O presidente do Sporting começa a ficar farto dos cerca de 80 mil quilómetros que percorre todos os anos – muitos deles para acompanhar as deslocações da equipa “fora de casa” – ao volante do seu BMW série 7. Seu mesmo, pois o gestor, de 54 anos, não tem carro da empresa. Uma “mania” que vem dos poucos meses em que esteve à frente da Ameritech, grupo norte-americano de telecomunicações que andou por cá a tentar concorrer à privatização da Portugal Telecom. “Gostava que, em Portugal, se caminhasse para não haver carros de serviço para os quadros”, diz Soares Franco, um dos sete irmãos de uma família historicamente ligada aos negócios, às empresas e? ao Estoril. A Vista Alegre, onde iniciou a vida profissional, era controlada pela família da mãe, os Pinto Basto. Na família Guedes de Sousa, do lado do pai, também se respirava negócios por todos os poros, com muitos interesses nas ex-colónias. O percurso na gestão surge, assim, como uma determinação quase genética. Mas os genes travaram uma luta titânica com a paixão: o ténis. Joga desde pequeno e nem as operações aos joelhos – de onde retirou os cruzamentos e os meniscos – o impedem de continuar a fazer-se aos courts, com grande regularidade.Os primeiros bons negócios, que lhe permitiram “ganhar dinheiro à séria”, aconteceram apenas nos anos noventa. “Foi em bolsa – e não a portuguesa -, com a compra e venda de acções, através de um amigo, e no imobiliário.” E mais não conta.Soares Franco é um sportinguista quase acidental – o pai e os irmãos sempre torceram pelo Benfica – mas apaixonado. Ao ponto de ter conseguido juntar à volta do clube todas as suas actividades profissionais. A sede da OPCA, uma das maiores empresas de construção, a que preside, é no edifício Visconde de Alvalade, contíguo ao estádio do Sporting. As instalações da ANEOP, associação de empresas de construção da qual é presidente, também são ali. E, como não poderia deixar de ser, os escritórios do Sporting ficam? um andar acima dos da OPCA.Vive na linha do Estoril, desde sempre. Por alguma razão especial?Porque nasci no Estoril. Bom?, vim nascer a Lisboa, mas, ao fim de três dias, já estava no Estoril. Há 54 anos que vivo na zona do Estoril e de Cascais, tirando um período, na minha infância, em que vivi em Londres, com os meus pais. O que o levou para Inglaterra?O meu pai foi para lá trabalhar. A minha família tinha roças de cacau, na Guiné e em São Tomé, e o meu pai estava destacado na bolsa, para negociar as mercadorias.Chegou a estudar em Inglaterra?Apenas na pré-primária. Lembro-me, perfeitamente, das fardas, de jogar râguebi e de falar inglês, em casa, com o meu irmão. Mas a escola primária já a frequentei no Estoril, no Colégio João de Deus.Como foi a sua infância, após o regresso a Portugal?Lembro-me, especialmente, das férias na quinta do meu bisavô Neves de Sousa, em São João do Estoril, onde ele juntava a família, durante o Verão. Eram dezenas de primos e todos os dias íamos à praia, pela manhã. A tarde era passada na quinta. Havia uma mata, tínhamos uma casa para brincar aos cowboys e até havia um campo de ténis. Tenho imensas memórias desses tempos.Ainda passa por essa quinta hoje?Não. Já não existe, foram lá construídos uns prédios.A adolescência foi igualmente pacata?Nem tanto. Por volta dos 16 anos, comecei a ser mais independente e passei a ir para Vila Nova de Milfontes, onde os pais de uns amigos meus tinham casa. Na altura, era um sítio fantástico. Mais tarde, passei a ir para o Algarve. O meu sogro tinha lá uma casa, e acabei por ficar com ela.A sua família, que é grande, tem o hábito de realizar reuniões?Tínhamos o hábito de nos reunir, pelo menos uma vez por mês, em casa dos meus