No Reino Unido há alarmes a soar, que aumentam de intensidade à medida que se vão tornando conhecidos alguns avanços na estratégia para concretizar a sua saída da União Europeia (UE). Em Londres, uma das maiores capitais financeiras do mundo, a banca está a reequacionar onde devem estar os seus centros de decisão e, instituições mais pequenas, estão mesmo a pensar em sair da city antes do Natal.
Notícias publicadas na comunicação social inglesa descrevem o ambiente de expectativa e de preocupação que se vive, neste momento, nos meios empresariais e financeiros. Algumas declarações são mesmo dramáticas. O administrador executivo da Associação de Banqueiros Britânicos, Anthony Browne, por exemplo, advertiu que “o debate público e político, está a ir na direção errada” e a colocar instituições “em risco financeiro”, chamando a atenção para o facto de os maiores bancos estarem já a pensar sair do país, até ao primeiro trimestre do próximo ano. O grave é que, se tal acontecer, levam com elas uma grande fatia dos muitos milhares de milhões de euros do comércio internacional que passa pelo Canal da Mancha.
Se alguns apelidam o momento de “sombrio” e nebuloso, outros vão mesmo mais longe e criticam o que pode ir parar à mesa das negociações deste Brexit, alertando para o perigo de saírem derrotados antes mesmo de acordados os termos de saída com a UE. Isto se as pretensões inglesas vierem pôr em causa a integração do sistema financeiro europeu – “uma das suas melhores histórias de sucesso”, consideram – e o seu caminho rumo à futura união bancária. E se o Reino Unido ficar impedido de prestar uma série de serviços financeiros aos seus clientes europeus, sobretudo à indústria exportadora mundial.
Aos protagonistas da banca, assusta-os o endurecimento da retórica vinda dos chamados eurocéticos britânicos. Mas também a que vem dos líderes da UE, como François Hollande, o presidente francês que insiste que o Reino Unido tem de “pagar um preço” por ter optado pela saída. E esse preço pode muito bem ser a reintrodução de barreiras alfandegárias na livre circulação de capitais e bens no Canal da Mancha, excluindo o Reino Unido efetivamente do mercado único europeu, impondo restrições tarifárias e não tarifárias sobre as importações e exportações britânicas.
Daí que o líder da Associação de Banqueiros Britânicos peça que se reflita antes de “perseguir objetivos anti-comerciais” e se pense nas consequências que a colocação de barreiras ao comércio de serviços financeiros em todo o canal vai ter na economia, não só britânica, como europeia.
Obviamente, há outros centros de outras capitais europeias que salivam perante a oportunidade de conquistar uma fatia das transações financeiras que passam por Londres. E é quase uma certeza que muitas começam já a avaliar para onde se podem transferir. A Goldman Sachs, por exemplo, tem dado indicação de que poderá deslocar cerca de dois mil dos seus funcionários para uma cidade europeia rival, no caso de Londres perder o seu estatuto especial como centro financeiro. No total, prevê-se que poderá sair da city cerca de 70 mil postos de trabalho.
Também o governo britânico ameaça baixar impostos às suas empresas, como forma de pressionar a UE e ganhar competitividade. E não será uma redução insignificante, mas sim de 20% para 10% dos lucros. Não é coisa pouca para quem já tem a mais baixa tributação dentro da UE.
Há um clima de incerteza que está para durar, no qual se adivinham negociações longas, duras, difíceis e complexas até que as novas regras comerciais entre Reino Unido e UE entrem em vigor. Até 2019, data em que o Brexit terá de ser uma realidade, pede-se um acordo para um período de transição, e a avaliação do real impacto de algumas medidas na economia europeia, para que se favoreça uma saída ordenada.
Mas, jogando pelo seguro, “os bancos esperam o melhor mas preparam-se para o pior”. E muitas instituições formam já equipas para estudar a deslocalização de alguns serviços, de modo a, em caso de dúvida, poderem continuar a servir os seus clientes… a partir de qualquer outra cidade europeia.