Foi numa sala cheia de imprensa brasileira e portuguesa e de operadores turísticos que o dono e responsável pelo grupo Vila Galé fez uma retrospetiva das duas décadas de presença no Brasil. O encontro aconteceu na sala Amália Rodrigues, no Vila Galé Fortaleza, a primeira unidade do grupo em terras de Vera Cruz.
“Podíamos estar a fazer isto em São Paulo ou no Rio de Janeiro, mas este foi o primeiro hotel que construímos e o primeiro amor nunca se esquece”, atira Jorge Rebelo de Almeida. “Começámos aqui porque era mais perto de Portugal, porque havia voo direto da TAP e porque a Secretária de Estado do Turismo da época era muito insistente”, sorri.
E até agora, não há qualquer arrependimento. Apesar das dificuldades, que vão desde a burocracia até à violência, o responsável garante que o Vila Galé está no Brasil para ficar. “Eu não sou muito ambicioso. Honestamente, dá-me mais prazer dar emprego às pessoas e vê-las crescer do que comprar uma coleção de carros. Continuo a acreditar que se há país que tem potencial para o Turismo é o Brasil. E não desisto porque sou teimoso. E porque o país melhorou muito.”
Com 2 500 colaboradores só no gigante da América do Sul, Rebelo de Almeida mostra-se particularmente satisfeito pelo facto de conseguir empregar praticamente apenas brasileiros – “só temos 8 colaboradores portugueses, aqui” – e por ter ajudado a democratizar o turismo num país de viajantes.
“Há 20 anos os resorts que havia aqui eram caríssimos. Hoje fazemos, com boa gestão, uma oferta de qualidade por um preço muitíssimo mais atrativo e com condições de pagamento… democratizámos a oferta dos resorts. Hoje muito mais pessoas têm acesso a resorts. Ainda hoje há resorts aqui que cobram 5 mil reais. São coisas mais exclusivas. Mas não é o nosso negócio”, continua, referindo-se a unidades como o Txai, membro do Relais&Chateau, que continuam a optar pela exclusividade e o luxo.
O gestor aproveitou, no entanto, a oportunidade para lamentar o facto de o Brasil continuar a não “fazer o trabalho de casa”, naquilo que é a promoção da imagem do país no mundo, o que acaba por penalizar o Turismo internacional.
A título de comparação, o Brasil recebe todos os anos cerca de 5 milhões de turistas internacionais, enquanto Portugal recebe, em média, 15 milhões. A afastar alguns mercados estão, sobretudo, questões de segurança, que, segundo Rebelo de Andrade, são muitas vezes potenciadas pelos meios de comunicação social.
“A imagem que passa na Europa sobre a insegurança no Brasil é 10 vezes pior do que a realidade. E isso é algo que prejudica gravemente a imagem do país”. Recorde-se que, muitas vezes, os mercados do norte da Europa acabam por escolher outros países, nos continentes africano e asiático, precisamente pela questão da insegurança.
“O trabalho de casa no Turismo não é específico para o Turismo. O Turismo internacional precisa de transporte aéreo – e precisa de baixar o preço destas viagens, por exemplo. Tal como precisa de melhorar as questões da limpeza e segurança. E isto não é só para os estrangeiros. São questões relevantes para dar condições às pessoas que cá moram. E depois o Turismo é uma consequência dessas melhorias, porque as pessoas vão estar mais atentas” ao destino.
Quebra de faturação? A resposta é mais investimento
O ano de 2020 foi particularmente complexo para o grupo, tal como para todo o setor hoteleiro. No Brasil, o Vila Galé deixou de faturar R$136 milhões (cerca de €21 milhões ao câmbio atual) e em Portugal, €75 milhões, revela o responsável. No entanto, o investimento é para continuar: em 2022 o grupo espera abrir o Vila Galé Alagoas – uma unidade com 514 quartos – e começar a construção do Vila Galé Collection Cumbuco. Mas não sabe quantas mais poderão aparecer.
“Nunca tive de metas, e não o vou fazer agora”, diz em resposta aos jornalistas. “Não fazemos unidades para dizer que fazemos mais uma, mas para ter um diferencial. Em Portugal abrimos, durante a pandemia, quatro unidades – Elvas, Alter do Chão, Serra da Estrela, Douro Vineyards – que representaram um investimento na ordem dos €40 milhões a €50 milhões, revelou ainda o CEO do grupo, em jeito de explicação.
Para o Brasil, está previsto um primeiro investimento na ordem dos R$150 milhões (€24 milhões) para o Vila Galé Alagoas, um projeto que foi pensado já antes da pandemia, e ainda um outro, para o tal Vila Galé Collection Cumbuco. “Não lhe quero dar números para esta unidade, porque ainda não os fechei. Tenho uma ideia de quanto poderá custar, mas não quero adiantar”, pediu, no entanto. A acrescer ao orçamento ainda por terminar, há também a questão do aumento dos preços das matérias-primas, que continua a penalizar a atividade.
Na mesma ocasião, Jorge Rebelo de Almeida referiu ainda que tem evitado – e deverá continuar a evitar – pedir crédito a instituições financeiras, devido à atual incerteza sobre o potencial aumento das taxas de juro. E citando Millôr Fernandes, justificou a decisão em jeito de brincadeira: “É que no Brasil até o passado é incerto.” O gestor recordou que é política do grupo não distribuir lucros, mas sim reinvestir o resultado líquido, pelo que deverá ser esse o procedimento a seguir durante os próximos anos.
Para Portugal, as perspetivas são de abertura de mais três unidades, pelo menos: uma em Tomar, um hotel no Alentejo direcionado para as crianças e um hotel em Ponta Delgada, perto da fortaleza da cidade. Para estes ainda não há números, mas há “vontade de construir o hotel dos nossos sonhos, que é aquele das crianças”.
O evento de celebração dos 20 anos de presença do Vila Galé no Brasil reuniu dezenas de convidados no Vila Galé Fortaleza.
*A jornalista viajou a convite do grupo Vila Galé