Tajiquistão
O playboy de Duchambé
Mesmo os poderosos, no Tajiquistão, sabem que há duas coisas que Rustam Emomali, 29 anos, não aprecia – que o precedam nos luxuosos carros que encomenda ou que se amantizem com as mulheres que deseja, ou mesmo com aquelas de que já se fartou. São ousadias que podem acabar em confisco, no exílio ou na prisão. Sai ao pai, Emomali Rakhmov, useiro e vezeiro em fazer divorciar mulheres anteriormente casadas para se juntarem ao harém presidencial, quer o desejem quer não e prendendo quem for preciso prender. Rustam, general desde os 25 anos, é conhecido por andar sempre acompanhado de belas modelos e por as suas serem as melhores festas notívagas de Duchambé. Já foi chefe das alfândegas – um dos lugares mais lucrativos num país de corrupção endémica –, presidente da federação de futebol nacional e dono de um clube, representante do pai na Organização Mundial do Comércio e presidente da Agência anticorrupção. A Constituição do país acaba de ser alterada de forma a que Rakhmov, já no quarto mandato sucessivo, possa ser líder vitalício. E, não vá o diabo tecê-las, a idade para se ser Presidente baixou, o mês passado, para os 30 anos.
Angola
Zenu sucede a Zedu?
José Filomeno dos Santos (Zenu), 37 anos, é presidente do fundo soberano de Angola, que gere dinheiros públicos no valor de 4 mil milhões de euros, provenientes da exploração petrolífera. A sua recondução no cargo, já em 2015, foi vista como mais um sinal de que será ele o provável sucessor do pai, José Eduardo dos Santos (Zedu). Mas, se houvesse quem dele esperasse mais abertura, foi rapidamente desenganado. Conta o jornalista Rafael Marques, no seu site Maka Angola, que o ativista António Diogo de Santana Domingos “Magno” foi detido, este outubro, por agentes da segurança do Estado. O seu “crime” terá sido ter enviado uma carta a Zenu em que lhe pedia para que intercedesse junto do seu pai, no sentido de serem libertados os 15 jovens ativistas presos, entre os quais Luaty Beirão, o rapper que esteve 39 dias em greve de fome, em protesto contra a sua detenção. Os 15 jovens foram acusados de planearem atividades criminosas contra a ordem e segurança públicas. Estariam a discutir, juntos, um livro: Ferramentas para destruir o ditador e evitar nova ditadura – Filosofia Política da Libertação para Angola (183 páginas), do académico angolano Domingos da Cruz.
Bielorrússia
O miúdo ‘general
“Mini-me” (pequeno eu). É como o USA Today chama ao filho de Alexander Lukashenko, Nikolai, conhecido pelo diminutivo Kolya, a quem, rezam as estórias, Vladimir Putin terá mandado oferecer uma “pistola dourada”, que exibe com frequência. Uma criança, hoje com 11 anos, que habita na última ditadura estalinista da Europa, que por vezes aparece de fato e outras vezes de minigeneral – sempre imitando o pai. O Presidente da Bielorrússia já levou o miúdo a uma Assembleia Geral da ONU – fê-lo sentar–se junto do seu próprio embaixador. O rapaz tem surgido ao lado do pai desde que tem quatro anos – parece que nem consegue adormecer sem que o pai esteja ao pé… É o terceiro filho de Lukashenko, diz-se que graças a uma ligação, nunca reconhecida, com a sua médica pessoal, Irina Abelskaia. Quando tinha apenas sete anos, Kolya já tinha sido recebido pelo Papa Bento XVI, pelo primeiro-ministro da Rússia, Dmitry Medvedev, e pelo líder da Venezuela, Hugo Chávez. O pai, Alexader Lukashenko, governa a Bielorrússia com mão de ferro há 21 anos.
Cazaquistão
A filha do Presidente
Dariga Narzabayeva tem sido a mais visível das três filhas do Presidente do Cazaquistão, Nursultan Nazarbayev, recentemente “reeleito” Presidente desta ex-república soviética, rica em petróleo, com 97,7% de votos a seu favor. Foi casada com Rakhat Aliev, um cirurgião que, até cair em desgraça e ter sido encontrado morto, de aparente suicídio, na Áustria, onde se preparava para enfrentar duas acusações de homicídio, era dos homens mais poderosos do país. Dariga é, desde maio de 2015, primeira-ministra executiva – uma nomeação em que alguns veem a preparação, pelo chefe de Estado, de 74 anos, da sua própria sucessão dinástica. Ela tem 52 anos.
