Tratar da matéria prima a montante, assegurando que esta não se esgote e continue a produzir cortiça em quantidade suficiente para alimentar o crescimento da indústria, é uma das prioridades da Corticeira Amorim. É neste contexto que o grupo se comprometeu a aumentar a densidade do sobrado, com uma nova plantação de 150 mil hectares em Alcácer do Sal. Nestes novos sobreiros será experimentada uma nova técnica de rega gota-a-gota que lhe proporcionarão um crescimento em apenas dez anos, e não os 30 ou 40 habituais.
A experiência está a ser conduzida pela Universidade de Évora e, se der certo, reduzirá em 15 anos o tempo necessário para a extração de cortiça capaz de produzir boas rolhas. E contrariará o velho ditado: “Planta-se eucaliptos para nós, pinheiros para os filhos e sobreiros para os netos.”
Além disto, a Corticeira Amorim está a tentar mobilizar vários produtores, em parceria ou individualmente, para que invistam na plantação de mais 50 mil hectares de sobrado nos próximos dez anos, com uma densidade (mais sobreiros por metro quadrado) superior à atual. Acredita-se que, assim, se poderia verificar um aumento 35% na produção de matéria prima.
“O melhor está para vir”, promete António Rios Amorim, presidente da Corticeira Amorim. “Viemos para ficar, perpetuar o que já foi feito e lançar os próximos 150 anos”, garante Paula Amorim, presidente da AIP – Amorim, Investimentos e Participações, a empresa de controle acionista e que reúne os dois ramos da família Amorim (os descendentes dos irmãos António e Américo, que representam já a quarta geração). Vários membros da família juntaram-se quinta feira, 9, na fábrica de Mozelos, Santa Maria de Lamas, para receberem vários órgãos de comunicação social e darem início às festividades que, ao longo deste ano, assinalarão o 150º aniversário do grupo.
“Portugal transforma já 75 a 80% da cortiça criada no mundo, ficando cá o valor acrescentado, ao contrário do que se passava antigamente”, frisou António Rios, apontando os 1,2 mil milhões de euros de cortiça que a empresa exporta para o mundo e que faz dela a maior exportadora mundial de cortiça. Esta saga histórica não lhes tem corrido nada mal e, desde 2010, que a Corticeira regista uma evolução positiva, quer em vendas, quer em ebitda.
Uma aposta forte na inovação tem permitido aumentar quotas de mercado e, este ano, cada uma das 5,5 mil milhões de rolhas produzidas anualmente naquela fábrica (em 2004 eram 2,4 mil milhões) terá a “garantia individual de sair sem TCA”, o que significa ter eliminado qualquer hipótese de causar o que se costuma chamar “sabor a rolha”. Tal possibilitará conquistar lugar aonde vigora ainda a rolha de plástico, subir cada vez mais no segmento de qualidade e, mais importante que tudo, entrar em força no mercado premium das bebidas espirituosas, como o whiskey ou bourbon e também no champanhe.
“O consumo mundial de vinho está a crescer, sobretudo no segmento mais alto. Mas o mercado das bebidas espirituosas também, havendo mesmo uma premiunrização deste consumo. E sabemos que há aqui muito mercado ainda para conquistar”, avançou António Rios.
No que toca a investimentos, está a ser construída uma fábrica nova no Chile e outra na Austrália. Se a primeira é me parceria, a segunda é para fazer face ao crescimento do negócio da Amorim naquele país.
E se na Austrália e no Chile estão a nascer novas fábricas com o novo logotipo da Amorim (também lançado esta quinta feira).
A área das rolhas assegura ainda o grosso das vendas da corticeira (75%), mas a área dos materiais de isolamento e pavimentos, bem como os produtos para o mercado aeroespacial tem registado incremento. De acordo com o CEO António Rios, “há todo um mundo para construir em novas aplicações, nomeadamente no mercado de satélites”.
Quem assistiu a tudo atentamente e até algo divertido foi o pai António – irmão do falecido Américo Amorim – que, aos 91 anos de idade, faz questão de ainda ir diariamente à fábrica e até dar as suas sugestões. A sobrinha, Paula Amorim, fez questão de lhe agradecer pela “forma apaixonada como se entrega ao grupo”. Foi a ela que coube fazer uma introdução ao “percurso duro e difícil” de uma empresa que atravessou uma ditadura e várias etapas políticas e outras intempéries. Mas, como frisou, “a tudo sobreviveu e tudo ultrapassou”.