Segundo a Associação Portuguesa dos Industriais do Calçado, Componentes, Artigos de Pele e Seus Sucedâneos (APICCAPS), “o abrandamento económico internacional, em particular em mercados de grande relevância, como a Alemanha, a França ou os EUA, penalizou fortemente o setor do calçado no plano externo”.
“A indústria portuguesa de calçado exporta mais de 90% da sua produção, pelo que está sempre dependente da evolução dos principais mercados externos”, sublinha o porta-voz da associação, citado num comunicado.
Assim, salienta Paulo Gonçalves “trata-se, no essencial, de um problema de mercado: a pouca procura e o excesso de ‘stocks’ condicionou a atividade exportadora portuguesa”.
Em 2023, o calçado português diz ter sido “particularmente afetado pelo fraco desempenho da economia alemã”, para onde as exportações registaram uma quebra de 5,6% para 406 milhões de euros.
Ainda no espaço europeu, a APICCAPS destaca, pela negativa, o recuo nos Países Baixos (menos 13,7% para 259 milhões de euros), Reino Unido (queda de 9% para 115 milhões de euros) e Dinamarca (recuo de 28,5% para 71 milhões).
A indústria portuguesa de calçado viu igualmente interrompida a trajetória de crescimento no mercado norte-americano, onde recuou 11,3% para 101 milhões de euros.
Os EUA foram, aliás, “o grande mercado à escala mundial com pior desempenho”, enfatiza a associação.
“A boa notícia é que o ano de 2023 já passou. Temos a expectativa de que a recuperação económica de alguns dos nossos principais mercados crie oportunidades para as empresas portuguesas já este ano”, prefere enfatizar Paulo Gonçalves.
O facto é que o desempenho da indústria portuguesa de calçado acompanhou a tendência global no ano passado, descrito como “negativo para o setor de calçado à escala mundial, depois de um ano de 2022 de forte crescimento”.
Assim, registou-se um recuo das importações de calçado na ordem dos 30% nos EUA (dados finais) e de 11% na Europa (dados de outubro de 2023), que, em conjunto, representam 61% das importações mundiais de calçado.
Pela negativa, a APICCAPS destaca as quebras de 16% na Alemanha, 13% no Reino Unido e 11% em França.
Como resultado, “todos os grandes ‘players’ do setor terminaram 2023 altamente penalizados pelo abrandamento económico a nível mundial”, refere a associação.
Os cinco principais produtores mundiais de calçado – China (quebra de 13% na totalidade do ano), Índia (recuo de 17% nos primeiros 11 meses), Vietname (perda de 17% até novembro), Indonésia (menos 19% até novembro) e Brasil (queda de 11% na totalidade do ano) – registaram “perdas muito expressivas” em 2023.
Em conjunto, estes cinco países asseguram praticamente 80% da produção mundial, o equivalente a 19.000 milhões de pares de calçado.
Considerando toda a fileira nacional de calçado e artigos de pele, exportou 2.222 milhões de euros em 2023, uma quebra homóloga de 5,1%.
Em contraciclo, o setor de artigos de pele e marroquinaria cresceu 14%, para 310 milhões de euros, enquanto o setor de componentes para calçado aumentou as vendas ao exterior em 13,6%, para 73 milhões de euros.
PD // JNM