pais. A minha mãe morreu há pouco tempo e, desde então, temo-nos reunido mais devido a questões de herança, mas espero que o meu irmão mais velho tome rapidamente as rédeas dessa tradição.O que faziam os seus pais?A minha mãe era doméstica e o meu pai trabalhou, desde muito cedo, nos negócios da sua família, os Guedes de Sousa, empresários com vários interesses em Angola e Portugal. A empresa mais conhecida seria a Tofa, dos cafés, da qual chegou a ser presidente.Que foi, aliás, a empresa onde começou a sua vida profissional…Não propriamente. Estive lá a fazer o estágio, durante os últimos anos de curso, na Universidade Católica. Depois de acabar o curso, ingressei logo na Vista Alegre. Esse, sim, foi o meu primeiro emprego a sério.Começou a tirar o curso de Gestão em Évora, mas depois terminou-o na Católica. Porquê?Temos de recuar um pouco. Estive no Colégio Militar até ao 5.º ano e, depois, terminei o 7.º ano no liceu de São João do Estoril.Porque mudou?Se continuasse até ao fim no Colégio Militar teria de seguir engenharia e eu preferia gestão. Isto foi no início dos anos 70, numa época em que a vida universitária, em Lisboa, atravessava tempos de alguma turbulência e, por essa razão, decidi ir estudar para o Instituto Económico-Social de Évora, um estabelecimento da Fundação Eugénio de Almeida, gerido por jesuítas. Depois do 25 de Abril, logo em Abril, o Instituto foi tomado pelos estudantes, que reivindicaram a sua tutela para o Ministério da Educação, passando a ser uma universidade pública. O que o ministério aceitou, com a condição de que quando os alunos do 1.º ano de Gestão chegassem ao 5.º, se encerraria o curso. Como não queria ficar formado num curso que ia deixar de existir, fui obrigado a pedir transferência. Ainda estive um ano sem estudar, acabando depois o curso na Católica.Porque é que foi estudar para o Colégio Militar? Não faço a mínima ideia. O meu avô morreu quando o meu pai, que era filho único, tinha 14 anos. Teve sete filhos e, se calhar, achou que seria uma boa escola de formação e que, provavelmente, incutiria nos filhos alguma da disciplina, que ele não terá tido. Dos seis rapazes, quatro foram para lá. Os dois últimos já não foram, porque já estávamos no pós-25 de Abril e as regras no Colégio Militar também mudaram.Como é que se viveu o período revolucionário e pós-revolucionário, na sua família?De uma forma relativamente profunda. Era uma família com um grande espírito de iniciativa, que estava ligada a investidores de antes do 25 de Abril, muitos dos quais foram presos ou obrigados a sair do País, após a revolução. Como o meu pai nunca abandonou Portugal, vivemos esses tempos de uma forma muito próxima. Com todos os contratempos de um período difícil, o meu pai continuou como presidente da Tofa e acompanhei de perto toda a perturbação laboral e social, no País. Ele próprio não deixou de nos contar, em casa, tudo o que se estava a passar. Tinha sete filhos para educar e chegou a ter de vender alguns activos imobiliários para fazer face às dificuldades.O que mudou na sua vida?Tornei-me independente, muito cedo. Fruto de vontade própria e, também, de alguns princípios e valores que me foram incutidos no Colégio Militar. O primeiro trabalho que tive, ainda enquanto estudante, foi como secretário-geral, em part-time, do Clube de Ténis do Estoril…O que ficou dos seus tempos de aluno no Colégio militar?Um conjunto de experiências e de ensinamentos que se mantêm ao longo da vida. Ainda hoje sou eu que engraxo os meus sapatos? arrumo a minha roupa. Gosto muito mais de fazer do que mandar fazer.Algum dos seus filhos passou por lá?Não, infelizmente não. Mas não foi um tema que tenha provocado discussão. A minha mulher não nutria especial simpatia pela ideia e eu também não fiz muita força nesse sentido.Era bom aluno?Nunca fui um aluno brilhante. Posso até contar vários episódios da minha vida de estudante que o atestam.Conte lá…… No Colégio Militar, chumbei um ano, devido a doença, mas estou convencido de que, se não fosse a doença, chumbava à mesma [risos]. E no liceu de São João chumbei outro ano, no 7.