As máquinas vêm aí e, à partida, não é para nos sugar a energia toda como na saga Matrix. Pelo contrário.
Josh Holmes, diretor de arquitetura na Microsoft, descreve assim a sua casa ideal: “Quero que saiba que eu estou a chegar em 14 minutos e que são precisos 12 minutos para a aquecer à temperatura que eu desejo. Portanto, daqui a dois minutos tem de ligar o aquecimento. Depois, quero que perceba que entrei na porta e comece a fazer-me o café. Pela minha expressão facial pode ver que tive um mau dia, que venho zangado e, então, coloca uma música de trash metal. Se venho contente põe um funk…”
É para este admirável mundo novo que as grandes empresas tecnológicas estão atualmente a trabalhar. Não é futuro, é presente e, à semelhança do que aconteceu com os telemóveis, estes aparelhos inteligentes ligados à rede vão passar de muito caros a bastante acessíveis num piscar de olhos. “Quero que a minha casa trabalhe para mim”, reforça Josh Holmes, em conversa com a VISÃO na Web Summit.
Perguntámos a este especialista o que é, afinal, a tão falada IoT (Internet of Things, Internet das Coisas). “Não é um conceito novo, existe há muito tempo, e refere-se basicamente ligar as coisas à internet”, responde. Coisas como o telemóvel, claro, como os automóveis, as televisões, os frigoríficos, as escovas de dentes, tudo o que possamos imaginar.
“Estamos em casa, cai a noite e as luzes acendem-se automaticamente. Ok, é útil. Mas seria mais útil se pudessem também prever o tempo, a temperatura, etc. Com uma rede de aparelhos tenho muito mais informação e isso é muito excitante. A questão é que, há 10 anos, fazer isto era caríssimo e agora posso comprar uma dúzia de sensores por um dólar”, continua o especialista.
Dos sensores que nos dizem que certa peça do nosso carro está para avariar aos sensores aplicados à área da Saúde, que nos avisam quando há uma forte probabilidade de virmos a ter um AVC, por exemplo.
A Internet das Coisas pode estar em todo o lado e o potencial de negócio é gigante. Até porque, toda a informação recolhida já tem um local onde pode ser armazenada de forma muito barata – a nuvem – e os computadores têm hoje “capacidade ilimitada para processar e analisar essa informação em tempo real”.
Perigos à vista
Se, para os consumidores, estamos a falar de uma questão de conforto (ter um carro que conduz por si, procura lugar de estacionamento sozinho e “fala” com os outros carros para saber onde há engarrafamentos) ou de paz de espírito (como receber imagens da casa no telefone), para as empresas, a Internet das Coisas traz eficiência e grandes poupanças de dinheiro.
Mas há riscos. E se um País for atacado através da Internet das Coisas, fazendo incendiar, por exemplo, as casas dos seus habitantes? A questão é levantada numa conferência da Web Summit por Brian Subirana, do MIT. Por outro lado, muitas profissões desaparecerão, a começar pelos motoristas.
Depois, há toda a questão da regulamentação. “A tecnologia está sempre à frente da capacidade do público a absorver”, diz Don Dodge, da Google.
Um bom exemplo são os carros sem condutor (que foram sujeitos a regulamentação nos Estados Unidos e vão ser em Portugal, como anunciou o Governo). “O que acontece num acidente? As seguradoras ainda não descobriram o que fazer, nem os reguladores”, exemplifica Don Dodge. E, no entanto, há muito que andamos de avião, que é “pilotado por um computador 99% do tempo”.
Ainda há muito por fazer. Mas os frigoríficos que nos fazem a lista das compras já estão à venda. E as escovas de dentes que nos ensinam qual a melhor pressão para uma boa escovagem também.