Gary Lineker sempre mostrou ser mais do que um fantástico jogador de futebol e, acima de tudo, um goleador de eleição, que brilhou ao serviço do Leicester, Everton, Barcelona e Tottenham, nas décadas de 1980 e 1990. Nas conferências de imprensa, antes e depois dos jogos, o discurso ia sempre muito para lá do habitual “o futebol é assim mesmo”, “o nosso foco é o próximo jogo” ou o “agora há que levantar a cabeça e continuar a trabalhar”. Se não fosse uma frase tão irritante também, podíamos dizer que, já nessa altura, era um jogador “que pensava fora da caixa”. Mas era. Aliás, é dele uma das mais famosas tiradas que ainda hoje se repetem à exaustão. Sim, essa: “o futebol é um jogo simples, com 11 de cada lado atrás de uma bola durante 90 minutos e, no fim, ganham os alemães”. O que poucos se lembrarão é que Lineker a disse depois de perder a meia-final do Mundial de 1990 por 1-0, frente aos… Esses, mesmos.
Fã incondicional do Leicester, clube da cidade onde nasceu, há 55 anos, e onde se estreou como profissional, Gary Winston Lineker, não perde agora uma oportunidade para uma boa piada ou uma provocação no twitter, a sua rede social de eleição e onde, basta seguir-lhe o rasto, está permanentemente ativo. No dia da morte de João Havelange, o ‘quase-eterno’ presidente da FIFA, Lineker deixou uma mensagem: “o futebol deu-lhe muito. Sim, leram bem”, numa alusão aos escândalos de corrupção em que o brasileiro esteve envolvido em mais de 24 anos à frente do organismo máximo do futebol. À noite, Gary já estava nos estúdios da BBC a comentar o jogo entre o Steaua de Bucareste e o Manchester City para o programa que apresenta, o Match of the Day. Os ingleses venceram por 5-0 na Roménia e logo surgiu a provocação na interessante página oficial do clube inglês a perguntar a Gary se trazia vestidas umas cuecas azuis claras, a cor do clube. A resposta não tardou: “Talvez, mas se vocês vencerem a Liga dos Campeões eu farei o primeiro jogo da próxima época apenas com…. Na verdade, nunca mais”.
Para compreender a piada é preciso recuar a outra promessa que Gary Lineker havia feito na época futebolística passada, em que se comprometeu a apresentar o programa em cuecas, se o Leicester se sagrasse campeão. Os foxes ganharam mesmo a Premier League e Gary não falhou. Ou quase. No dia do programa lá estava ele, não de cuecas, mas apenas vestindo os calções com o emblema do clube.
Na lista de picardias mais engraçadas um dos alvos prediletos do ex-futebolista, é Piers Morgan, hoje conhecido por integrar o júri do programa Britain’s Got Talent, mas que também já foi editor de tablóides como o News of the World e Daily Mirror. Adepto fervoroso do Arsenal mas crítico do técnico Arsène Wenger, Piers Morgan não perde a oportunidade de mandar uma bicada na equipa. E Lineker provoca: “Pela segunda vez em apenas uma semana Aaron Ramsey (n.d.r. jogador do Arsenal) provou o que vale. Um golo esta noite e a recusa em apertar a mão de Piers Morgan”. Ou outra, já de novembro de 2013, a comentar o post de Morgan que se mostrava felicíssimo por ter encontrado o mágico e ilusionista Dynamo, nos bastidores de um espetáculo dos One Direction. “Ele não te consegue fazer desaparecer?”, atirou Lineker. Enfim, a lista desta troca de galhardetes é tão longa que o melhor é pesquisar mesmo na página do ex-futebolista.
Mas se Piers Morgan é um caso de longa data, Lineker está sempre atento à atualidade e não deixa de ir enviando umas farpas para onde está virado. Quando foi conhecida a transferência de N’Golo Kanté, do Leicester para o Chelsea, no mês passado, fez um trocadilho com o nome do jogador, do treinador da equipa londrina e outra palavra que talvez seja melhor não reproduzir aqui, muito menos traduzir.
E em matéria de insultos, até o central português Pepe já mereceu a atenção de Gary. Em junho, após o jogo frente à Islândia, no Euro 2016, chamou-lhe “um grande idiota”. Ou um pouco mais do que isso, vá, mas em calão.
Mas há outras histórias que Lineker só revelou alguns anos após ter terminado a carreira. Como aquela vez, contou ele em entrevista à BBC Radio, que, na estreia no Mundial de Itália, em 1990, se sentiu mal e acabou por aliviar os intestinos em pleno relvado. “Tentei fazer um carrinho, estiquei-me todo e então relaxei o corpo” disse. O peso extra ficou nos calções, ainda que Lineker tivesse aproveitado a chuva para se arrastar um pouco pelo relvado e disfarçar a coisa. Ainda assim, admite que foi nojento mas, garante, “nunca tive tanto espaço à minha volta numa partida de futebol como naquele dia”. Pudera.
Quem diria que aquele tipo certinho, que nunca viu um único cartão amarelo em mais de 500 jogos ao longo de 16 anos de carreira futebolística, afinal só estava à espera de deixar os relvados e já não aparecer nas cadernetas para se relevar um verdadeiro cromo.