O túmulo do falecido ditador do Iraque, Saddam Hussein, desmoronou com os pesados combates entre militantes do Estado Islâmico e as forças iraquianas em luta pela posse da cidade de Tikrit.
Os combates intensificaram-se a norte e a sul da cidade natal de Saddam, no passado domingo, depois das forças de segurança iraquianas terem prometido chegar ao centro de Tikrit num prazo de 48 horas. Tudo o que restou do exuberante túmulo de Hussein foram as colunas que suportavam o telhado.
Retratos de Saddam em formato poster, que enfeitavam o mausoléu, desapareceram do meio das pilhas de escombros. Em vez disso, várias bandeiras de milícias xiitas e fotografias de líderes da milícia podiam ser vistas, espalhadas pela aldeia predominantemente sunita. Entre as fotos, figurava a de Qassem Soleimani, o poderoso general iraniano que dava aconselhamento militar às milícias xiitas iraquianas no campo de batalha.
“Esta é uma das áreas onde os militantes do EI se concentraram mais, porque é aqui o túmulo de Saddam,” afirmou o capitão Yasser Nu’ma, um oficial das milícias xiitas, conhecidas como as Forças de Mobilização Pouplar. Afirmou também que os militantes do EI montaram uma armadilha, ao colocarem bombas em redor do túmulo.
O EI tem controlado a cidade de Tikrit desde junho, em que se travou uma ofensiva relâmpago, que o fez ganhar o controlo de Mossul, a segunda maior cidade do Iraque. Os militantes foram ajudados na sua conquista no norte do Iraque, por seguidores de Saddam, incluindo militares veteranos que apelaram aos sunitas, que se sentiam vítimas do governo dominador xiita de Bagdad.
O EI tinha declarado em agosto que o túmulo de Saddam Hussein havia sido completamente destruído, mas as autoridades locais afirmaram que tinha sido apenas saqueado e incendiado, tendo sofrido apenas danos menores.
Saddam foi capturado pelas forças militares norte americanas em 2003 e a sua execução por enforcamento teve lugar em Dezembro de 2006, depois de ter sido considerado culpado, por um tribunal especial iraquiano, de crimes contra a humanidade, pelo assassinato em massa de xiitas e curdos. O seu corpo foi mantido no mausoléu, na sua cidade natal, em Ouja, desde 2007. A construção contava com um octógono de mármore ao centro, onde uma cama de flores frescas cobria o sítio onde o seu corpo estava sepultado. O candeeiro extravagante que pendia ao centro era uma reminiscência da vida extravagante que levou até ter sido derrubado pelas forças norte americanas em 2003.
Os órgãos de comunicação social informaram no ano passado de que o corpo de Saddam tinha sido removido por receio de que pudesse ser perturbado durante os combates. A localização do corpo é desconhecida.
Para a recaptura de Tikrit, um bastião sunita no rio Tigre deverá preparar um assalto em Mossul, o qual as autoridades norte americanas disseram poder acontecer já no próximo mês.
Existem preocupações crescentes de que milícias xiitas iraquianas, das quais cerca de 20.000 estão a lutar em Tikrit, possam conduzir ataques de vingança nesta e outras áreas de predominância sunita.
A Amnistia Internacional disse no ano passado que, apesar de ostentarem uniformes militares, as milícias operavam fora de qualquer quadro legal e sem qualquer supervisão oficial, acrescentando ainda que não foram julgados pelos seus crimes. No início deste mês, a Human Rights Watch fez ecoar estas preocupações, pedido ao governo iraquiano para proteger os civis em Tikrit e permitir-lhes fugir das zonas de combate. Na declaração foi enfatizada a referência a “numerosas atrocidades” contra civis sunitas por milícias pró-governo e forças de segurança.
Os militantes xiitas estão a ser cada vez mais acusados de destruir as cidades sunitas que resgatam do EI, tornando impossível o regresso dos residentes. Em meses de violências, Tikrit já foi fortemente destruída. Uma imagem de satélite da cidade, divulgada o mês passado pelas Nações Unidas, permitiu constatar a destruição de 137 edifícios e a danificação severa de outros 241.
Os combatentes sunitas tribais locais têm formado alianças desconfortáveis com o exército iraquiano e milícias xiitas na batalha por Tikrit, o que as autoridades iraquiana e norte amerciana acreditam ser essencial para derrotar o grupo militante sunita.
Yazan al-Jubori, um sunita de Tikrit a lutar ao lado das milícias xiitas, disse que os militantes do EI mataram 16 parentes seus e manteve os restantes membros da família sob terror. “Queremos vingar-nos dos militantes do EI que mataram as nossas crianças,” disse ele.