“A TVI estava sem rei nem roque. Esta compra vai ser uma benção. Não vai haver qualquer problema de gestão, porque o problema era não haver gestão”. A frase sai espontaneamente da boca de Mário Ferreira, durante a sua participação na conferência da EXAME “1000 Maiores & Melhores PME”, na Casa da Música no Porto.
Nesse momento, decorria ainda a assembleia geral extraordinária de acionistas da Cofina que havia de aprovar o aumento de capital num máximo de 85 milhões de euros, o movimento que permitirá a Paulo Fernandes avançar com a OPA à Media Capital. “A assembleia ainda não acabou…”, frisava o CEO da Mystic Invest, salvaguardando o facto de ainda não ter sido comunicada formalmente a sua entrada no negócio. Mas o assunto já tinha sido lançado para o debate por Mafalda Anjos, publisher do grupo Trust in News e diretora da revista Visão, numa mesa a que também estava sentado Marco Galinha, CEO do Grupo Bel e também dono do Jornal Económico. E à pergunta se “é um grande desafio conciliar culturas tão diferentes” como pode vir a acontecer na junção dos grupos Cofina e Média Capital, a resposta de Mário Ferreira saiu imediatamente:
“Quem compra, manda. Não conheço ninguém que compre e venha lá outro mandar,” afirmou, mas não sem antes salvaguardar: “Isso será com o Eng. Paulo Fernandes, mas não haverá problema nenhum. A TVI não vai ser a CMTV. Que interesse teria comprar a TVI e depois fazer uma salada , misturar tudo e ficar tudo igual? Cada uma tem o seu segmento. E a TVI 24 voltará a ser um grande canal, para um segmento diferente dos outros”, garantiu “o tubarão” Mário Ferreira.
O interesse nos media é algo que Mário Ferreira – que já detém uma participação no diário económico digital Eco – e Marco Galinha têm em comum. O que os atrai nos media? Estão por dinheiro ou por espírito de missão? Foram as perguntas que puseram a compra da participação da espanhola Prisa na discussão, no dia em que esta também aprovou em assembleia geral a venda da TVI à Cofina.

A TVI não vai ser a CMTV. Que interesse teria comprar a TVI e depois fazer uma salada , misturar tudo e ficar tudo igual?
Mário Ferreira, CEO DA MYSTIC INVEST
“O possível investimento nos media, se vier a ocorrer”, disse, enquanto a assembleia da Cofina decorria, “é por consolidação dos negócios. Surge de um convite que recebi de Paulo Fernandes para ir a um aumento de capital. Depois da análise ao negocio, vi que a TVI distribuía 20 milhões em dividendos. A Cofina também ia ter um resultado muito bom. Por isso, é um bom negócio”, sustentou Mário Ferreira, que deverá ficar com cerca de 10% da Cofina.
Marco Galinha já tinha em tempos confessado à EXAME ter andado a estudar o mesmo negócio. Mas desistiu. “Quando vi o valor, considerei que havia falta de realidade nos preços anunciados”, justificou sem concretizar. “Por isso baixamos o preço”, cortou Mário Ferreira, numa alusão à redução do valor que acabou por ser pago pelo quarto canal. Mas Marco Galinha destacou que também o seu Jornal Económico tinha duplicado os resultados: “Não serão ainda positivos, mas quase. O importante aqui é a missão e ajudar a consolidar um setor que tinha dificuldades”.
Na verdade, os dois tubarões – uma alusão ao facto de terem participado nos programa da SIC, “Shark Tank” – mostraram-se surpreendentemente otimistas em relação ao futuro deste setor. E nem mesmo a entrada em cena de grandes plataformas tecnológicas, como a Google ou a Netflix, os tornam descrentes.
Se há um grupo que dá prejuízo causado sobretudo por um dos segmentos, então tem de se organizar e fechar o que está a prejudicar o bom negócio. Esta análise tem de ser feita
MARCO galinha, ceo do grupo bel
“Estamos na 4a Revolução industrial. Vamos ter mais tempo livre, viver mais tempo e consumir mais conteúdos, sejam eles notícias, novelas, séries… O setor dos media tem tudo a ver com produção de conteúdos e os meios para os distribuir. Isto vai ser um negócio exponencial. E os grandes players internacionais também não vivem sem conteúdos. Agora a Google não paga, mas no futuro poderá pagar. Esta é a fase mais difícil, de transição. Temos é de nos unir”, apelou o homem que começou o seu negócio com navios cruzeiro no Douro.
Marco Galinha também acredita na maior necessidade de conteúdos no futuro. Mas, no momento atual, põe o foco na capacidade de análise e de reestruturação. “Se há um grupo que dá prejuízo causado sobretudo por um dos segmentos, então tem de se organizar e fechar o que está a prejudicar o bom negócio. Esta análise tem de ser feita”.