O clima de Guerra Fria imposto por Washington e Moscovo na segunda metade do século passado terminou há 30 anos. Uma das realidades que mudaram com esse desanuviar das relações políticas e diplomáticas foi a de que as grandes competições desportivas, nomeadamente a mais universal de todas – os Jogos Olímpicos –, deixaram de ser utilizadas como arma de arremesso entre os dois blocos, algo que ficou particularmente patente nas Olimpíadas de Verão de 1980 e 1984, realizadas, respetivamente, em Moscovo e Los Angeles. Contudo, esta realidade parece estar de volta em 2022. Invocando as violações dos Direitos Humanos cometidas pelo governo chinês contra as populações uigures, cazaques e outras minorias muçulmanas em Xinjiang, a Casa Branca anunciou, no início de dezembro, um boicote diplomático aos Jogos Olímpicos de Inverno, que decorrem entre 4 e 20 de fevereiro, em Pequim. Atrás da decisão de Washington vieram outras iguais da Austrália, Nova Zelândia, Canadá, Reino Unido e Lituânia – o único país da União Europeia a fazê-lo. Ainda que este bloqueio agora anunciado diga respeito apenas à ausência de altos funcionários governamentais e diplomáticos e não implique a proibição de participação de atletas, a verdade é que não deixa de ser uma decisão com fortes implicações políticas.
Pequim garante que todos os países que decidirem aderir ao boicote “vão pagar um preço por estes atos equivocados”
Em resposta à “mensagem clara” que os EUA pretendem transmitir contra o que consideram “um genocídio e crimes contra a Humanidade”, Pequim diz que a decisão anunciada, a 6 de dezembro, pela administração Biden apenas demonstra a “sua mentalidade ao estilo da Guerra Fria e a intenção de politizar o desporto, criar divisões e provocar conflitos”. O governo chinês ameaça “tomar todas as medidas necessárias, com firmeza”, garantindo que este boicote poderá provocar “danos” ao diálogo bilateral e na cooperação entre os dois países em “áreas importantes”. Pequim garantiu mesmo que todos os países que decidirem aderir ao boicote “vão pagar um preço por estes atos equivocados”.