De acordo com Ricardo Chaves, da SIBS, os dados indicam que Portugal “conseguiu uma ‘performance’ de 25 pontos base”, correspondente a 0,25% do total, o que, “quando comparado com valores divulgados pela Visa para o Sul da Europa, permite concluir que estamos 30% abaixo da média nessa região”.
O responsável da SIBS falava no ‘webinar’ Estratégia Nacional para os Pagamentos de Retalho – Horizonte 2022 (apresentada em novembro), organizado pelo Banco de Portugal (BdP), que decorreu hoje em formato de videoconferência.
Os números das fraudes associadas a operações realizadas ‘online’ contrastam com as realizadas em formato físico, de acordo com um relatório do Banco Central Europeu (BCE) relativo a 2018, também referido pelo responsável.
“A fraude média de cartões na União Europeia [UE] foi de 3,7 pontos base, ou seja, 0,037%, e a fraude média em Portugal foi de um ponto base [0,001%] em cartões”, salientou Ricardo Chaves.
O responsável da SIBS vincou que estes números significam que “estamos na ordem de um quarto daquilo que é a fraude média verificada na Europa, ou seja, menos 70%”.
“Dando aqui exemplos de alguns países, a Dinamarca tem 4,7, a França nove, o Reino Unido 8,3 e nós um. Somos o sexto melhor país da Europa em termos de fraude em utilização de cartões”, num total de 28, disse.
Também Norberto Rosa, secretário-geral da Associação Portuguesa de Bancos (APB), disse que “existem indicadores recentes, designadamente de algumas empresas especializadas em cibersegurança, que apontam no sentido da aceleração da digitalização estar a ser acompanhada pelo incremento de fraude nos pagamentos”.
“O aumento de tentativas de fraude foi agravado pelo atual contexto pandémico”, afirmou ainda o antigo administrador do BCP, que salientou que “o esforço na segurança dos meios de pagamento é necessário ser acompanhado pela corresponsabilização dos clientes bancários”.
O secretário-geral da APB afirmou ser necessário “continuar a investir na consciencialização dos clientes quanto ao papel que lhes cabe desempenhar, adotando comportamentos responsáveis e seguros”.
Noutro painel, pela DECO — Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor, Vinay Pranjivan defendeu que “um contexto de promoção de pagamentos eletrónicos deve ter sempre em conta os cuidados necessários para promover a inclusão financeira”.
“Em Portugal temos um conjunto elevado de consumidores que juntam a iliteracia financeira e a iliteracia digital, portanto é preciso ter atenção a este fenómeno”, alertou.
O representante da DECO considerou também que “é fundamental para os consumidores a manutenção do numerário como meio de pagamento universalmente aceite”, considerando que a legislação em vigor em Portugal “deve ser considerada imutável” a esse respeito, sem impedir o desenvolvimento de meios de pagamentos eletrónicos.
Numa intervenção inicial, e referindo-se ao tema do euro digital, o economista e professor universitário Ricardo Reis já tinha opinado que “com certeza que vai ser um complemento e não um substituto”.
“Ainda há muitas pessoas na nossa sociedade, e embora seja uma parte ínfima dos pagamentos, que preferem usar notas e moedas”, referiu, prevendo que “o euro digital não vai levar ao fim das notas euro” pois “continuam a desempenhar um papel importante para os pagamentos de uma parte da sociedade”.
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