava ali aulas na universidade há nove anos e Hillary fôra desafiada pelo seu namorado a trocar Washington, onde trabalhava na comissão que investigava o Caso Watergate, por uma terra sem bagels. Bill Clinton estudara Direito em Yale e havia de começar a sua carreira na política no Arkansas, depois de se tornar amigo de Diane.
Quando Hillary chegou a Fayetteville, reviu-se nas saudades que Diane tinha de Washington. Nunca mais se separaram. Seria ela a apresentar Jim Blair à sua amiga, e os dois casais passariam a fazer programas juntos.
A amizade manter-se-ia até à morte de Diane, de cancro, em 2000, com Hillary a telefonar-lhe diariamente durante os últimos meses. E, após a sua morte, as cartas, diários, depoimentos públicos e notas de trabalho – centenas de papéis que foi guardando – ficaram arquivados na Universidade do Arkansas. Todos juntos, resultam no retrato mais íntimo de sempre da sua amiga Hillary Clinton, escreve-se no Washington Post, que teve acesso ao espólio.
Como os canários nas minas
Foram trinta anos de amizade em que Diane, entretanto casada com Jim Blair, fez as vezes de amiga, ombro e conselheira. A amiga que analtecia as qualidades de liderança de Hillary, comparando-a aos canários que costumavam ser levados para as minas, servindo de alerta para o caso de haver problemas no ar, neste caso “pelo bem das mulheres na América”. O ombro onde Hillary se apoiou quando decidiu não se separar depois do marido se envolver com Monica Lewinsky. “Porque é teimosa mas também por causa da maneira como foi educada e do seu orgulho.” E conselheira nos tempos em que os Clinton ocuparam a Casa Branca.
Logo em 1992, quando Bill Clinton decidiu concorrer à presidência, Diane ia muitas vezes a Washington fazer o “trabalho sujo”, escreveu. “Tinha de apanhar as granadas que eram atiradas sem parar, de todos os lados, e devolvê-las à procedência antes que explodissem na sua cara.”
Mais tarde, quando a sua amiga já era a Primeira Dama, seria incansável e implacável a montar contra-ofensivas sempre que os jornalistas atacavam o casal presidencial. Seria igualmente eficaz a reescrever os primeiros anos de Bill Clinton na política, como governador. Hillary não queria o passado escrito por mãos alheias, sobretudo quando essas mãos “se enganavam tanto”. E, para ela, Diane Blair era tão eficiente que não havia notícia que não conseguisse refutar.