A Catalunha ocupa uma ínfima parte – 6% – do território espanhol e contribui com apenas 16% da população (7,5 milhões de habitantes), mas quando fazemos contas percebemos um pouco melhor porque é que a independência da região pode sair cara ao Estado espanhol. Com apenas 7,5 milhões de habitantes (16% da população total), a Catalunha produz um quinto do PIB nacional, exporta um quarto dos bens e serviços produzidos no país e acolhe metade das startups e do novo investimento que anualmente desponta no território espanhol. E, como recorda o site Politico, nas últimas Olimpíadas do Rio, os atletas catalães trouxeram para casa um terço das medalhas conquistadas por Espanha.
Na data em que se celebra, com uma grande manifestação em Barcelona, a Diada, o Dia Nacional da Catalunha – curiosamente, uma derrota transformada em festa nacional para recordar a resistência catalã durante o Cerco de Barcelona, terminado a 11 de Setembro de 1714 -, os ânimos continuam exaltados, após o Tribunal Constitucional ter suspendido a lei aprovada no Parlamento catalão que permitia a realização de um referendo sobre a independência no próximo dia 1 de Outubro. Na véspera das comemorações, o presidente independentista da Catalunha, Carlos Puigdemont, reafirmou a sua determinação em prosseguir com o referendo, apesar da decisão judicial e da oposição do Governo de Mariano Rajoy, apelando à “construção de um novo país”. “Temos toda a força do Estado contra nós”, afirmou.
Mas, enquanto não se resolvem as querelas políticas, os economistas vão fazendo contas ao que pode representar a “perda” desta fatia para o Estado espanhol.
Como recorda o El Mundo, na economia, “o tamanho importa, e muito”. As consequências da independência poderão ter grande impacto no comércio, na receita fiscal e no emprego, tanto no resto de Espanha como na própria Catalunha, que enquanto Estado independente estaria longe de sair incólume. Segundo os dados mais recentes, a região catalã produz 19% do PIB espanhol (tanto quando a comunidade de Madrid), que é praticamente um quinto da riqueza nacional de Espanha. É na região que são produzidos 26% dos bens e serviços exportados por Espanha, metade dos quais realizados por grandes empresas, muitas delas multinacionais que, perante um cenário hipotético de independência, admitem transferir-se para outra região ou mesmo mudar de país. Uma decisão que certamente causaria um rombo na balança comercial espanhola.
Há economistas que desdramatizam os efeitos de uma separação administrativa num mundo cada vez mais globalizado, mas aqueles que apresentam números sobre os custos da independência são algo catastrofistas. Em entrevista ao El Mundo, o presidente do Colégio dos Economistas de Madrid, Pascual Fernández, recorda o impacto do divórcio da antiga Checoslováquia, em 1993, pontuado por um recuo forte do PIB dos dois novos países que lhe sucederam. Acontece que nestes mais de 20 anos que separam as duas realidades, o mundo mudou, e a economia também, mas outro estudo feito em 2014, pelo economista catalão e catedrático de Economia na Universidade de Edimburgo, José Vicente Rodríguez Mora, conclui que a nova realidade administrativa teria um impacto sobre o PIB de 2 a 2,5% para Espanha e de 10% para a Catalunha.
“Todo o comércio seria afectado, sem excepção”, afirmou o autor do estudo, explicando que a saída da Catalunha obrigaria a reorganizar todas as redes de distribuição de mercadorias e que isso provocaria uma revolução nas cadeias de valor espanholas. “São duas economias muito integradas. Há empresas que operam em várias autonomias e que têm as suas redes e cadeias de valor distribuídas por todo o território”, acrescentou. Além disso, com a Catalunha fora da União Europeia, e consequentemente do euro, pelo menos nos tempos logo a seguir à independência, novos impostos e taxas alfandegárias teriam de ser lançados, encarecendo os produtos made in Catalunha. A livre circulação de pessoas seria igualmente posta em causa, afetando os serviços, com efeitos sobre o mercado de trabalho e o nível dos salários. Atualmente, a taxa de desemprego na Catalunha ronda os 13%, mas poderia aumentar.
Se a independência é um mau negócio para a Catalunha – eventualmente mais do que para o resto de Espanha -, então o que move o sentimento independentista mostrado nas sondagens por mais de metade dos habitantes da região? A resposta estará na língua, na cultura, no sentido de pertença a uma comunidade, mas também poderá estar no centralismo, inclusive a nível económico, do Estado espanhol.
Com efeito, a Catalunha é uma das autonomias mais ricas de Espanha, e a segunda das quatro que dão um contributo positivo para o Estado espanhol – o que quer dizer que pagam mais do que recebe, logo a seguir a Madrid e antes da Comunidade Valenciana e das Baleares. Com a Catalunha fora e com menos dinheiro para distribuir, o Estado espanhol, cujas contas públicas estão ainda sob estrita monitorização de Bruxelas, poderá ter de aumentar impostos e de reduzir ainda mais despesa para evitar um aumento do défice orçamental e da dívida pública, que se aproxima dos 100% do PIB. A reação dos mercados, pouco habituados a surpresas, também não se faria esperar, com consequências esperadas ao nível do rating do Estado. Talvez por isso, os agentes económicos e as empresas ainda acreditam num entendimento entre Madrid e Barcelona, nos próximos dias, capaz de evitar as consequências de uma independência que pode não ser boa para os negócios.