Horas antes, a Tocha Olímpica tinha cruzado a Baía de Guanabara numa embarcação da marinha brasileira. Pouco depois, passou para as mãos do presidente da Câmara Municipal do Rio de Janeiro ao som de Cidade Maravilhosa, a música que se tornou hino, uma marcha composta para o Carnaval de 1935.
Mas a partir daí, foram só sobressaltos. À passagem pela Baixada Fluminense, região do Rio que concentra grande parte da população, foi recebida sob fortes medidas de segurança e muitos protestos: a polícia chegou mesmo a recorrer a gás lacrimogéneo e a balas de borracha para dispersar a multidão.
Os manifestantes, na sua maioria professores, protestavam contra o pagamento faseado do salário, medida imposta pelo governo, mas também contra o aumento do custo de vida e contra a situação política no país. O momento alto foi quando o músico Tarcísio Gomes, que transportava a tocha, furou o protocolo para protestar, contra o presidente interino – e baixou os calções, exibindo nas nádegas a expressão “Fora [Michel] Temer”.
Depois de percorrer o Rio, a Tocha entra esta sexta-feira no estádio do Maracanã, onde se acenderá a Pira Olímpica, dando início à cerimónia de abertura dos Jogos.
A força de um símbolo
A Tocha Olímpica é um dos símbolos dos Jogos Olímpicos e evoca a lenda de Prometeu, que teria roubado o fogo de Zeus para o entregar aos mortais. Durante a celebração dos Jogos em Olímpia, na antiguidade, mantinha-se aceso um fogo que ardia enquanto durassem as competições.
A tradição foi reintroduzida nos Jogos de 1928. Em 1936, uma primeira estafeta de atletas transportou a tocha pela primeira vez desde as ruina do templo em Olímpia até ao estádio de Berlim. A partir daí tornou-se um ritual original e cheio de espetacularidade a cada edição: 1992, o arqueiro Antonio Rebollo acertou na Pira Olímpica com uma flecha a arder; dois anos mais tarde, em Lillehamer, chegou transportada por um saltador de esqui; em Pequim 2008, foi levada pelo ginasta Li Ning, que, suspenso por cabos, deu uma volta sobre o teto do estádio.