º, mas aí foi de propósito. Pretendia ter um período sabático e a única maneira de o conseguir era repetindo duas cadeiras. Só queria chumbar a uma, mas acabei por reprovar a duas. No ano seguinte, frequentei apenas as cadeiras em falta e tive o meu ano sabático, que foi um grande ano. Podem imaginar o que é, aos 17 anos, ter um ano quase livre…O que é que fez nesse ano?Joguei ténis, que era o que eu queria fazer…Entrou muito cedo no mundo dos negócios, pela empresa Vista Alegre. Como recorda essa experiência?Entrei para a Vista Alegre em 1979 e só saí mais de dez anos depois. Era uma empresa que pertencia à família, do lado da minha mãe, havia 200 anos, e criei por ela uma afeição tal, que foi a única vez em que me custou realmente tomar a decisão de sair. Saí porque a Vista Alegre entrou numa fusão e concluí que o espaço que me estava reservado na nova organização não servia as minhas ambições.E como vê o rumo entretanto tomado pela Vista Alegre, que não está a atravessar um bom momento…?Regressei mais tarde, como administrador não executivo, mas a família chegou à conclusão de que éramos demasiados accionistas para governar a empresa e promoveu um leilão interno. Concorri, integrado num grupo, que fez uma oferta de 12 escudos abaixo daquilo que o leilão veio a ditar e perdemos a oportunidade de adquirir a totalidade da empresa.Sendo a recuperação de empresas uma marca forte da sua carreira de gestor, não equaciona voltar, um dia, a tomar conta da Vista Alegre?Não, de todo. Por duas razões. Primeiro, quando se foi feliz numa determinada empresa, não se deve voltar para lá. Corre-se o risco de apanhar uma grande desilusão. Segundo, para recuperar uma empresa, é necessário ter uma vitalidade, energia e espírito de iniciativa que já não tenho, aos 54 anos. Já me sinto um pouco gasto e cansado desta vida de grande dinamismo que tenho tido.Olhando para o seu percurso profissional – Terrazul, Tecnovia, OPCA -, é justo concluir que a construção é a sua área de eleição?Não propriamente, mas reconheço que tem alguns atractivos. Um é o de sabermos que estamos a fazer algo para desenvolver o País. Quando construímos uma infra-estrutura como uma ponte ou uma barragem, sentimos que estamos a melhorar a qualidade de vida das pessoas. Isso dá alguma satisfação pessoal, muito embora o sector da construção não tenha uma grande imagem junto da opinião pública. Achou-se, a determinada altura, que se podia acabar com as grandes obras. Mas sem investimento em infra-estruturas, que não tem necessariamente de ser público, o País não se desenvolve e o PIB não cresce. E esse foi um dos maiores erros de Portugal, nos últimos cinco anos. Vê-se, aliás, que, apesar de todas as restrições orçamentais, o País não cresce mais que 2% a 2,5 por cento. E com mais investimento nesta área, tem condições para crescer até aos 4 por cento.Tem ideias muito claras sobre o crescimento do País. Nunca pensou em dedicar-se à política?A política só foi um objectivo em termos concelhios. Tenho uma grande paixão por Cascais e gostava de contribuir, com o meu trabalho e experiência, para que o concelho fosse melhor. Foi nesse sentido que aceitei integrar uma lista de independentes à Assembleia Municipal. Tive um gozo enorme com o que fiz, mas também uma desilusão enorme com o que vi. O sistema não é o mais correcto, pois não é possível governar seja o que for quando a oposição faz parte do próprio executivo. E os pequenos interesses político-partidários sobrepõem-se aos interesses da população, impedindo um planeamento sério, a longo prazo, como acontece, por exemplo, em Espanha, em que o plano de investimentos em infra-estruturas já vai até 2020. Veja-se o caso da Ota e do TGV, em que era claramente necessário um pacto para não dar a discussão que deu.