O anúncio da morte de Kim Jong Il foi feito por uma apresentadora da televisão estatal lavada em lágrimas e vestida de preto. As imagens correram o mundo e nos dias que se seguiram foram exibidas peças televisivas nas estações internacionais onde os norte-coreanos choravam e carpiam, lamentando o falecimento do seu líder.
As imagens de dor e sofrimento são um retrato emotivo do pesar do povo, mas há quem já questione a razão dos lamentos, colocando em causa a genuinidade do pranto.
Anthony Daniels, membro de uma comissão britânica que visitou a Coreia do Norte em 1989, diz que é muito difícil afirmar com toda a certeza se as lagrimas são sentidas. O agora escritor, em declarações citadas pela BCC, acredita que o povo norte-coreano estará a sentir “uma mistura de medo, terror e incerteza em relação ao futuro “e que “histeria da massa pode ser uma dor genuína”.
De acordo com Daniels, “nunca será possível” aferir a sinceridade do pronto num país onde “existe uma enorme barreira cultural”. O membro da comissão que esteve na Coreia em 1989 salientou o facto de estarmos a falar de um regime onde “o que não é proibido é obrigatório” o que torna muito complexo “saber qual será o estado de espírito” do povo.
O escritor reviveu a visita à Asia e recordou o momento em que viu Kim Il song , pai de Kim jong Il, a entrar num estádio: “todas as pessoas se levantaram e deixaram escapar um grito”. A escritora Barbara Demick também se refere, num livro, ao pai do “Líder Supremo” mais precisamente ao momento da sua morte: “a manifestação de histerismo tornou-se numa competição para ver quem chorava mais alto”.
Para Kerry Brown, o rosto do programa asiático da Chatham House, muitas das reacções “serão naturais”. Brown acredita que a morte de líder coloca os norte-coreanos a questionarem-se sobre “a identidade, segurança e capacidade de sobreviver”.
A verdade é que, independentemente do pranto do povo, a Coreia do Norte tem agora um novo líder. Kim jong un assume agora as rédeas de uma das maiores potências do continente asiático. Sobre ele, recaem já os olhares da comunidade internacional que espera para saber qual será o rumo escolhido pelo “Grande Sucessor”.