O confronto continua e a França caminha para a paralisação. Depois de uma greve geral (na quinta-feira, 27) durante a qual a produção de eletricidade baixou 6% e 20% das estações de serviço estiveram paradas, os protestos contra a nova Lei do Trabalho – ou Lei Khomri, como também é conhecida por ser proposta da ministra do Trabalho, de origem marroquina, Myriam El Khomri – não param.
Embora Manuel Valls, o primeiro-ministro francês, assuma que a lei pode sofrer melhorias, é certo que não aceita “tocar no artigo 2”, o mais contestado, segundo o qual têm primazia os acordos de empresa sobre a contratação coletiva no que respeita á gestão dos tempos de trabalho. Myriam El Khomri também se pronunciou ontem sobre os protestos, considerando que mexer no artigo 2 seria “desvirtuar” a lei. Contudo, a cacofonia entre os membros do governo francês não para. O ministro das finanças do executivo gaulês, Michel Sapin, declarou, no dia da greve geral, que “talvez [fosse] necessário tocar no artigo 2”.
Hoje de manhã, François Hollande, que se encontra no Japão para participar numa cimeira do G7, considerou o projeto de lei uma boa reforma. O presidente da República francesa considerou ainda que o “primeiro dever” do executivo é garantir “ a liberdade de circulação” e o “bom funcionamento da economia”, respondendo assim aos sindicalistas que pediram uma “amplificação da mobilização” na noite da greve geral.
Recusando um ultimato, o presidente francês adiantou na conferência de imprensa em Shima, no Japão, que a lei seguirá para Senado (Câmara Alta) e será depois devolvida à Assembleia Nacional (Câmara Baixa), sendo nesse “quadro que as discussões devem ter lugar”. Para evitar problemas com os deputados socialistas que não apoiam a reforma laboral, que poderiam impedir a aprovação da lei, o executivo de Manuel Valls usou uma prerrogativa constitucional francesa que permitiu aprová-la sem a habitual passagem pela Assembleia Nacional.
A frente intersindical que está a liderar as contestações – da qual fazem parte sete centrais sindicais lideradas pela CGT, a Confédération Générale du Travail – marcou para 14 de junho uma grande manifestação nacional em Paris, enquanto anunciou uma “votação cidadã” nas “empresas, administrações e lugares de estudo” sobre a lei de reforma do Código do Trabalho.
Entre os prejudicados pelos protestos e a greve geral de ontem encontram-se as pequenas e médias empresas francesas. O bloqueio de postos de abastecimento e a paragem das refinarias francesas está a provocar a escassez de combustível em várias regiões do país. Também a indústria petroquímica do país está a sofrer. “Entre 20 a 30 fábricas – cerca de 10% da produção francesa – pararam, principalmente na Normandia e em Lyon, por falta de matéria-prima. Isto representa uma perda d eprodução de 10 a 15 milhões de euros por dia”, assegurou ao Le Monde Jean Pelin, diretor-geral da União das indústrias químicas.