É mais fácil governar o Sporting que um concelho?É, embora os clubes também tenham a sua dose ingovernabilidade, quando se vivem momentos agitados. Os clubes são constituídos por dezenas de milhares de accionistas, os sócios, que nem sempre se regulam pela racionalidade mas, antes, por factores emocionais. E a emoção pode prejudicar a racionalidade da gestão.Mas o futebol é uma actividade que gera essencialmente emoção…Essa é a grande diferença entre gerir uma empresa e um clube de futebol. Num clube, tem de se fazer com que a razão vença a emoção, enquanto, nas empresas, é preciso que a emoção consiga contribuir para o desenvolvimento da razão. Também é preciso incutir na vida das empresas alguma emoção, empatia e paixão.Antes de chegar ao Sporting, foi presidente do Estoril. O que é que o atraiu no dirigismo desportivo? Uma área que também está um pouco mal vista, junto da opinião pública.É uma questão que não me preocupa. O dirigismo desportivo sempre me atraiu. Aos 17 anos, como membro do Clube de Ténis do Estoril, fiz parte de uma comissão que organizou, em Portugal, os primeiros torneios juniores de ténis. Depois, ajudei o João Lagos a montar aquilo que é hoje a Lagos Sport, na organização dos primeiros eventos internacionais, em 1974. Passei pela Federação Portuguesa de Ténis, onde fui vice-presidente, e pela Associação dos Bombeiros Voluntários do Estoril. Quanto ao Sporting, é uma paixão de infância.De que forma começou a sua relação com o Sporting? O seu pai e a maioria dos seus irmãos torciam pelo Benfica…O ténis é a minha paixão como praticante, mas o futebol é uma paixão de miúdo. O meu irmão mais velho, o Miguel, é do Benfica, e eu todos os dias jogava futebol com ele, de baliza a baliza, no terraço de minha casa. Quando me levantava, antes de ir para as aulas, brincava a fazer relatos de futebol, nos quais o Sporting nunca podia perder [risos]. E nunca tive um pai que me levasse ao futebol, até porque ele até era do Benfica. Era com o meu primo Pedro Pinto Basto, um grande sportinguista, que eu vivia a minha paixão pelo Sporting.Como é que um filho de um benfiquista se torna sportinguista?Do mesmo modo que os meus filhos se tornaram benfiquistas. Tenho quatro, três rapazes e uma rapariga…O que é que falhou?Nada. Fui casado com a filha do doutor Borges Coutinho, antigo presidente do Benfica e uma pessoa encantadora, que deixou marca no dirigismo desportivo. A minha ex-mulher também é uma fanática do Benfica e transmitiu essa paixão aos filhos. Só a minha filha é que ficou do Sporting.Eles vêm a Alvalade ver jogos?Só quando é contra o Benfica. O que fazem os seus filhos?O mais velho tem 26 anos e o curso de Marketing. A minha filha é casada e está a acabar o curso de Educadora Infantil, depois de já ter estado em Matemática e Engenharia Civil. Fez voluntariado em África e descobriu a vocação das crianças. Outro, de 23 anos, está a estudar Marketing no Brasil. E o mais novo, de 19 anos, está em Economia, na Nova.Algum deles já manifestou interesse em trabalhar consigo?O mais velho está na Pinto Basto, empresa da qual sou accionista. Mas trabalhar directamente comigo, não. Não me parece um bom princípio. Como é que