Devido aos elevados impostos que recaem sobre os automóveis, Portugal é um dos países da Europa onde os preços dos carros são mais elevados. Um estudo do Eurostat, o Price Level Index, lançado antes da pandemia, mostrava que, em toda a União Europeia, apenas a Dinamarca e a Holanda tinham os preços dos automóveis mais altos que Portugal. Segundo este organismo de estatística, a aquisição de um carro em território nacional era, em média, 10,8% mais elevada do que na média da Europa.
No entanto, estes valores refletiam apenas o valor final de venda ao público e não tinham em conta outros gastos necessários para poder circular com o carro e muitos menos faziam a comparação com as diferentes realidades ao nível do poder de compra dos cidadãos de cada País.
Para tentar perceber essa diferença, a Finn Auto, uma empresa ligada ao setor automóvel, fez um estudo mundial em que incluiu o preço dos veículos mais vendidos em cada País, somou-lhe o custo dos combustíveis e verificou qual a proporção do rendimento anual de cada cidadão necessária para comprar e manter esse mesmo automóvel. Depois de fazer esta análise, criou uma escala de 0 a 10 que indica quais os cidadãos têm de desembolsar uma maior quantidade do seu rendimento anual para circular de automóvel. Portugal acabou por se situar com uma “classificação” de 8,19, apenas batida pelo México, com 9,7, a Estónia, 8,79, e a Letónia, 8,64.
Países onde é mais caro ter um carro
Índice | |
México | 9,70 |
Estónia | 8,79 |
Letónia | 8,64 |
Portugal | 8,19 |
Chéquia | 8,18 |
Se olharmos para o outro lado da moeda, os países onde fica mais em conta ter um carro, podemos encontrar o Luxemburgo no primeiro lugar. Uma posição que pode ser algo surpreendente devido aos elevados preços que são praticados naquele território, mas que apenas é possível porque o Volkswagen Golf é o modelo mais popular entre um dos povos com um dos maiores rendimentos médios do planeta, mais de 73 mil euros.
Na segunda posição surgem os EUA e, na terceira, a Austrália, países onde adquirir um automóvel é substancialmente mais barato do que na Europa, e onde se pode encontrar combustível com um preço mais acessível, que, em certas zonas é quase metade do que paga em média um europeu.
Portugal é também o quinto país do mundo onde o combustível é mais caro à proporção do rendimento médio disponível, apenas ultrapassado pelo México, Eslováquia, Grécia e Hungria. Em território nacional, cada litro de gasolina custa o equivalente a 0,12% do salário médio anual.
Já na Islândia, EUA, Suíça e Luxemburgo, o combustível representa apenas 0,5% do rendimento médio.
A Finn Auto foi ainda mais longe e fez o mesmo exercício, mas apenas analisando o preço final do carro, sem contar com outras despesas, e Portugal desce de quarto para nono lugar. Ou seja, se um português quiser comprar o modelo de automóvel mais popular no seu País, terá de despender o equivalente a 69,36% do salário médio anual.
Nesta nova análise, a Estónia torna-se a nação onde é mais caro adquirir um automóvel, obrigando cada cidadão a gastar 99,61% do seu salário anual para comprar carro. Israel é o segundo País, com 97,02%, e o México baixa da primeira para a terceira posição.
Em contrapartida, é no Japão onde os carros são mais baratos. Um japonês apenas tem de desembolsar 26,34% do seu rendimento médio anual para comprar o Honda N-Box, o modelo mais vendido naquele país.
A França ocupa a segunda posição, sendo necessário gastar 36,16% do rendimento anual médio para adquirir o Peugeot 208, e o Luxemburgo baixa do primeiro para o terceiro lugar do pódio.
Para este estudo a Finn baseou-se nos rendimentos médios anuais de cada país publicados pela OCDE e não no salário médio que é calculado pelo Eurostat. O organismo da estatística da União Europeia calcula apenas o salário bruto médio, que se situa atualmente nos 19 300 euros, enquanto a OCDE utiliza uma formula mais complexa que permite fazer comparações com outras zonas do planeta que têm práticas remuneratórias, horários de trabalho bem mais complexos e, alguns deles, sem períodos obrigatórios de férias. Assim, a OCDE, calcula o rendimento médio de cada nação somando os salários brutos das pessoas com os custos totais feitos anualmente pelos empregadores (empresas, Estado ou outras organizações), como os encargos para a segurança social e outras despesas, e depois multiplica este valor pelo rácio médio das horas trabalhadas por semana em cada um dos países. Este indicador é feito em paridade do poder de compra e utiliza preços constantes com base em 2016. Segundo esta fórmula, o salário médio em Portugal ascende aos 28 318 euros, ou seja, mais nove mil euros do que é definido pelo Eurostat.
Para o caso português, a Finn Auto baseou o estudo no Renault Clio que durante vários anos foi líder de vendas em Portugal, mas que perdeu o primeiro lugar do pódio em 2021 para o Peugeot 2008 e, no ano passado, ficou na quinta posição.
Aliás, a Renault, marca que foi líder de vendas em Portugal durante cerca de três décadas deixou de ter um modelo entre os três primeiros mais vendidos no País. Segundo a ACAP, no final de 2022 o Peugeot 2008 manteve a liderança com um total de 6 001 unidades vendidas, seguido pelo Dacia Sandero (5 054) e o Peugeot 208 (5 008). O Renault Captur e o Renault Clio ficaram nos lugares seguintes com 4 722 e 4 175 veículos vendidos, respetivamente.
Em 2022 foram vendidos 285 mil veículos em Portugal, dos quais 156 são ligeiros de passageiros, mais 2,8% do que em 2021, mas ainda 30,8% menos do que 2019, antes da pandemia.