Uzbequistão
Bruxarias e casas de milhões
Desde que Gulnara Karimova caiu em desgraça – acusada de corrupção e posta em prisão domiciliária por ordem do próprio pai, Islam Karimov, de 77 anos, e no poder no Uzbequistão desde 1990 – que a sua menos conhecida irmã, Lola Karimova- -Tillyaeva, de 37 anos, tem sido apontada como a sua sucessora natural. Lola tem uma postura muito mais low profile do que a sua irmã – que era designer de moda e estrela pop, até que as duas se desentenderam publicamente: “Uma parte da nossa família (o pai) constrói. Mas outra destrói e é amiga de feiticeiras”, escreveu, Gulnara, em 2013, na sua conta Instagram. Apesar de garantir não querer servir em cargos públicos, Lola é embaixadora do Uzbequistão junto à UNESCO desde 2008, o que lhe tem permitido manter um discreto mas luxuoso estilo de vida em Genebra. Alegadamente, Lola terá comprado uma mansão – estilo castelo francês, neorromântico – em Beverly Hills, uma das zonas residenciais mais caras dos EUA, por uns meros 58 milhões de euros.
Uganda
O chefe da guarda pretoriana
Muhoozi Kainerugaba, brigadeiro, comandante da Guarda Presidencial, que tem a seu cargo a proteção do seu pai, o Presidente ugandês Yoweri Museveni, foi acusado, em 2013, de querer transformar o país numa monarquia constitucional – acusação que negou. Nesse ano, o general David Sejusa revelou aos meios de comunicação social ugandeses um suposto plano para executar quem se opusesse a um denominado “Projeto Muhoozi” de sucessão dinástica, que o obrigaram a fugir do país e a exilar-se no Reino Unido. Este plano foi veementemente negado tanto pelo pai como pelo filho. Mas não se pode confiar nas promessas de Museveni: quando chegou ao poder era um defensor da existência de limites constitucionais aos mandatos presidenciais. Em 2005, alterou a lei suprema, de forma a perpetuar-se no poder. Depois de ter ganho as eleições de 2011 – cujos resultados foram contestados por diversas ONG internacionais e pela União Europeia, Museveni é de novo candidato, a um quinto mandato, já no próximo dia 18 de fevereiro.
Guiné Equatorial
Os luxos de Teodorin
Teodoro, “Teodorin” Nguema Obiang Mangue, 47 anos, ocupa o posto de vice-presidente e é responsável pela pasta da Defesa da Guiné Equatorial. O seu irmão, num país onde a poligamia é assumida e normal, é filho da segunda dama, ministro da Energia, Indústria e Minas – Gabriel Obiang Mangue. O pai, Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, controlava, segundo uma investigação realizada pelo Senado do Estados Unidos, num só banco, mais de 700 milhões de dólares, em 2004. O sucessor natural é Teodorin, embora ambos os filhos sejam famosos pelo seu luxuoso e ostentoso estilo de vida: quando a justiça francesa ordenou o arresto dos bens do putativo herdeiro, na luxuosa propriedade que possuía na Avenue Foch, uma das artérias mais caras de Paris, foram confiscados nada menos do que 14 carros de luxo, entre Maseratis, Bentleys, Rolls Royces e Bugattis. 5000 metros quadrados, com obras de arte de Degas, Rodin, Bonnard. Não se sabe quem ganhará a disputa pelo poder. Provavelmente Teodorin. A Guiné Equatorial terá tantos habitantes que falam português que caberiam num salão de cabeleireiro. Mas faz parte da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa). Tinha, até à baixa do preço do petróleo, um dos maiores PIBs per capita de África: 32 mil dólares. A esmagadora maioria da população vive na miséria. Mas o delfim do regime, segundo as investigações da justiça francesa, continua a gastar 2,3 milhões de euros em garrafas do exclusivíssimo vinho Petrus.