conheceu a sua ex-mulher?O meu sogro era um grande amigo do meu pai. Conheci-a no Estoril, por volta dos meus 18 anos e casei-me aos vinte e seis. Ela tinha vinte e dois.E como é voltar a ser solteiro aos 54 anos? Como é hoje o seu dia-a-dia?Levanto-me por volta das seis da manhã. Às sete, vou ao ginásio, em Alvalade, e começo a trabalhar por volta das oito e meia. Tento ir para a cama sempre até às 11 da noite, mas há dias em que, às 9, já estou deitado. Normalmente, durante a semana, não janto fora, vou directo para casa. Gosto de uma vida relativamente pacata e discreta.Como é que ocupa os seus tempos livres?Jogo ténis duas a três vezes por semana. Quando e como é que começou a praticar ténis?Vivíamos perto do Clube de Ténis do Estoril e a minha mãe fez-me sócio. Tinha para aí 7 anos e fui contagiado pelo entusiasmo de um professor húngaro, que veio para o Estoril durante a Segunda Guerra Mundial. Sou sócio do Ténis do Estoril há 45 anos.Chegou a ser campeão de pares, com o João Lagos…Em veteranos, mas já antes o tinha sido em juniores e também o fui, várias vezes, em equipa, pelo Estoril. Não joguei mal e posso dizer que ainda jogo o suficiente para me divertir. O meu problema são os joelhos.Porquê?Não tenho qualquer ligamento cruzado nem meniscos. Foi uma opção de vida que fiz aos 40, após uma lesão grave, a jogar ténis. Ou estava seis meses sem jogar ou, pura e simplesmente, retirava os meniscos. Foi o que fiz, apesar do maior risco de artroses. Além do ténis, também gosta de nadar…Todos os fins-de-semana, seja Inverno ou Verão, vou nadar cerca de 20 minutos à Praia da Conceição, em Cascais. Nado há uns cinco anos e, desde então, nunca mais me constipei. Também tomo sempre banho de água fria, o que confere uma certa vitalidade. Este seu interesse pelo desporto é quase uma herança familiar, uma vez que foi o seu bisavô Pinto Basto o responsável pela introdução, em Portugal, tanto do ténis como do futebol…Foi o primeiro presidente da Federação Portuguesa de Ténis e o primeiro presidente da Federação Portuguesa de Futebol. Eu sou fã do desporto em geral. Por exemplo, não jogo mas adoro ver golfe, como gosto de ver râguebi. Ou vela. Acho interessantíssimo um bom jogo de vólei…Que outros prazeres tem, além do desporto?Gosto muito da mesa… Sou um bom gastrónomo, apaixonado por vinho tinto, que é a única bebida alcoólica que consumo… Gosto de comida francesa, espanhola, italiana e, claro, dos pratos tradicionais portugueses. Das coisas mais simples às mais elaboradas.E sou uma pessoa de rituais. Vou quase sempre aos mesmos restaurantes. Em Lisboa, frequento a Charcutaria e, em Cascais, o Albatroz, o Visconde da Luz e o Beira Mar. Também gosto muito de jardins, que foi algo que aprendi com o meu pai. Ainda hoje, tanto na minha casa, na Malveira, como na do Algarve, esforço-me por ter os jardins bem tratados. Gosto de ordem e de disciplina – até aqui na empresa estou sempre a chatear as pessoas para terem as secretárias arrumadas. Tem também o vício dos charutos e das gravatas…Desde que deixei os cigarros, há mais de 20 anos, que fumo charuto. Robustos? uns quatro por semana. Quanto às gravatas, tenho muitas, mas não digo quantas…O total chega aos três dígitos?Sim, posso dizer que sim.Tem, também, fama de consumista…Sou, na verdade, um consumidor compulsivo. Sou capaz de entrar numa loja e, em vez de comprar uma camisa, compro quatro ou cinco. Qual foi a última compra compulsiva que fez?Antes de ir de férias. Ia comprar uns calções de banho e trouxe três.Também gosta de ler…Sim, leio revistas e, quando tenho tempo, gosto de ler um bom livro.O que é para si um bom livro?Um livro que distraia a mente. Tenho dois autores de