Oliveira e Costa: Um ‘atestado de pobreza’
Os investigadores cansaram-se de procurar e não encontrar bens em nome de Oliveira e Costa, 79 anos. Foi o caso da Parvalorem, a empresa-veículo criada pelo Ministério das Finanças para gerir os ativos tóxicos do BPN. Reclamava uma dívida de €13 milhões ao ex-presidente do banco, mas conformou-se com a recuperação de €1 milhão.
Com duas dações em pagamento, de Oliveira e Costa e da sua ex-mulher, Yolanda, o Estado ficou na posse dos bens que o fundador do BPN tinha passado à última, após a separação judicial do casal, em 2008. O valor patrimonial de imóveis e de carteiras de títulos resultou naquele total. Mas com uma condição: um apartamento na Álvares Cabral, avenida no centro de Lisboa, de cujo edifício Oliveira e Costa é visto a sair para dar um passeio a pé ou beber um café, tem “usufruto sucessivo e vitalício” de Yolanda Oliveira e Costa (a separação do casal foi, claro, de conveniência). Ou seja, o Estado só pode vender a casa depois da morte de Yolanda.
Já o Banco de Portugal, apesar de ter avançado com um pedido de execução de bens, mostra poucas ou nenhumas esperanças de ver pagas as duas contraordenações, transitadas em julgado, que aplicou a Oliveira e Costa, num total de €1,250 milhões. Mesmo informal, o atestado de pobreza funciona.
Jardim Gonçalves: Comer, orar, amar… e lutar pela honra
Fundou e dirigiu o BCP durante 20 anos (entre 1985 e 2005) e fez dele o maior banco privado português. Saiu do conselho superior do banco em 2007, sem honra nem glória. Em consequência do caso das 17 offshores não reportadas à entidade de supervisão, Jardim Gonçalves, de 79 anos, foi inibido pelo Banco de Portugal de exercer qualquer atividade financeira durante 9 anos e multado em um milhão de euros. O processo, contudo, viria a prescrever parcialmente, no final de fevereiro de 2014. Meses depois, em maio, foi condenado, pelo crime de manipulação de mercado. Na biografia autorizada do banqueiro, a vida de Jardim Gonçalves, desde que em 2010 começou a ser julgado o primeiro dos três processos principais, é-nos relatada assim: “Chegar a casa, sorrir para Assunção [sua mulher], tranquilizá-la, jantar, ver um pouco de televisão, ler, rezar a dois, dormir, acordar, preparar a medicação homeopática de sua mulher, sair de Sintra [onde reside], ler no carro os jornais do dia, conversar com Magalhães e Silva, advogado de quem se tornou amigo, em pelo menos metade dos dias sentar-se no tribunal onde escuta testemunhas, advogados de acusação e de defesa, procuradores e juízes.” Em dias de julgamento, vai à missa à hora do almoço – um hábito que se vai retomar em breve, quando o pedido de redução da sua pensão privada de reforma, de cerca de 175 mil euros, começar a ser julgado.
João Rendeiro: A limpeza da imagem… com arte
Apagar a imagem que deixou após a falência do Banco Privado Português (BPP), tem sido o principal cavalo de batalha do antigo banqueiro. Criou um blogue, no qual é bastante ativo a comentar assuntos económicos da atualidade. Neste espaço, Rendeiro não se inibe de falar sobre os casos mais recentes, como a falência do BES. Muitos dos que perderam dinheiro devido à sua gestão queixam-se da “falta de vergonha depois de tudo o que fez”. Mas Rendeiro não se inibe. Pelo contrário. Esta gestão de imagem é tudo menos amadora. É gerida quase ao milímetro. Ainda recentemente, o antigo banqueiro lançou um livro com crónicas do seu blogue. Não havia ali qualquer interesse comercial ou literário. O objetivo era simples: juntar amigos e mostrar à sociedade que leva uma vida cada vez mais normal. Pelo meio tem tratado dos processos judiciais e recorrido das multas, que já ascendem a 4,1 milhões de euros. Mantém um vasto espólio de obras de arte na sua casa da Quinta Patiño, no Estoril. Aliás, a arte é uma paixão que não larga. Segundo os amigos, Rendeiro continua a viajar pelo mundo para visitar feiras de arte, e é quase passageiro frequente na rota Lisboa-Nova Iorque, a sua cidade preferida. No dia a dia continua a frequentar um dos ginásios mais elitistas de Lisboa, junto ao Marquês de Pombal e os melhores restaurantes da cidade, entre os quais o Eleven, do qual é sócio-fundador.
Filipe Pinhal: Um pé nos negócios
Nos períodos de julgamento, Filipe Pinhal, Jardim Gonçalves, Christopher de Beck e António Rodrigues reuniam-se todos os meses, enquanto os seus advogados concertavam estratégias. Embora esteja inibido de exercer qualquer atividade no setor financeiro, Filipe Pinhal, 68 anos, número dois de Jardim Gonçalves e sucessor, durante escassos meses, de Paulo Teixeira Pinto no BCP, optou por manter-se no mundo dos negócios. Com espírito de empreendedor – foi ele que pôs de pé a Nova Rede do BCP, há 25 anos -, fundou uma empresa imobiliária com os filhos para comprar e recuperar imóveis de prestígio, ao mesmo tempo que começou a atuar como mediador dos bancos na venda de casas a chineses em troca de um “visto dourado”. O homem que diz que nunca vestiu o casaco de banqueiro, mas sim o de bancário, é agora um pequeno empresário. Segundo o Diário de Notícias, é também sócio e administrador da Escola Internacional St. Dominic’s, em Carcavelos. E deu a cara pelos reformados indignados assim que o Governo começou a cortar as pensões mais elevadas.
Condenado, em maio, pelo crime de manipulação de mercado, Filipe Pinhal viu a sentença ser confirmada no âmbito de outro processo, em agosto, para um total de sete anos de inibição. O gestor recorreu da decisão