É na antiga Igreja de São Julião, na Baixa pombalina, que o Banco de Portugal abre hoje, dia 20, o Museu do Dinheiro, uma verdadeira casa-forte que guarda no interior um valiosíssimo acervo de notas e moedas do mundo inteiro, desde tempos pré-históricos até à atualidade.
Na era dos pagamentos eletrónicos, os visitantes podem admirar a mais antiga moeda metálica encontrada no século VII a.c. em território da atual Turquia, o português manuelino que servia de moeda de troca na Índia dos Descobrimentos, a primeira nota emitida em Portugal ou as notas falsas distribuídas por Alves dos Reis nos anos 20 do século passado.
Visitar o Museu do Dinheiro é viajar pela história da relação do homem com o dinheiro, ao longo dos séculos, que neste Museu tem tanto de contemplativo como de interativo para mais tarde recordar. A começar no bilhete, que além de conferir acesso gratuito ao acervo museológico permite também “guardar” as experiências interativas para mais tarde consultar na Internet ou partilhar nas redes sociais.
O Museu do Dinheiro resulta da reabilitação do quarteirão da Rua de São Julião, onde o Banco de Portugal adquiriu e adaptou, ao longo de anos, um conjunto de nove edifícios para reinstalar a sua sede. Durante as obras, foi descoberta um troço da Muralha de D. Dinis que já se encontra exposta ao público. No Museu, o investimento foi estimado em três milhões de euros por Eugénio Gaspar, diretor dos Serviços de Apoio do banco central.
O acervo do Museu começou a ser constituído em 1975, a partir de aquisições em leilões e junto de colecionadores particulares que cederam ao Banco de Portugal muitas das valiosas 50 mil peças do espólio numismático, notafílico e artístico agora aberto ao público, numa área expositiva de 2 mil m2. Parte considerável do acervo de moedas foi disponibilizado pela Casa da Moeda.
O conjunto de dispositivos multimédia, concebido pelo atelier de design de Francisco Providência, é o que distingue este Museu do Dinheiro, projetado pelos arquitetos Gonçalo Byrne e Falcão de Campos, de outros existentes na Europa. A experiência interativa começa no código de barras impresso no bilhete de entrada para o Museu do Dinheiro e para o primeiro dos seus nove núcleos visitáveis.
Imagina-se a tocar em 400 mil euros?
Apesar de estar protegida por uma robusta porta de sete toneladas de aço, os visitantes podem tocar na peça mais valiosa da exposição: uma barra de ouro refinado, quase puro, originário de África do Sul que pesa 12,6 quilos e vale cerca de 400 mil euros no mercado. Ali mesmo, ao alcance da mão.
A mais antiga moeda metálica do mundo é dada a conhecer por um filme tridimensional que não precisa de óculos: o Terço de Estáter, oriundo da Lídia, parte ocidental do que é hoje a Turquia. Na sala seguinte, um painel lúdico e interativo permite viajar numa linha do tempo e visualizar as moedas nas diferentes épocas históricas. Mais à frente, na sala que expõe o acervo de moedas nacionais (ou usadas em território nacional por gregos, romanos, visigodos, fenícios, etc.), está exposto um dos quatro exemplares do Real de D. Beatriz, a primeira moeda em que figura o busto de uma rainha. A escolha recaiu em Beatriz de Castela, com pretensões ao trono português. Saiba porquê.
A história do dinheiro continua a ser contada nos núcleos seguintes, onde pode ser vista a primeira nota emitida pelo Banco de Lisboa (antecessor do Banco de Portugal), desenhada em 1846 pelo pintor Domingos Sequeira, com o valor facial de dez mil réis (equivalentes a 5 cêntimos de euro). Os instrumentos de fabrico de notas e moedas ao longo do tempo estão igualmente expostos, a par de explicações diversas sobre a segurança e a qualidade das emissões. Ou até mesmo da contrafação de moedas e notas.
Depois, chega-se à moeda dos dias de hoje, o euro. É outro momento que permite interagir com a exposição: o visitante é convidado a imprimir virtualmente uma moeda cunhada com o seu próprio perfil e também uma nota com uma imagem do seu rosto. Este “dinheiro” pode ser “guardado” e revisitado no site de Internet do Museu do Dinheiro.
No final da exposição, é a vez do público contar a história. Este último momento de interatividade permite ao visitante explicar em 30 segundos o papel que o dinheiro assume no seu dia-a-dia. E refletir sobre a pergunta feita no início da visita, a partir de um texto de Charles Dickens: afinal, o que é o dinheiro?