
Um balcão na Boavista, no Porto, e outro no Saldanha, em Lisboa, com possibilidade de abrir um segundo. Estes são os planos de expansão de Espanha para Portugal do banco catalão Arquia, mais conhecido por Caixa dos Arquitetos, e que aqui se fará representar também pela sua Fundação, para promover os arquitetos e as suas obras, assim como atribuir várias bolsas de estudo e de investigação.
Na passada semana, e depois da notícia avançada pelo El País, a VISÃO encontrou-se no Porto com Gerardo García-Ventosa, diretor da Fundação Arquia. “No Porto estamos a finalizar a compra de um espaço, num edifício novo de um arquiteto premiado, junto à rotunda da Boavista. Em Lisboa, deverá ser no Saldanha. Para já, serão dois balcões. Se a atividade crescer muito, possivelmente viremos a ter um segundo balcão em Lisboa. Em Espanha, por exemplo, temos dois balcões em Madrid e dois em Barcelona”, adiantou.
Vocacionado para financiar organizações profissionais, sobretudo a dos arquitetos, o Arquia Banca já tem a autorização do Banco de Espanha para abrir estas sucursais em Portugal, tendo a decisão sido entretanto comunicada ao Banco de Portugal. Foi também estabelecido já o contacto com a Ordem dos Arquitetos portuguesa, que será a entidade que ficará responsável pelo lançamento do concurso que escolherá quem vai desenhar os respetivos balcões.
Concurso aberto a arquitetos portugueses
“O concurso, anónimo, será da nossa responsabilidade e foi-nos deixada liberdade para definir os seus termos”, confirmou à VISÃO José Manuel Pedreirinho, presidente da Ordem dos Arquitetos, instituição que tinha já assinado, no final do ano passado, um protocolo de colaboração com a Fundação Arquia.
“Esperamos que o concurso seja lançado em julho, pelo menos para o balcão do Porto. Em Lisboa, estamos ainda a finalizar a transação, contando abrir concurso depois do verão”, apontou García-Ventosa. Para projetar os balcões que agora vão abrir em Portugal podem já candidatar-se arquitetos portugueses, o que acontece pela primeira vez.
O diretor da Fundação Arquia teve também encontros com os prémios Pritzker, Siza Vieira (1992) e Souto Moura (2011), com quem já estabeleceram parcerias. “Temos uma coleção de audiovisuais, a que chamamos Mestres, gente de primeira linha e Pritzkers, em que os incluímos. São entrevistas de uma hora, onde explicam a sua vida e ideologia profissional. Quando abrirmos, no Porto, apresentaremos o de Siza. E em Lisboa, o de Souto Moura.”
Estão também pensadas parcerias com a Casa da Arquitetura, em Matosinhos, que se prevê seja inaugurada em outubro. E vão ser pensadas ações em conjunto com a faculdade de arquitetura do Porto, até por causa das bolsas que vão atribuir, orientadas para o setor académico. “Em Espanha, todos os anos escolhemos uma entidade com quem colaborar mais, pois também nos agrada a diversidade”, justificou García-Ventosa.
Bolsas para quase tudo
Na verdade, aquilo que já estava disponível em Espanha vai passar a estar também disponível em Portugal: bolsas para estudantes ou arquitetos em início de carreira, de empreendimento social na arquitetura ou de investigação académica e mesmo teses de doutoramento. Muitas estão já inscritas no programa europeu Leonardo da Vinci, que financia atividade em grandes gabinetes de arquitetura. “São programas de seis meses. Se for dentro do país pagamos 7 mil euros, mais despesas de alojamento e seguros. Se for fora, internacional, atribuímos 9 mil euros mais viagens de ida e volta, alojamento e seguros. Temos também um programa de promoção de jovens arquitetos, com menos de dez anos de profissão. Temos é uma plataforma de difusão e um fórum, que reúne mais de 400 jovens arquitetos.”
Já no que diz respeito ao crédito, concedido pela caixa social, haverá linhas a “taxas de juro muito baixo” e “com os dois primeiros anos de carência” destinadas a estudantes, jovens arquitetos e também para os mestres, assim como créditos normais para financiar a atividade profissional.
Ordem dos Arquitetos na expectativa
O presidente da Ordem dos Arquitetos portuguesa está expectante. “Um dos maiores problemas dos jovens arquitetos é o início de carreira. Ter estes financiamentos é muito bom para poder entrar em concursos. Só para a possibilidade de concorrer há pagamentos que se têm de fazer, para os quais não é fácil obter financiamento através da banca tradicional”, sublinhou José Manuel Pedreirinho.
“Em Espanha, quando algum jovem arquiteto em iniciação ganha um concurso, nós é que financiamos a atividade. Temos as taxas de juro mais baixas do mercado de certeza”, garante o diretor da Fundação Arquia, que pretende também ser uma plataforma de difusão das tendências e inovação. “Estamos nas redes sociais. Temos um blog, uma revista digital, linhas editoriais de publicação de livros que consideramos fundamentais para a arquitetura e que agora vamos traduzir para português e inglês”, acrescenta.
Como cooperativa de crédito que vive principalmente do dinheiro das quotas dos seus milhares de associados, principalmente dos colégios de arquitetos espanhóis, o Arquia Banca é uma caixa social vocacionada para fomentar a atividade desta classe profissional, mas também já abriu portas às organizações médicas e de advocacia. “Temos muita liquidez, porque temos as quotas regulares dos associados”, explica García-Ventosa.
Criada em 1983, a Caixa dos Arquitetos, que se submete à lei geral das cooperativas, consolida assim a sua vertente ibérica. Com sede em Barcelona, constituiu, nos anos 90, a Fundaçión Arquia.
“Regemo-nos pela legislação das cooperativas sociais, pelo que temos de ter políticas sociais e culturais estáveis, de médio e longo prazo e nunca de curto prazo.”
Têm programas de âmbito social, como o apoio ao pagamento de propinas de estudantes com problemas económicos e projetos piloto de reinserção dos profissionais até aos 45 anos. Com a Caritas, desenvolvem projetos de “reabilitação de casas para gente com falta de recursos”, que precisam de renovar ou reconverter espaços ou de cantinas sociais que precisem de ser remodeladas. E colaboram ainda com os arquitetos sem fronteiras em várias partes do mundo.
“Os nossos patrocínios têm sempre de ir acompanhados de uma instituição social acreditada. Porque o mundo social está cheio de voluntarismo, mas também é preciso ter a garantia da transparência e eficácia dos processos e da gestão. Somos muito exigentes com a transparência e a eficácia”, rematou García-Ventosa.