Em mais de 60 mil participantes de 170 países no maior evento tecnológico da Europa, há gente muito diferente. Além dos muitos e interessantes oradores e dos que estão mesmo ali para trabalhar, fazer contactos e negócios, há um enorme maná de web summiters que podem encaixar numa destas 12 categorias. Veja se reconhece alguns…
O networker com aspas. Trabalha em empresas que pouco têm a ver com tecnologia, mas vai ao web summit porque convenceu os patrão que os 1000 euros investidos iam render muito em contactos. Na verdade, ninguém lhe liga nenhuma, mas os amigos do Facebook ficaram a pensar que ele é mesmo importante porque viram aquelas 23 fotos do palco com os quadrados coloridos que partilhou.
O eufórico. Anda sempre numa fona de um lado para o outro, corre tudo o que é pavilhão, experimenta todos os óculos de realidade virtual e todos os protótipos. Chega todos os dias ao hotel angustiado, consumido pelo “fomo” (fear of missing out) de não ter visto tudo e lhe ter escapado assim a sua ideia de negócio de um milhão de dólares.
O vespertino. Foi para os copos até às 5 da manhã e não conseguiu levantar-se para ir às primeiras conferências. Quando chega vai comer um prego a uma roulotte, ouve uma ou duas talks e depois dá-lhe a sede e estende-se na esplanada a beber um copo – há que aproveitar este bom tempo de Novembro e fazer amigos. Ocupa logo cedo um lugar estratégico na varanda do Pavilhão de Portugal para o Sunset Summit, porque é aí que as “connections” são mais promissoras.
O wannabe de unicórnio. É um empreendedor com uma ideia engraçada e até conseguiu levantar 50 mil euros numa ronda de investimento, mas ainda não está a facturar nada que se veja e já anuncia aos media que o objectivo é fazer “scale up” e ser avaliado em mais de mil milhões de euros “num futuro próximo”.
O engatatão. Mesmo antes de entrar no recinto, já começou a trabalhar o chat da app do Web Summit como se fosse o Tinder. Escolhe os summiters mais interessantes pela foto de perfil, e marca encontros tendo em vista a partilha de ideias (e não só).
O teenager. Está ali só porque é fixe para meter fotos no Instagram e conseguiu os bilhetes mesmo baratos. Vai ao palco central fingir que ouve as palestras, mas passa o tempo todo agarrado ao telemóvel, mais preocupado com os likes e visualizações que a story lhe rendeu do que com qualquer outra coisa.
O engravatado. É mais fácil encontrar uma agulha num palheiro, este é um espécimen mesmo muito raro. Só há dois tipos de engravatados no Web Summit: os políticos (ministros, secretários de estado e respectivas entourages) e os seguranças.
O ultra-discreto. É realmente importante e cheio de dinheiro para investir. Pouco passa pela confusão do recinto, vai às festas privadas e prefere chamar em privado ao seu iate fundeado na doca de Lisboa os empreendedores que são mesmo interessantes.
O excêntrico. Pode ter fato completo com praias, flamingos e palmeiras, óculos gigantes ou barbas pintadas de azul. Pode usar acessórios extravagantes, batons de cores improváveis ou vestir-se tipo personagem de mangá. Usa o look para se destacar no meio da multidão e isso rende pelo menos umas selfies giras. Porventura pode render também alguns contactos, mas que não vão dar em nada.
A executiva. Alguém muito idiota lhe disse que para ser levada a sério no mundo das líderes tecnológicas tinha de meter uns saltos altos e um vestido travado preto e sóbrio como a Sheryl Sandberg do Facebook, e por isso achou que os devia usar. Maldisse tanto a calçada portuguesa ao fim do primeiro dia a calcorrear quilómetros, que ao segundo esqueceu os saltos e meteu uns ténis.
O alfa. É um jovem empreendedor cheio de ambição, que sonha em ser um beta (o estágio acima na cadeia alimentar das startups). Ainda está em fase de arranque e com apenas um protótipo para mostrar aos potenciais investidores e agarra tudo o que é transeunte para lhe falar da sua ideia com entusiasmo contagiante.
O turista. Vem do estrangeiro, vai um dia até ao recinto do Web Summit para ouvir meia dúzia de conferências mas pira-se a maior parte do tempo para ver a cidade, que é muito mais interessante. Não ouviu ali nada que não tivesse lido já na Wired.