O colóquio, que decorre, desta terça-feira a sábado, na Universidade Pontifícia Gregoriana, destina-se a proporcionar uma “abordagem crítica” à herança do autor da “Origem das Espécies”, livro fundador da teoria da evolução de que se comemora também este ano o 150º aniversário da publicação.
Durante os cinco dias, os trabalhos serão divididos em vários painéis para abarcar várias áreas, desde a paleontologia, a biologia molecular, os mecanismos da evolução, a antropologia, a filosofia e a teologia.
Sobre o encontro, intitulado “Evolução biológica: factos e teorias”, o presidente do Conselho Pontifício para a Cultura, arcebispo Gianfranco Ravasi, considerou “cada vez mais importante a exigência de um diálogo entre a ciência e a fé, porque nenhuma das duas pode esgotar a complexidade do mistério do homem”.
O prelado absteve-se no entanto de comentar a teoria do “desígnio inteligente”, em voga em certos meios cristãos, sobretudo nos Estados Unidos, por não rejeitar – ao contrário do criacionismo – as descobertas científicas sobre a evolução natural.
Mas para um dos participantes no colóquio, o teólogo italiano Giuseppe Tanzella-Nitti, a teoria “confunde os planos científico e religioso ao procurar deduzir da observação empírica a existência de uma potência criadora que guiaria a evolução”.
Para a Igreja católica, “a evolução é no fundo a maneira como Deus criou”, mas não é possível extrapolar essa convicção da observação puramente empírica, afirmou.
A questão será também discutida em Braga num congresso internacional que a Faculdade de Filosofia da Universidade Católica de Portugal organiza de 10 a 12 de Setembro, sob o tema “O Impacto de Darwin na Ciência, Sociedade e Cultura”.
Para abordar a controversa teoria nesse congresso foi convidado George Coyne, do Observatório do Vaticano e ex-director do Observatório Astronómico de Castelgandolfo, que falará sobre “Evolução e desígnio inteligente: o que é Ciência e o que não é”,
Na perspectiva de Alfredo Dinis, director da Faculdade de Filosofia da Universidade Católica e coordenador do congresso, “a Igreja desconfia de tudo o que for tentativa de provar a existência de Deus através de métodos científicos, porque sempre distinguiu muito bem entre metodologia científica e metodologia teológica”.
A questão que se coloca, segundo explicou à Lusa, é que os seguidores do “desígnio inteligente”, sobretudo nos Estados Unidos, acham que esta é uma teoria científica com o mesmo valor epistemológico do que a teoria da evolução das espécies, e como tal deveria ser igualmente ensinada nas escolas.
A teoria ganhou força depois de ter sido defendida pelo cardeal Christoph Schoenborn, Arcebispo de Viena, num artigo que publicou, em 2005, no New York Times, com o título “Encontrar Deus na Natureza”.
“Eles querem encontrar maneira de provar que se uma pessoa for evolucionista não tem necessariamente de ser ateia, já que aceitam a evolução, mas não que esta negue a existência de Deus”, disse Alfredo Dinis.
“Mas vão por um caminho que é tentar provar que os próprios cientistas, na sua metodologia, não têm outro remédio senão chegar a Deus, por não terem explicação para a complexidade do Universo”.
No seu entendimento, esta é a argumentação do “Deus tapa-buracos”, que ao longo da história tem explicado com Deus o que a ciência não tem conseguido explicar.
“Deus não pode ser um tapa-buracos para a nossa ignorância”, acrescentou. “Coloca-se noutra dimensão que não é a da explicação científica”.
Opinião idêntica tem Carlos Fiolhais, professor de Física da Universidade de Coimbra e director da Bibioteca geral da mesma Universidade, para quem “religião e ciência não jogam uma contra a outra porque simplesmente jogam em campeonatos diferentes”.
“Ciência e religião são distintas, são dimensões humanas que podem coexistir pacificamente”, afirmou o cientista. “Quando disputam uma com a outra, pode ser mau para uma e para outra”.