O ministro das Finanças grego, Yanis Varoufakis, avisou hoje que a zona euro está “perigosamente perto” de aceitar “um acidente”, apelando aos países da moeda única para que não admitam a hipótese de uma saída da Grécia.
“Estamos perigosamente perto de um estado de espírito que aceita um acidente. Disse aos meus colegas para não aceitarem esse pensamento”, disse Yanis Varoufakis depois de mais uma reunião do Eurogrupo sem acordo, o que aumenta o potencial risco de a Grécia deixar o euro.
O ministro grego falava depois de concluída a reunião dos ministros das Finanças da zona euro, dominada pelo impasse nas negociações com a Grécia. No final do encontro, o presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, disse que “não há ainda qualquer acordo à vista”, pois, “lamentavelmente”, foram muito poucos os progressos registados nas negociações entre Atenas e as instituições.
O presidente do Eurogrupo admitiu uma extensão do atual resgate da Grécia caso haja acordo até final do mês, para dar tempo de desbloquear o dinheiro, mas disse também que os líderes europeus estão preparados para outras “eventualidades”.
Em conferência de imprensa, após a reunião dos ministros das Finanças da zona euro no Luxemburgo e que terminou – como previsto – sem acordo quanto às medidas a adotar pela Grécia para que aceda a ajuda financeira, Jeroen Dijsselbloem explicou que uma extensão do atual programa de resgate terá de ser considerada, uma vez que em caso de acordo até final do mês não há tempo para os procedimentos necessários para que sejam desbloqueados os fundos, incluindo nos parlamentos nacionais. Assim, impõe-se um prolongamento do programa.
Dijsselbloem disse ainda que estão “preparados para eventualidades” se não for conseguido acordo, apesar de o cenário “favorito” ser um entendimento que evite um incumprimento da Grécia ou mesmo uma saída da zona euro (o famoso ‘Grexit’).
Albuquerque volta a lembrar que “Portugal tem os cofres cheios”
A ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, disse hoje que os “cofres cheios” permitem a Portugal enfrentar com “tranquilidade” os impactos negativos de um eventual incumprimento ou mesmo saída da Grécia da zona euro.
Maria Luís Albuquerque, que participou hoje na reunião do Eurogrupo no Luxemburgo, foi questionada em conferência de imprensa sobre um plano de contingência para fazer face a um ‘default’ grego e os seus efeitos em alguns dos Estados-membros da zona euro, como Portugal, depois de hoje não ter sido novamente conseguido um acordo que permita à Grécia aceder à ajuda financeira.
“O que nos dá tranquilidade é que de facto, e apesar de não ter sido bem interpretada, temos os cofres cheios. É certo que é valor de dívida mas é essa almofada financeira que nos permite hoje enfrentar, do ponto de vista do financiamento do tesouro português, algum desenvolvimento mais desfavorável do mercado, seja este ou outro que possa ocorrer”, disse Maria Luís Albuquerque aos jornalistas, após o encontro dos ministros das Finanças da zona euro.
FMI diz que Europa está prepara para o risco de contágio
O FMI afirmou hoje que a zona euro consegue gerir os riscos da incerteza na Grécia no curto prazo, alertando que, no entanto, a recuperação económica do conjunto dos países da moeda única é ainda frágil.
“Os riscos decorrentes da incerteza em torno da Grécia são manobráveis. Os riscos imediatos de um contágio dos mercados foram reduzidos com a introdução de políticas como o ‘Quantitative Easing’ [programa de compra de dívida pública do Banco Central Europeu] e, no médio prazo, é possível lidar com eles, desde que existam esforços concertados para acelerar e aprofundar a integração na união monetária, para a tornar mais resiliente”, afirma o FMI, num comunicado divulgado hoje ao abrigo do Artigo IV.
No entanto, as perspetivas de crescimento económico no médio prazo, alerta a entidade liderada por Christine Lagarde, “são ainda frágeis”, destacando que a fraca procura, as imparidades na banca e a falta de reformas estruturais estão a “dificultar o investimento e a criação de emprego” e que são as ações políticas recentes que estão a suportar a economia e a reduzir os riscos de deflação.