que gosto muito, o Sidney Shelton e o John Grisham.E música, ouve?Sou um apaixonado do Rui Veloso e da Mariza, de música brasileira e adorava o Frank Sinatra. Mais recentemente, descobri o Rod Stewart e também fiquei fã.Já se assumiu várias vezes como católico. Mas é praticante?Dado que sou um homem de rituais, vou quase sempre à missa das oito da manhã, ao domingo, em Santo António do Estoril. É aí que está o padre Dâmaso, grande amigo da família, com quem me encontro sempre que preciso de falar com alguém.Outro conselheiro é o seu tio Guilherme Pinto Basto…Tem sido um dos grandes parceiros da minha vida. Continua a ser uma grande companhia, com quem falo regularmente sobre a minha vida e tudo o que me acontece. É uma pessoa extremamente culta e tem sido um grande conselheiro, ao longo dos tempos. Tanto a nível profissional como pessoal.Quanto tempo do seu dia é que dedica ao Sporting?Ao contrário do que se pode pensar, o Sporting não me retira muito tempo. Hoje, tenho quatro grandes braços-direitos no Sporting: o dr. Miguel Ribeiro Telles no futebol, o eng. Nobre Guedes, na gestão, o Mário Patrício e o professor Moniz Pereira, nas modalidades. Está longe de ser um trabalho intenso. Gasto pouco mais de uma hora por dia com o clube.A maior parte do seu tempo é, portanto, passada na OPCA. Foi difícil convencer os accionistas a mudarem-se para o edifício Visconde de Alvalade, junto ao Estádio?Não, foi facílimo.A decisão foi sua?Foi uma oportunidade que apareceu e foi aproveitada. A OPCA estava dispersa e fazia parte do meu programa reunir as pessoas todas num mesmo centro, em espaço aberto, de modo a que se conhecessem e sentissem a empresa. Isso coincidiu com o Sporting ter neste edifício alguns andares disponíveis. Conseguiu, ainda assim, concentrar toda a sua vida profissional à volta do Sporting…O que me facilita muito a vida, confesso…Não está a planear vir viver para aqui?Não, isso não… Vindo às seis da manhã não é necessário…Alguma vez lhe passou pela cabeça que viria a ser presidente do Sporting?Sempre disse a mim próprio que gostaria de ser, um dia, presidente do Sporting. Mas, depois de estar dentro do clube, achei que nunca o viria a ser. Conheci melhor o clube por dentro e tenho a certeza de que se não fosse o caso fortuito da demissão do dr. Dias da Cunha, nunca me teria candidatado. O que é que havia de tão mau no Sporting?Não havia nada de mau. Era mais uma questão de organização e de motivação. Era necessário fazer uma campanha. E eu não estava totalmente disposto a fazê-la. Mas acabei por herdar uma situação e senti que tinha a obrigação de continuar.Como é que lidou com as fortes críticas do antigo presidente Dias da Cunha, a respeito do projecto de venda de património?Com total naturalidade. Tive sempre o cuidado de não reagir a essas críticas. Porque não as entendo e porque o tempo veio provar que a razão estava do lado de quem optou pela venda do património. As taxas de juro têm subido imenso e o que isso onerava este património teria sido catastrófico para o clube.Já disse que gostaria que o Paulo Bento ficasse muito tempo no Sporting, a exemplo do Alex Ferguson, em Manchester…… No futebol, para haver estabilidade, também é necessário haver sorte. E é preciso que haja vontade das duas partes. Enquanto for presidente do Sporting, se ele gostar de estar cá e se sentir realizado, gostaria muito que continuasse. Estou satisfeito não só com o Paulo Bento, como com toda a estrutura técnica – e não só do futebol. O Sporting tem excelentes quadros, muito embora esteja hoje sobredimensionado. Estamos a trabalhar na reorganização de toda a estrutura.O Sporting tem cerca de 5 mil praticantes, em 20 modalidades. Este