Elon Musk não é o típico multimilionário. É o segundo homem mais rico do planeta – foi recentemente destronado por Bernard Arnault –, mas parece incapaz de se contentar com o usual poder, influência e riqueza dos magnatas. Musk tem uma visão para o mundo e uma impossibilidade intrínseca – visceral – de fazer pequeno ou regular. O seu currículo é revelador: a Tesla transformou a indústria automóvel; a SpaceX “estaciona” foguetões na Terra, que podem ser reutilizados para novas viagens espaciais; a Hyperloop quer pôr humanos a viajar a 1 200 km/h numa cápsula subterrânea; o recente chatGPT é uma sensação mundial e um vislumbre do poder da Inteligência Artificial; a Neuralink pretende colocar chips em cérebros humanos, na esperança de que, um dia, o homem seja capaz de vencer a inteligência que ele próprio cria. Mas o facto de, numa única semana, Musk ter entrado numa discussão pública com o Presidente da Ucrânia via Twitter – plataforma da qual é dono e senhor –, enquanto coloca pessoas em órbita, demonstra bem até que ponto os seus superpoderes tecnológicos lhe concederam influência geopolítica. Musk não tem o poder formal dos eleitos, nem tão-pouco será um especialista no tema, mas é certamente um player no xadrez da política internacional. Ativar a rede de satélites Starlink na Ucrânia foi uma decisão política que o governo dos EUA não tomou.
A rede de terminais de internet via satélite – cerca de três mil, tantos quantos detêm todas as empresas e nações do mundo, segundo a Bloomberg – revelou-se essencial no apoio aos esforços de guerra do exército de Zelensky. Enquanto Musk permanecer do “lado certo” da guerra, serão poucos a questionar a dimensão e legitimidade do seu poder. E se a sua posição mudar? Em outubro, interrupções significativas no sistema Starlink nas linhas da frente da Ucrânia e um tweet fizeram soar alarmes e levantaram questões de segurança nacional. Em apenas 280 caracteres, o plano de paz de Musk sugeria a cedência da Crimeia e de outros territórios ocupados, após uma suposta conversa com Putin – que Musk nega veementemente. A fonte não é, no entanto, descartável. A afirmação é feita por Ian Bremmer, numa newsletter enviada aos subscritores da Eurasia Group, consultora de risco geopolítico que fundou e à qual preside. Musk terá confidenciado a Bremmer, colunista da TIME e professor de Geopolítica Aplicada na Universidade de Columbia, que Putin disse explicitamente estar “preparado para negociar”, na condição de que a Crimeia permaneça sob controlo russo, a Ucrânia se mantenha neutra e as anexações de Luhansk, Donetsk, Kherson e Zaporizhzhia pela Rússia sejam reconhecidas. Após o desmentido, e na mesma rede social, Bremmer insistiu, notando que escreve a sua newsletter semanal há 24 anos, “honestamente, sem medo ou favor, e a atualização desta semana não foi diferente”. E acrescentou: “Há muito tempo que admiro Musk como um empreendedor único e capaz de mudar o mundo. Mas ele não é um especialista em geopolítica.”