Bastou o diretor da Nestlé Portugal anunciar que a multinacional suíça iria criar 350 novos postos de trabalho no nosso país, para o departamento de recursos humanos da empresa não ter mãos a medir a analisar o rol de candidaturas que começaram a “chover” naqueles serviços. Apesar das inscrições já estarem em aberto, o programa de recrutamento só será iniciado em janeiro de 2014 e estender–se-á por mais três anos. Das 350 oportunidades de emprego agora criadas, 160 serão contratos diretos, enquanto as restantes 190 serão para estágios. Uma oferta de emprego desta dimensão é um bom sinal para o anémico mercado de trabalho nacional. Mas não é um caso único.
A Bosch, em Portugal há mais de 100 anos e um dos maiores empregadores industriais do País, tem vários programas de recrutamento ativos para contratar pessoal para as suas unidades fabris (Vulcano, em Aveiro, Car Multimédia, em Braga e dispositivos de segurança, em Ovar), enquanto a Central de Cervejas, que pertence ao grupo holandês Heineken, está a expandir a capacidade de produção da fábrica de Vialonga, necessitando posteriormente de contratar mais 200 pessoas.
As tecnologias de informação são, talvez, o setor onde a procura de quadros é cada vez maior, tornando-se quase um oásis num tecido empresarial assolado pela crise instalada desde 2008. A SAP Portugal, empresa de software de gestão, lançou, ainda em 2013, um programa de contratação de cerca de 300 novos técnicos, mas ainda lhes falta preencher mais de dois terços das vagas. Também a Roff, empresa de implementação de soluções SAP, irá necessitar de contratar, pelo menos, 80 técnicos ao longo do próximo ano, para fazer face aos novos contratos que entretanto foi ganhando.
A Vodafone criou, em 2013, um novo contact center em Braga, o que a obrigou a recrutar 110 pessoas. No entanto, com o alargamento desta atividade, a empresa prevê chegar aos 200 novos colaboradores no decorrer de 2014. Em novembro de 2013 a Vodafone já tinha feito um concurso para contratar 50 engenheiros.
A Microsoft decidiu instalar em Lisboa o novo serviço de suporte telefónico para o Office 365, programa que passa a estar instalado numa cloud, em vez de estar alojado no computador do utilizador. Para este novo serviço, a multinacional norte–americana terá de contratar 25 pessoas. No entanto, a empresa admite que, à medida que o mercado internacional for fazendo a migração para o novo Office, o recrutamento terá de crescer à mesma proporção.
De volta ao tradicional
Se olharmos para as tradicionais páginas de recrutamento de trabalhadores, quer seja nos jornais quer na internet, é notório que o mercado de emprego começa a despertar. Para além destas contratações em larga escala, já existem muitas ofertas isoladas de emprego nas mais variadas áreas, desde cozinheiros, a gerentes de espaços comercias, passando por consultores comerciais, engenheiros, entre muitos outros. Há ainda setores que, graças ao crescimento das exportações, necessitam de quadros muitos especializados. Um desses casos é o da indústria têxtil que se debate com falta de profissionais, nomeadamente costureiras e outras profissões muito técnicas. Segundo uma associação da setor, o têxtil está com dificuldade de atrair “sangue novo” para garantir a reposição de profissionais muito especializados. Nas últimas décadas, devido ao encerramento de muitas fábricas, a indústria conseguiu captar a mão de obra que entretanto foi ficando disponível. Atualmente, as unidades fabris que conseguiram sobreviver à enorme reestruturação que o sector sofreu nos últimos anos, começam a ter dificuldades em arranjar os quadros mais especializados.
A economia portuguesa conseguiu sair da recessão técnica, três trimestres com crescimento do PIB, e o mercado de emprego começa a dar sinais de recuperação, que, apesar de ainda ser muito ténue, é uma boa notícia para os cerca de 900 mil desempregados que existem no País.