eclectismo é para continuar?Sim, mas temos de reconhecer que a maioria dos praticantes situa-se em apenas duas sou três modalidades, como a natação, o atletismo e a ginástica. Tenho pena de que não exista ciclismo no Sporting. Mas não podemos ter modalidades que não sejam equilibradas. O futsal e o andebol ainda são deficitários e, depois, há o atletismo, que é impossível de equilibrar, devido à falta de patrocínios.O atletismo faz parte desse pacote de racionalização de que falou há pouco?Não.Por onde é que passará a reorganização da estrutura do clube?Pelos recursos humanos do Sporting.O Sporting tem cerca de 60 mil sócios e já disse que uma das prioridades do seu mandato era chegar aos 100 mil. Como é que vai fazer isso?Vamos lançar, em Outubro, um novo cartão de sócio, que incluirá uma série de benefícios, através de parcerias estratégicas com outras empresas. Em paralelo, haverá uma campanha que penso estar muito bem conseguida, à semelhança, aliás, do que aconteceu com a campanha das Gamebox, com o anúncio do Paulo Bento na Internet, que é um exemplo do grau de profissionalismo que o Sporting atingiu a este nível.Como vão as relações com os seus homólogos de Benfica e FC Porto?Não existe razão para haver qualquer tipo de truculência. Somos adversários mas não temos de ser inimigos. Conheço as pessoas e tenho consideração e respeito por elas. Temos relações institucionais cordiais, mas não me vejo no futebol a fazer amigos aos 54 anos. Os meus amigos são os que fiz ao longo da vida. É também por essa razão que mantém uma relação distante com os jogadores?É um facto que não tenho muita intimidade com os jogadores. Gosto deles, mas são pessoas de outra geração. Respeito-os, conheço-os e isso é o suficiente…Mas costuma ir ao balneário, antes e depois dos jogos. É mais um ritual que gosta de cumprir?Não, é apenas para o plantel e a equipa técnica saberem que estou com eles. Vou-lhes desejar sorte, embora, muitas vezes, só os cumprimente, não lhes diga mais nada.Tem outras ambições no futebol, como presidir à Federação Portuguesa, por exemplo?Não. Quando deixar de ser presidente do Sporting, termina também o meu serviço ao futebol português.Tem algum prazo para sair do Sporting?Sim, e não é longo. Não tenciono ser presidente por muitos mais anos.Porquê?Acho importante dar o lugar a outros e também quero gozar a vida.Mas disse que o Sporting não lhe ocupava muito tempo…Profissionalmente, não, mas, a nível pessoal, sim. Desde que entrei para o clube que praticamente não tenho fins-de-semana, devido às deslocações da equipa. E não é só o tempo, é também o desgaste. Nunca se tem verdadeiramente férias, são as contratações no defeso, a época que começa?Falta-lhe, então, tempo para ser adepto?Exactamente. Não quero dizer que não goste de ser presidente, mas há um tempo para tudo e há muitas outras coisas que quero fazer na vida.Que mais lhe apetece fazer?Tenho algumas viagens por realizar. Este ano vou ao Peru, que é um sonho antigo, e sinto também um grande fascínio pela Austrália e pela Nova Zelândia. E, depois, tenho a loucura de África. Não sou caçador, sou incapaz de dar um tiro, mas adoro África. Gosto de ir para lá e ficar na selva, durante dias seguidos, a viver a natureza, a ver os animais e a apreciar o pôr do Sol, que é uma coisa lindíssima, em África.Que países africanos conhece?A Namíbia, o Quénia e sou apaixonado pelo Botswana, onde já fui várias vezes. Em Setembro de 2008, vou voltar lá.
‘Sou um homem de rituais’
‘Sou um homem de rituais’
O Sporting é, assumidamente, um projecto de curto prazo. Aos 54 anos, admite ter menos energia que antes e pretende, agora, "gozar a vida". E já tem África no horizonte