Num lugar escarpado, na fronteira entre a província turca de Hatay e Alepo na Síria, de um lado, os sequestradores da Frente Al Nusra (filial síria da Al Qaeda) com os seus reféns; do outro, militares turcos e pessoal do serviço secreto CNI e do Ministério do Exterior espanhol.
A cena evoca a troca de espiões no Checkpoint Charlie em Berlim durante a Guerra Fria. Depois da refeição, os sequestradores conduziram Pampliega, López e Sastre até à fronteira com a Turquia, a cerca de 50 km da cidade síria de Alepo, onde foram capturados há dez meses, a 12 de julho de 2015. Apesar de, nos primeiros três meses de cativeiro, os três jornalistas terem estado juntos, Pampliega foi separado dos companheiros e os três só se voltaram a encontrar na hora da libertação, no passado sábado, 7, à tarde.
Por volta das cinco horas, os jihadistas e os seus reféns estacionaram no lado sírio da fronteira, enquanto do outro lado esperavam-nos há várias horas funcionários espanhóis escoltados por militares turcos. Primeiro foi preciso comprovar que se tratava, realmente, dos três jornalistas e que os sequestradores não iriam entregar gato por lebre. Com a ajuda de um telemóvel, os funcionários espanhóis questionaram os repórteres com perguntas pessoais transmitidas pelos seus familiares e cujas respostas só eles podiam conhecer. Depois de verificadas as suas identidades, os três cruzaram, um a um, o lado turco escoltados pelos intermediários. O receio de os jihadistas, que comprovaram todos os detalhes antes de libertá-los, tornou o processo interminável. Só terminaria já ao cair da noite.
Os funcionários espanhóis comunicaram a Madrid que os jornalistas estavam sãos e salvos, tendo a vice-presidente do governo espanhol, Soraya Sáenz de Santamaría, de quem depende o CNI, falado com eles. Também foi possível aos jornalistas falarem com alguns familiares, que não ouviam há dez meses.
O processo de libertação terminaria às 20 e 36.
A comitiva dirigiu-se ao aeroporto internacional de Hatay, onde os esperava um Falcon 900 da Força Aérea espanhola, para repatriá-los. Ao amanhecer, o avião levantou voo para a base de Torrejón de Ardoz, em Madrid, onde chegou por volta das dez horas da manhã seguinte. Saíram pelo seu próprio pé, visivelmente mais magros, mas aparentemente bem de saúde. As cerca de seis horas de viagem permitiu-lhes tomar banho e fazerem a barba.
Mais tarde haveriam de contar que os sequestradores os tinham tratado bem e com um comportamento correto. Mudaram-nos de casa seis vezes, sempre em habitáculos fechados, e em nenhuma ocasião puderam sair para o exterior. Não sabiam em que lugar da Síria se encontravam. Comiam a mesma comida que os sequestradores e a maior parte do tempo estiveram encapuzados, exceto quando um imã lhes deu uma palestra, numa tentativa de os converter ao islamismo, mas sem sucesso.
Um dos maiores medos dos três jornalistas não chegou a concretizar-se: serem vendidos ao Estado Islâmico. Para a Frente Al Nusra, os reféns não eram objetos de propaganda mas sim moeda de troca.