Começamos pela resposta à pergunta enunciada: todo o tipo de máquinas; tachos, panelas e talheres; ferragens e caixilharias de alumínio; tubos e moldes; componentes e peças para automóveis e para aeronáutica; mobiliário de alumínio; materiais de construção… ?”O nosso setor produz desde gruas a agulhas e representa um terço da nossa indústria transformadora”, explica Rafael Campos Pereira, vice-presidente da AIMMAP.
A associação dos industriais metalúrgicos e metalomecânicos lançou esta semana a marca Metal Portugal, uma forma de promover o setor lá fora e cá dentro. Apesar da sua enorme dimensão e de, todos os anos, bater recordes de exportação (em 2014 chegou aos 13,8 mil milhões de euros, ou seja, 20% do valor de todas as nossas vendas de bens e serviços ao exterior), a metalurgia tem pouca visibilidade. “Reconheço que não é um setor tão ‘sexy’ como outros”, ironiza o vice-presidente.
No entanto, todos os dias usamos os seus produtos. Nós e os alemães, os espanhóis, os franceses e os ingleses – 70% das exportações do nosso metal destinam-se a países da União Europeia. A Alemanha, o “país das máquinas”, compra-nos máquinas-ferramenta (como guilhotinas, por exemplo) e peças para a indústria automóvel (caixas de velocidade, pistões, peças para radiadores, etc.).
A Espanha gasta da nossa loiça metálica e compra ainda materiais de construção. ?A França prefere as peças para a indústria ferroviária e química. Angola, o quinto país no ranking das exportações do metal, é grande consumidora de máquinas e materiais de construção, bem como de loiça e ferragens. O Magrebe, o Médio Oriente (sobretudo os países do Golfo) e os Estados Unidos são outros grandes compradores de um setor que está agora a crescer também nas vendas à América Latina.
A metalurgia emprega 200 mil trabalhadores em Portugal e tem 15 mil empresas (sendo que 13 mil são microempresas). ?O seu volume de negócios anual situa-se nos 28 mil milhões de euros, ou seja, 16% do Produto Interno Bruto português. Depois da indústria farmacêutica, é o setor com mais patentes, marcas e modelos de utilidade da propriedade industrial.
As grandes empresas
A indústria metalúrgica, em Portugal, tem uma longa história, mas basta recuar a 1945 para perceber a sua importância. Nesse ano, António de Oliveira Salazar publica a Lei do Fomento e da Reorganização Industrial, com o objetivo de travar as importações. ?O II Plano do Fomento vem dar prioridade à siderurgia, nascendo assim a Siderurgia Nacional, concessionada a António Champalimaud. Na sua inauguração, no Seixal, em 1961, Ferreira Dias, ministro da Economia, diria: “País sem siderurgia não é um país, é uma horta.”
“A metalomecânica pesada teve grandes empresas em Portugal, no setor naval e dos transportes, caso da Lisnave, da Setenave, da Sorefame ou da Sepsa”, refere Rafael Campos Pereira. O processo de industrialização em curso assim o exigia, bem como o impulso dado pela eletrificação do País, com a construção de grandes barragens e centrais.
Essas grandes empresas, que viriam a ser desmanteladas ou ultrapassadas pela evolução dos mercados, deixaram uma herança: trabalhadores formados, com competências na área. “Houve pequenas e médias empresas que herdaram este know-how e foram inovando. Este setor nunca foi protegido, sempre competiu em concorrência nos mercados globais, e isso criou resiliência e uma capacidade de reinvenção. A estratégia vencedora tem sido a aposta nos segmentos mais altos, deixámos de competir com base no preço e competimos com a qualidade”, refere o vice-presidente da AIMMAP.
Atualmente, entre os grandes nomes da metalurgia nacional encontram-se empresas como a Colep, fabricante de embalagens metálicas; a Ferpinta, produtora de tubos de aço, calhas e chapas; a Martifer, na área da construção metálica; a Simoldes, que trabalha sobretudo para a indústria automóvel e é considerada a maior fabricante de moldes a nível europeu; e a Silampos, famosa marca de loiça metálica, que produziu a primeira panela de pressão em Portugal, na década de 60.
Além destas empresas portuguesas, há capital estrangeiro investido por cá. Companhias alemãs (como a Mahle), japonesas (como a Tesco) ou francesas (como a Faurecia) têm presença em Portugal.
A união e a força
Uma das características assinaladas pelo dirigente da AIMMAP é a união do setor. “As nossas empresas são clientes umas das outras. O das máquinas vende ao da loiça; o das peças técnicas vende ao dos componentes… Isso promove a cooperação. Há muitos projetos em conjunto”, garante.
Exemplo disso é a compra de energia elétrica em conjunto, através da associação. Quando 200 empresas se juntam para negociar com um fornecedor de eletricidade, o seu poder de negociação torna-se considerável. E a consequência é a obtenção de uma fatura bem mais em conta. O mesmo acontece quando se trata de negociar seguros, gás ou gás de soldadura.
A crise, naturalmente, afetou o setor a nível interno. Para compensar as perdas, as empresas apostaram ainda mais nos mercados exteriores. Entre 2010 e 2014, as exportações da metalurgia cresceram 30 por cento. O emprego foi mantido, mas à custa de alguns lay-off. “As empresas não queriam perder o know-how dos seus recursos humanos. Não houve perda de postos de trabalho e, no ano passado, houve até um crescimento de 1% no emprego”, refere Campos Pereira.
A federação sindical do setor, Fiequimetal, toma nota de todas as notícias e declarações que dão conta dos “excelentes resultados obtidos nas exportações”, contrapondo que o último acordo entre trabalhadores e patrões, no que diz respeito à tabela salarial recomendada, data de 2008, sendo que, na referida tabela, “constata-se que o salário da maioria dos níveis profissionais (11 de um total de 20) está abaixo do [atual] salário mínimo nacional”. A luta, neste setor, concentra-se na melhoria dos salários. Entretanto, do lado das empresas, as boas notícias continuam em 2015. Em janeiro, as exportações cresceram 16,2% em relação ao mesmo mês do ano anterior. Muito discretamente, a metalurgia nacional tem seguido o seu caminho, espalhando-se pelo mundo.